Nostalgia na Internet, acessível e arrumada

O 'site' Mistério Juvenil é uma caverna de Ali-Babá para cultivadores <br />das memórias infanto-juvenis.
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Lembra-se do velho anúncio do Restaurador Olex, "Um preto de cabeleira loira? Um branco de carapinha? Não é natural!", hoje politicamente incorrectíssimo? E do da Pasta Medicinal Couto, com o fantasista Vum-Vum a fazer rodopiar uma cadeira na dentuça alva, e que nos nossos dias seria certamente acusado de estereotipação racial e rapidamente retirado? E da publicidade do detergente Ajax, "o mais poderoso!", em que um cavaleiro branco apontava a lança às crianças todas sujas da brincadeira, e as roupas ficavam imediata e magicamente imaculadas? Ainda se consegue recordar daquela frase com que o engenheiro Sousa Veloso se despedia sempre no final de cada emissão do TV Rural? É capaz de trautear a música do início da emissão da RTP nos anos 70 e 80?

Lembra-se de mastigar pastilhas Piratas cor-de-rosa, do Clube Pirata com cartão de sócio e T-shirts, e do Jogo da Palmada, de que saíam anúncios na revista Tintim? Devorou os livros dos Cinco e dos Sete, de Enid Blyton? Empolgou-se com a série Os Pequenos Vagabundos, ao ponto de a usar como tema para as brincadeiras com os amigos? Chegou a jogar o Cluedo? E o Petróleo?

Via na televisão a Pipi das Meia Altas, a Abelha Maia, o Zé Gato, o Fama, o Sandokan, o Tigre da Malásia, o Espaço 1999, o Sítio do Pica-Pau Amarelo ("Marmelada de goiaba/Goiabada de marmelo...") ou o Conan, o Rapaz do Futuro? Ouviu o militante do PCP e futuro rei-tor da Universidade de Lisboa José Barata Moura, cantar na rádio Joana Come a Papa ou Olha a Bola Manel?

Se respondeu afirmativamente a todas estas perguntas, ou pelo menos a metade; e se é um cultivador da nostalgia publicitária, televisiva, do entretenimento infanto-juvenil e de todas as coisas relacionadas com o tempo em que os anúncios eram politicamente incorrectos de forma ingénua, a televisão só tinha dois canais a preto e branco e o segundo repetia os programas do primeiro, "entretenimento" significava mastigar pastilhas elásticas ou comer gelados enquanto se brincava ao berlinde, à apanhada, aos índios e cowboys, e jogava jogos da Majora, era preciso estar a horas em frente à TV para ver os programas e séries favoritos porque ainda não se tinha inventado o vídeo nem o DVD, então tem uma caverna de Ali-Babá na Internet à sua espera para ser explorada.

O site chama-se Mistério Juvenil (www.misteriojuvenil.com) e é um verdadeiro trabalho de amor de Paulo Ferreira, um fotógrafo e repórter de imagem freelancer que alia o gosto pelas histórias e pelos heróis de Enid Blyton à vontade de "preservar as recordações da nossa infância". Além do já grande acervo de material sobre as criações de Blyton, e de anúncios, imagens, genéricos e sons de séries de televisão, músicas infantis e juvenis, colecções e clubes ou regras de jogos de tabuleiro, o Mistério Juvenil tem também uma base de dados bibliográfica e um fórum. A nostalgia nunca esteve tão acessível e tão bem arrumadinha.

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