Paris marcou, em 2016, uma espécie de catarse para Novak Djokovic. A vitória em Roland-Garros, há tantos anos perseguida pelo tenista sérvio, permitiu-lhe completar por fim o tão ambicionado Grand Slam de carreira, que consiste em ganhar os quatro torneios major do calendário (Open da Austrália, Roland-Garros, Wimbledon e US Open)..A descompressão que se seguiu foi um dos casos mais raros do desporto mundial, com Djokovic a entrar numa espiral descendente que envolveu a perda do estatuto de n.º 1 mundial, várias trocas de treinadores, desmotivação, outras prioridades, uma polémica ligação a um guru espiritual espanhol e até uma lesão que o obrigou a ser operado ao cotovelo..Em junho passado, Novak Djokovic entrou de novo em Roland-Garros como o 22.º jogador do ranking ATP, o seu ponto mais baixo dos últimos doze anos. Quatro meses depois, no entanto, o sérvio está de volta a Paris e ao topo do ténis mundial, após uma recuperação tão rara quanto a queda que a antecedera..A desistência do espanhol Rafael Nadal no Masters 1000 da capital francesa, nesta quarta-feira, com dores abdominais, oficializou a subida que já se perspetivava, com Djokovic a concretizar um feito histórico. Nunca na existência do ATP, desde 1973, algum atleta conseguiu recuperar tantos lugares até ao n.º 1 do mundo numa só temporada. O sérvio fê-lo agora, com o português João Sousa como último obstáculo ultrapassado neste regresso ao topo..Nadal apenas acelerou o processo. Com pouco mais de 200 pontos a separar os dois tenistas na hierarquia mundial à entrada para estes Masters 1000, a perspetiva de que Djokovic pudesse sair de Paris de novo como n.º 1, dois anos depois de ter perdido esse estatuto, já era bastante forte..O sérvio não tinha pontos a defender nos últimos torneios da temporada - este e as Finais ATP de Londres, na próxima semana - devido a ter estado ausente dos mesmos no final da época passada, por causa da lesão no cotovelo. E bastava-lhe em Paris ganhar um torneio do qual é recordista (quatro vitórias), ou então avançar uma ronda mais do que Nadal, que nunca venceu a prova do piso rápido indoor de Bercy. A desistência do espanhol, que não compete desde o US Open, há dois meses, antecipou o cenário..A reunião com Marian Vajda.O regresso de Djokovic à liderança do ranking mundial pontua uma segunda metade de época excecional para o sérvio, cuja reabilitação se iniciou com um regresso à parceria com o técnico que o levara ao sucesso anteriormente. Em abril deste ano, farto da espiral de insucessos que se agudizara com eliminações precoces no Open da Austrália e nas primeiras rondas de Indian Wells e Miami - com uma operação ao cotovelo pelo meio -, "Djoko" voltou a recorrer aos serviços de Marian Vajda, seu treinador e mentor de longa data, do qual se tinha separado um ano antes, no meio do caos em que se deixara cair..Depois da perda do número 1 mundial, no final de 2016, Djokovic rompeu ligação com o alemão Boris Becker, cortou laços também com Vajda e outros elementos do staff técnico, reforçou a proximidade ao guru espiritual espanhol Pepe Imaz - apontada por muitos como a razão para o descalabro competitivo do sérvio nessa fase -, e experimentou trabalhar com os ex-tenistas Radek Stepanek e Andre Agassi. Mas só o regresso a Marian Vajda o tirou da espiral de maus resultados em que mergulhara..Após uma eliminação nos quartos-de-final em Roland-Garros, às mãos do outsider italiano Marco Cecchinato, Djokovic encetou o seu ressurgimento, que incluiu vitórias nos dois últimos torneios de Grand Slam do ano, em Wimbledon e no US Open (elevando para 14 o número de conquistas em majors), 28 das últimas 29 partidas ganhas, uma série que vai atualmente em 19 triunfos consecutivos e 28 sets sem derrota. Pelo meio, em agosto, tornou-se ainda o primeiro jogador da história a completar o Golden Slam, colecionando em Cincinnati o único dos nove torneios Masters 1000 que ainda lhe escapava.."O que ele fez na segunda metade da temporada é incrível", comentou Paul Annacone, um antigo treinador de nomes como Pete Sampras e Roger Federer, ao jornal The New York Times. Para o técnico e atual comentador, a história de redenção de Djokovic é "incrível, nos dois sentidos". "Primeiro, é espantoso como alguém tão bom caiu da forma como caiu. Depois, é também espantosa a forma como conseguiu esta recuperação", disse Annacone.."Armas" recuperadas e alimentação reforçada."Quando me voltei a reunir com o meu treinador, estabelecemos um plano. O pico de forma era suposto ter chegado por volta do US Open, ma a verdade é que chegou ainda mais cedo. Estamos muito, muito satisfeitos com aquilo que conquistámos nos últimos quatro, cinco meses", considerava Djokovic à chegada a este Masters 1000 de Paris, ainda antes de defrontar João Sousa e de ver Nadal "oferecer-lhe" o regresso à liderança mundial.."Penso que estou a jogar quase ao meu melhor nível neste momento. Sinto que ainda posso melhorar, mas penso que já estou num nível muito alto", acrescentou o sérvio, que voltou a recuperar as principais armas do seu jogo, desde o serviço à (sobretudo) demolidora resposta aos serviços dos adversários..Além dos aspetos técnicos, Vajda terá também exigido menor interferência do espanhol Pepe Imaz e mexeu com a alimentação do vegetariano Djokovic. "Ele tem o corpo perfeito para jogar ténis, mas os músculos precisavam de ser fortalecidos. A sua alimentação é vegetariana, mas precisava de alguma proteína animal. Sem ela era impossível competir ao melhor nível. Obriguei-o a comer algum peixe, porque carne ele não come mesmo", explicou o técnico por alturas do US Open..E agora, n.º 1 até quando?.Aos 31 anos, o tenista que cresceu a idolatrar Pete Sampras e a sonhar em imitar as vitórias do norte-americano ao mesmo tempo que tinha de se proteger das bombas em Belgrado, numa ex-Jugoslávia em guerra, volta na próxima segunda-feira ao lugar mais alto do ranking mundial do ténis, pela 224.ª semana na carreira. Ele que, da última vez em que lá esteve, o segurou durante 122 semanas consecutivas, até cair em esgotamento..Quanto resistirá desta vez é a interrogação que se segue. Se o fizer durante mais 87 semanas, superará o recorde absoluto de Roger Federer, que foi n.º 1 do mundo durante 310 semanas. Conseguirá manter a motivação até lá? Para já, é praticamente certo que termina o ano no topo, pela quinta vez, depois de o ter feito em 2011, 2012, 2014 e 2015. O melhor Nole está de volta.
Paris marcou, em 2016, uma espécie de catarse para Novak Djokovic. A vitória em Roland-Garros, há tantos anos perseguida pelo tenista sérvio, permitiu-lhe completar por fim o tão ambicionado Grand Slam de carreira, que consiste em ganhar os quatro torneios major do calendário (Open da Austrália, Roland-Garros, Wimbledon e US Open)..A descompressão que se seguiu foi um dos casos mais raros do desporto mundial, com Djokovic a entrar numa espiral descendente que envolveu a perda do estatuto de n.º 1 mundial, várias trocas de treinadores, desmotivação, outras prioridades, uma polémica ligação a um guru espiritual espanhol e até uma lesão que o obrigou a ser operado ao cotovelo..Em junho passado, Novak Djokovic entrou de novo em Roland-Garros como o 22.º jogador do ranking ATP, o seu ponto mais baixo dos últimos doze anos. Quatro meses depois, no entanto, o sérvio está de volta a Paris e ao topo do ténis mundial, após uma recuperação tão rara quanto a queda que a antecedera..A desistência do espanhol Rafael Nadal no Masters 1000 da capital francesa, nesta quarta-feira, com dores abdominais, oficializou a subida que já se perspetivava, com Djokovic a concretizar um feito histórico. Nunca na existência do ATP, desde 1973, algum atleta conseguiu recuperar tantos lugares até ao n.º 1 do mundo numa só temporada. O sérvio fê-lo agora, com o português João Sousa como último obstáculo ultrapassado neste regresso ao topo..Nadal apenas acelerou o processo. Com pouco mais de 200 pontos a separar os dois tenistas na hierarquia mundial à entrada para estes Masters 1000, a perspetiva de que Djokovic pudesse sair de Paris de novo como n.º 1, dois anos depois de ter perdido esse estatuto, já era bastante forte..O sérvio não tinha pontos a defender nos últimos torneios da temporada - este e as Finais ATP de Londres, na próxima semana - devido a ter estado ausente dos mesmos no final da época passada, por causa da lesão no cotovelo. E bastava-lhe em Paris ganhar um torneio do qual é recordista (quatro vitórias), ou então avançar uma ronda mais do que Nadal, que nunca venceu a prova do piso rápido indoor de Bercy. A desistência do espanhol, que não compete desde o US Open, há dois meses, antecipou o cenário..A reunião com Marian Vajda.O regresso de Djokovic à liderança do ranking mundial pontua uma segunda metade de época excecional para o sérvio, cuja reabilitação se iniciou com um regresso à parceria com o técnico que o levara ao sucesso anteriormente. Em abril deste ano, farto da espiral de insucessos que se agudizara com eliminações precoces no Open da Austrália e nas primeiras rondas de Indian Wells e Miami - com uma operação ao cotovelo pelo meio -, "Djoko" voltou a recorrer aos serviços de Marian Vajda, seu treinador e mentor de longa data, do qual se tinha separado um ano antes, no meio do caos em que se deixara cair..Depois da perda do número 1 mundial, no final de 2016, Djokovic rompeu ligação com o alemão Boris Becker, cortou laços também com Vajda e outros elementos do staff técnico, reforçou a proximidade ao guru espiritual espanhol Pepe Imaz - apontada por muitos como a razão para o descalabro competitivo do sérvio nessa fase -, e experimentou trabalhar com os ex-tenistas Radek Stepanek e Andre Agassi. Mas só o regresso a Marian Vajda o tirou da espiral de maus resultados em que mergulhara..Após uma eliminação nos quartos-de-final em Roland-Garros, às mãos do outsider italiano Marco Cecchinato, Djokovic encetou o seu ressurgimento, que incluiu vitórias nos dois últimos torneios de Grand Slam do ano, em Wimbledon e no US Open (elevando para 14 o número de conquistas em majors), 28 das últimas 29 partidas ganhas, uma série que vai atualmente em 19 triunfos consecutivos e 28 sets sem derrota. Pelo meio, em agosto, tornou-se ainda o primeiro jogador da história a completar o Golden Slam, colecionando em Cincinnati o único dos nove torneios Masters 1000 que ainda lhe escapava.."O que ele fez na segunda metade da temporada é incrível", comentou Paul Annacone, um antigo treinador de nomes como Pete Sampras e Roger Federer, ao jornal The New York Times. Para o técnico e atual comentador, a história de redenção de Djokovic é "incrível, nos dois sentidos". "Primeiro, é espantoso como alguém tão bom caiu da forma como caiu. Depois, é também espantosa a forma como conseguiu esta recuperação", disse Annacone.."Armas" recuperadas e alimentação reforçada."Quando me voltei a reunir com o meu treinador, estabelecemos um plano. O pico de forma era suposto ter chegado por volta do US Open, ma a verdade é que chegou ainda mais cedo. Estamos muito, muito satisfeitos com aquilo que conquistámos nos últimos quatro, cinco meses", considerava Djokovic à chegada a este Masters 1000 de Paris, ainda antes de defrontar João Sousa e de ver Nadal "oferecer-lhe" o regresso à liderança mundial.."Penso que estou a jogar quase ao meu melhor nível neste momento. Sinto que ainda posso melhorar, mas penso que já estou num nível muito alto", acrescentou o sérvio, que voltou a recuperar as principais armas do seu jogo, desde o serviço à (sobretudo) demolidora resposta aos serviços dos adversários..Além dos aspetos técnicos, Vajda terá também exigido menor interferência do espanhol Pepe Imaz e mexeu com a alimentação do vegetariano Djokovic. "Ele tem o corpo perfeito para jogar ténis, mas os músculos precisavam de ser fortalecidos. A sua alimentação é vegetariana, mas precisava de alguma proteína animal. Sem ela era impossível competir ao melhor nível. Obriguei-o a comer algum peixe, porque carne ele não come mesmo", explicou o técnico por alturas do US Open..E agora, n.º 1 até quando?.Aos 31 anos, o tenista que cresceu a idolatrar Pete Sampras e a sonhar em imitar as vitórias do norte-americano ao mesmo tempo que tinha de se proteger das bombas em Belgrado, numa ex-Jugoslávia em guerra, volta na próxima segunda-feira ao lugar mais alto do ranking mundial do ténis, pela 224.ª semana na carreira. Ele que, da última vez em que lá esteve, o segurou durante 122 semanas consecutivas, até cair em esgotamento..Quanto resistirá desta vez é a interrogação que se segue. Se o fizer durante mais 87 semanas, superará o recorde absoluto de Roger Federer, que foi n.º 1 do mundo durante 310 semanas. Conseguirá manter a motivação até lá? Para já, é praticamente certo que termina o ano no topo, pela quinta vez, depois de o ter feito em 2011, 2012, 2014 e 2015. O melhor Nole está de volta.