Nova manifestação em Argel contra o "sistema". "Libertem a Argélia"
Milhares de argelinos desceram esta sexta-feira às ruas, apesar da presença de um importante dispositivo policial, no decurso da 20.ª sexta-feira consecutiva de manifestações contra o poder, num período crucial após uma proposta para a saída da crise pelo presidente interino.
Os manifestantes, que ecoavam "Saiam, libertem a Argélia", forçaram um cordão policial com equipamento antimotim a alguns metros da Praça da Grande Poste, um edifício emblemático para as concentrações, e testemunhas citadas pela agência noticiosa AFP referiram-se a dezenas de detenções.
Ao som de hinos à glória dos mártires da guerra de independência (1954-1962, que assinala esta sexta-feira o 57.º aniversário), e ao agitarem bandeiras nacionais verdes e brancas com o símbolo do crescente vermelho, os argelinos responderam ao apelo lançado por diversas personalidades para fazer deste 5 de julho "a concretização da libertação do homem, após a libertação da pátria" do jugo colonial francês em 1962.
Após a demissão em 2 de abril do presidente Abdelaziz Bouteflika sob pressão da rua e da hierarquia militar, o movimento de contestação recusa que "sistema" que prevalece no poder organize as eleições presidenciais, e exige como condição prévia a saída de todos os antigos apoiantes de Bouteflika, que permaneceu 20 anos na presidência.
Na quarta-feira, e ao dirigir-se ao campo opositor, o presidente interino Abdelkader Bensalah propôs a criação de uma instância de diálogo para organizar as presidenciais e prometeu que o Estado e os militares ficarão à margem do processo.
"Ou serão vós, ou seremos nós", e ainda "não à eleição bando de mafiosos", foram frases gritadas pelas manifestantes, numa nova rejeição do roteiro proposto pelo poder, acusado de estar a reformular as mesmas propostas.
Um primeiro apelo ao diálogo, emitido no início de junho por Bensalah e limitado à classe política, também foi recusado pelo campo da contestação. A eleição presidencial, prevista para 4 de julho e rejeitada pelos manifestantes, foi anulada por ausência de candidatos credíveis
O prazo de 90 dias previsto na Constituição para o exercício do poder interino termina nos próximos dias, mas Bensallah já disse que permanecerá no seu cargo até à eleição de num novo presidente.
No entanto, assinalam observadores, o novo apelo arrisca-se a ser rejeitado "caso as autoridades não se apressem a anunciar medidas concertas de apaziguamento".
Partidos da oposição, sociedade civil e observadores aguardam a forma como será concretizada a mais recente proposta de Bensalah, pelo facto de ainda não ter sido anunciado qualquer nome para o diálogo.
O dia de hoje é ainda um teste para a contestação, que decorre em diversas regiões do país magrebino, após um apelo a manifestações "massivas" emitido pelo célebre advogado e defensor dos direitos humanos, Mustapha Bouchachi, e ainda pelo diplomata e ex-ministro Abdelaziz Rahabi, entre outras personalidades.
No sábado, os partidos políticos, representantes da sociedade civil e personalidades nacionais devem promover uma reunião designada "bases nacionais do diálogo".
A iniciativa "destina-se a promover os mecanismos para sair da crise e prosseguir, em prazos razoáveis, na organização" das presidenciais, declarou Rahabi.
Uma outra reivindicação da contestação reside no fim da detenção de manifestantes.
Apesar de o presidente interino ter assinalado o caráter pacífico do movimento e a "contenção das forças de segurança", as prisões de manifestantes, têm-se multiplicado as advertências emitidas pelo general Ahmed Gaïd Salah, chefe de estado-maior.
Na perspetiva do movimento de contestação, e de numerosos observadores, o presidente interino não é o efetivo detentor do poder, antes o general Gaïd Salah, que recusou as reivindicações da contestação.
A Amnistia Internacional (AI) apelou às autoridades para libertarem os manifestantes detidos e "respeitarem os direitos à liberdade de expressão, associação e reunião pacífica durante as concentrações".