Nova era para o império da Zara: Marta Ortega assumiu o comando
Marta Ortega assumiu esta sexta-feira as rédeas do Grupo Inditex, fundado pelo seu pai. A herdeira Ortega enfrenta um desafio imediato depois de o gigante da moda, que tem a marca Zara como cabeça de cartaz, fechar temporariamente lojas na Rússia, o seu segundo maior mercado.
A nomeação de Marta Ortega "entra em vigor hoje", confirmou um porta-voz da Inditex, descrevendo-a como uma transferência "discreta" para o grupo, que tem 174 000 funcionários e oito marcas, incluindo a Massimo Dutti, a Bershka e a Stradivarius.
A mais nova dos três filhos Ortega era responsável pelo design e lançamento de produtos em todas as marcas da Inditex antes de se tornar presidente, esta sexta-feira, substituindo Pablo Isla, que dirigia o grupo desde que o Amancio Ortega se reformou em 2011.
Como braço direito do fundador, Isla supervisionou a expansão internacional da Inditex na última década.
A promoção de Marta Ortega estava nos planos há vários anos, mas só foi anunciada no final de novembro como parte de uma reorganização projetada pelo seu pai, agora com 86 anos.
"Estamos a preparar-nos para esta transição há algum tempo", disse Pablo Isla na altura. "A Marta trabalha na empresa há 15 anos - ela conhece-a muito bem".
Descrita como uma figura discreta e reservada, Marta Ortega nasceu a 10 de janeiro de 1984, filha de Amancio Ortega e da sua segunda mulher Flora Perez. Cresceu na Corunha, na Galiza, noroeste de Espanha, com a sua meia-irmã Sandra e o seu meio-irmão Marcos.
Depois de frequentar um internato suíço e se formar em 2007 na European Business School em Londres, trabalhou brevemente numa loja da Zara na capital inglesa para "perceber como é que as coisas funcionam".
Apesar de nunca ter dito que era filha do dono da Inditex, as suas colegas disseram ao jornal El País que rapidamente perceberam depois de repararem no seu relógio Rolex.
"Na primeira semana, achei que não ia sobreviver", disse Marta Ortega ao The Wall Street Journal numa rara entrevista em agosto de 2021. "Mas depois fica meio obcecado com a loja. Algumas pessoas nunca querem ir embora"
Quando a sua promoção foi anunciada em novembro, causou alguma preocupação na comunidade empresarial, provocando uma queda no preço das ações da empresa, mas esses medos parecem ter evaporado.
Apesar de ela nunca ter tido um papel executivo na Inditex, ela está "bem preparada" e vai estar "rodeada por boas pessoas", disse Alfred Vernis, professor na ESADE business school em Espanha e antigo executivo da Inditex.
Quem vai trabalhar com Marta Ortega é Oscar Garcia Maceiras, que recentemente assumiu o cargo de presidente-executivo da Inditex, apenas um ano depois de entrar no grupo vindo do banco espanhol Santander. "Ele é quem vai tomar as decisões executivas", disse Vernis.
A mudança no topo acontece num momento crucial para a multinacional galega, que registou lucros recorde nos últimos anos, mas que agora enfrenta um dos seus momentos mais difíceis.
Avaliada em cerca de 62 mil milhões de euros, a Inditex quase triplicou os seus lucros no ano passado para 3,2 mil milhões de euros, no entanto, as suas perspetivas foram ofuscadas pela invasão russa da Ucrânia.
No início de março, a empresa suspendeu todas a atividade na Rússia, o seu maior mercado a seguir a Espanha, ao fechar 502 lojas e suspender todas as transações online. Isto pode ter um impacto significativo nos resultados da empresa, tendo em conta que o mercado da Rússia corresponde a quase 10% da sua percentagem de vendas.
"O ano financeiro atual promete ser muito complexo devido à exposição da Inditex na Rússia e no resto da Europa" e "ao aumento dos custos de produção" causados pela inflação recorde, disse o o banco Credit Suisse numa nota aos investidores.
Fundada em 1985 por Amancio Ortega, a Inditex também deve fortalecer a sua oferta online diante da forte concorrência de outras empresas. Acima de tudo, deve intensificar a sua "transição verde" para reduzir o seu enorme impacto ambiental. "Pablo Isla começou a fazer isso, mas não foi o suficiente", disse Vernis, indicando que um passo tão essencial poderia "custar" o futuro da empresa.