Nova era de Contador relegou Armstrong para lenda

O segundo triunfo no Tour mostra que o ciclismo passa a ter um novo ídolo: Alberto Contador. O espanhol relegou Lance Armstrong para a categoria de lenda viva. Atingir os patamares do norte-americano talvez seja difícil, mas o seu lema - "querer é poder" - pode torná-lo numa figura da história da modalidade.
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Para falar de ciclismo ao mais alto nível, o nome de Alberto Contador terá de surgir no topo da lista dos melhores executantes da modalidade, e como um digno sucessor da "Era Lance Armstrong", americano que esta década dominou o panorama velocipédico mundial.

Alberto Contador Velasco, espanhol de 26 anos, natural de Madrid, garantiu ontem a sua segunda vitória no Tour [Volta à França], a prova de ciclismo mais emblemática do planeta, provando num "mano a mano" com Lance Armstrong, seu companheiro de equipa na Astana, que o domínio da competição a nível mundial passa a ter sotaque castelhano.

Depois de em 2007 ter vencido a Volta à França, e em 2008 as voltas a Espanha e Itália, não tendo participado na prova francesa, por a sua equipa não ter sido convidada, Contador provou que esta nova vitória no Tour não foi um acaso, mas sim o confirmar do seu estatuto de mais forte ciclista do pelotão internacional, sendo apenas o quinto ciclista na historia a vencer estas três provas de referência.

Desde cedo, nas suas primeiras aventuras pela modalidade, influenciado pelo irmão mais velho, logo aos 15 anos, defendendo, como cadete, as cores do emblema madrileno Real Clube Vello Portillo, Alberto Contador mostrou aptidões como trepador, especialista nas provas da montanha, e especialista em contra relógios, tendo em 2003 sagrando--se campeão espanhol na categoria sub-23.

Começavam aí a abrir-se portas para o então mais promissor ciclista espanhol que, no ano seguinte, integrou o seu primeiro projecto como profissional, na Once-Eroski, equipa pela qual obteve a vitória no contra-relógio da Volta à Polónia.

Já em 2004, e quando nada parecia abalar o seu percurso ascendente, uma queda numa prova na Astúrias revelou uma lesão cerebral que atirou o espanhol para a mesa de operações, debatendo-se com a mais difícil "corrida" disputada até então, rumo à recuperação.

Mas também neste aspecto Contador foi um vencedor, e em 2005 regressou à estrada, primeiro para integrar a equipa da Liberty e depois, em 2007, para juntar-se à Discovery Channel, formação por quem ganhou a Volta à França. No ano seguinte a transferência para a Astana, possibilitou-lhe ganhar a Vuelta e o Giro.

Precisamente na Astana, equipa do Cazaquistão, que é uma espécie de agremiação de estrelas mundiais do ciclismo, Alberto Contador veio reencontrar Lance Armstrong, lenda da modalidade, que depois de uma paragem de alguns anos decidiu voltar a competir.

Houve quem vaticinasse que a presença "de dois galos para o mesmo poleiro", poderia arruinar a prestação da equipa cazaque nesta Volta à França, surgindo dúvidas sobre quem iria sacrificar os objectivos individuais em prol da equipa.

As incertezas quanto à grande figura da Astana acabaram por desfazer-se no contra-relógio da 18.ª etapa, prólogo onde Contador "esfumou" a concorrência, sublinhando a razão de estar de amarelo.

Ainda assim, a ambição revelada pelo espanhol não caiu bem a Armstrong, que na fase inicial competição acusou Contador de estar a trabalhar contra a estratégia da equipa e em proveito próprio. Mas o madrileno, que até confessou que "Lance já foi o seu ídolo" respondeu às criticas do companheiro com um andamento impressionante, cavando o fosso no primeiro lugar, e levando o heptacampeão da Volta à França, 11 anos mais velho que o espanhol, a admitir que esta é a Era de Contador.

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