Nova rival de Guterres à ONU evita assumir compromissos, mesmo sobre as mulheres

Kristalina Georgieva, candidata a secretário-geral da ONU, preenche os critérios de género e de ser da Europa de Leste.
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A muito aguardada audição pública da búlgara Kristalina Georgieva na Assembleia Geral das Nações Unidas mostrou uma candidata ao cargo de secretário-geral que não assumiu compromissos, disseram observadores ouvidos pelo DN.

Enfatisando as questões financeiras, ao dizer que a ONU deve demonstrar um uso eficiente dos fundos e que será "uma campeã" em procurar verbas junto dos governos e do setor privado, Kristalina Georgieva respondeu ontem "com generalidades", sublinhou a professora universitária e especialista em Nações Unidas Mónica Ferro.

O papel das mulheres e os conflitos no Médio Oriente e Ucrânia foram três exemplos de questões a que a vice-presidente da Comissão Europeia e 13ª candidata à sucessão do sul-coreano Ban Ki-moon evitou responder de forma concreta.

"Não fez a diferença" nem mostrou "nada que justifique o aparecimento extemporâneo" da sua candidatura, observou o embaixador António Monteiro, ex-representante permanente de Portugal na ONU. "Vamos ver como se reflete" a sua intervenção nos votos de amanhã do Conselho de Segurança, onde pela primeira vez os membros permanentes dão a conhecer que candidatos vetam, adiantou o diplomata, que durante um ano presidiu ao Conselho de Segurança. "Convém ler com atenção o que vai acontecer" amanhã, frisou António Monteiro, que se mantém "muito confiante na votação do candidato [António Guterres] que já fez a diferença" ao vencer as cinco votações informais (ver caixa).

Sobre o papel das mulheres e perante uma Assembleia Geral onde um terço dos 193 Estados membros se mostrou favorável à eleição de uma candidata para o topo da septuagenária organização até agora liderada por oito homens, Kristalina Georgieva limitou-se a dizer que "duplicou o número" de mulheres nos cargos de topo quando exerceu cargos no Banco Mundial e na UE.

Mas o português António Guterres, lembrou Mónica Ferro, "comprometeu-se com a paridade nas nomeações que fizer e estabeleceu metas". Houve mesmo um candidato a dizer que a sua vice "iria ser mulher". Georgieva "não se compromete com nada" e isso está patente no próprio documento que a candidata publicou há dias com a sua visão sobre a ONU: "Tem apenas duas referências, uma sobre as mulheres no mercado de trabalho e outra sobre raparigas e mulheres vítimas de crimes sexuais", lamentou a antiga deputada do PSD.

"Não foi uma audição brilhante e tinha obrigação de o ser, pelo que foi dito sobre estar a preparar-se há dois anos... tinha obrigação de deslumbrar a Assembleia Geral e os observadores", insistiu Mónica Ferro.

Sobre a questão palestiniana, Georgieva - que reúne hoje, em privado, com o Conselho de Segurança - reconheceu que essa é uma "situação por resolver" e que isso decorre "da complexidade" dos problemas e não da "falta de esforços" dos oito secretários-gerais da ONU. Em relação à Ucrânia, limitou-se a invocar a relação de um seu familiar com uma ucraniana e a reconhecer "a complexidade do conflito" e a manifestar "esperança que as vidas sejam protegidas".

Aos jornalistas, a candidata explicou a oposição de países do Leste em receber refugiados com o terem "pouca experiência de viver com a diversidade", dado o seu passado atrás da Cortina de Ferro. Mas "temos de saber quem vem para a Europa", frisou, pois "temos sido complacentes em proteger as fronteiras externas" da União.

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