Os humanos mataram os seus primos 'Hobbits'?
Em 2003, o homo floresiensis entrou para a família das espécies de antigos hominídeos, e a sua baixa estatura levou a que fosse rapidamente alcunhado o Hobbit, em nome dos pequenos personagens criados por J. R. R. Tolkien. Mas a descoberta que fascinou cientistas de todo o mundo trata-se afinal de uma história muito diferente, que pode mesmo envolver um encontro mortífero com o homem moderno, segundo um novo estudo científico publicado esta semana.
Grande parte do fascínio pelo homo floresiensis prendia-se com a datação dos fósseis. Estes primos dos humanos modernos pareciam ser bastante mais recentes do que outras espécies, sendo que alguns dos fósseis encontrados datavam de há 12 mil anos atrás - para comparação, o homem de Neandertal, por exemplo, ficou extinto há cerca de 29 mil anos. Isto indicaria que os pequenos homo floresiensis teriam tido milhares de anos de contacto com o homem moderno, o homo sapiens.
Desde 2003, os cientistas têm-se debruçado sobre o homo floriesiensis, para tentar perceber há quando tempo terão existido e se realmente coexistiram com o homem moderno, o homo sapiens. E as conclusões contrariam em muito os resultados iniciais. "É um exemplo ótimo do processo científico em ação", conta o investigador Matt Tocheri, da Universidade de Lakehead, ao Washington Post.
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O estudo coassinado por Tocheri, publicado esta quarta-feira na revista científica Nature (este link abre um PDF), mostra que, afinal, o homo floresiensis não será tão recente como os dados iniciais mostravam: os fósseis encontrados na caverna na ilha de Flores, na Indonésia, não tinham 12 mil anos, mas sim 60 mil. E estudando melhor os dados, os investigadores perceberam que a caverna tinha sido usada por esta espécie até há cerca de 50 mil anos, quando o homo sapiens surgiu nesta região do globo.
É esta coincidência da extinção do homo floresiensis e da chegada do homo sapiens à Indonésia que deixa os cientistas desconfiados. Tocheri disse ao Washington Post: "A sobreposição aponta para a possibilidade de que a nossa espécie possa ter tido mão no seu desaparecimento". O investigador Richard Potts, que não participou no estudo, concordou, confrontado pelo jornal, que isso seria possível, mas sublinhou que não existem dados concretos que apontem nesse sentido.
A mudança na datação tem a ver com a idade dos sedimentos nos quais os fósseis tinham sido encontrados. "Descobrimos que tinha havido um período de erosão que tinha arrastado muitos dos depósitos" originais de sedimentos na parede onde tinham sido encontrados os fósseis considerados mais recentes, afirmou Tocheri. "Nos últimos 20 mil anos, tinham-se acumulado novos sedimentos. Não é que as datas estivessem incorretas, mas não se aplicam aos fósseis".
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