"Não somos o inimigo". Os militantes do PP escolhem novo líder
O Partido Popular elege nesta sexta-feira o seu novo líder num congresso extraordinário em Madrid. 3184 delegados são chamados a votar na segunda volta das primárias para escolher o sucessor de Mariano Rajoy, que foi afastado do cargo de primeiro-ministro de Espanha após vitória da moção de censura do socialista Pedro Sánchez. Os eleitores do partido esperam que o novo líder, que será proclamado no sábado, saiba manter a unidade do partido e incluir na sua equipa os vencidos. A escolha faz-se entre Pablo Casado e Soraya Sáenz de Santamaría, respetivamente vice-secretário de Comunicação do PP e ex-vice-primeira-ministra do executivo de Rajoy.
"Quem ganhar deve contar com a parte não eleita", começa por sublinhar Alejandro Sanz, de 38 anos, militante do PP em Menorca e um dos 2622 delegados ao congresso eleito para a ocasião (outros 512 formam parte do aparelho do PP). Lembra que no partido "juntam-se muitas sensibilidades políticas e ninguém está a mais", é preciso contar com todos. Sente que este congresso é uma "boa oportunidade para centrar a ideologia do PP" e para fazer um análise séria "da perda de votos, entender porque muitos foram por exemplo para o Ciudadanos [de Albert Rivera]".
Em Menorca, Pablo Casado foi o candidato mais votado na primeira volta. Alejandro Sanz encontra qualidades muito boas nos dois rivais finais mas reconhece que sente que é Casado "quem melhor representa a garantia de recuperar os princípios do PP". Este jovem militante identifica-se com o documento de Regeneração Liberal apresentado por José Ramón Bauzá, ex-presidente das Baleares, e lembra que muitas das propostas de "Pablo Casado estão nesse documento". Acredita que o resultado da votação vai ser muito apertado e sente que Casado subiu na reta final da campanha. "Mexe-se melhor nas redes sociais", refere. Depois de ter novo líder, Alejandro Sanz espera assistir à recuperação do partido que, não há muitos anos, "foi capaz de ganhar eleições por maioria absoluta".
Macarena Puentes diz já ter conseguido recuperar do "choque" vivido com a queda do governo de Rajoy. De Madrid, com 31 anos, esta militante está orgulhosa da forma como está a decorrer "este sistema de votação, que é novo para o partido". Filiada no partido há 12 anos, considera muito positivo deixar os militantes votarem. "Era importante dar-nos voz", afirma, sublinhando que acredita que em futuras ocasiões serão corrigidos problemas como, por exemplo, a baixa participação na primeira volta.
"O PP deve entender que a partir do dia 22 devemos estar unidos, nós não somos o nosso inimigo." Macarena gosta dos dois candidatos e como delegada ao congresso ainda não decidiu o seu voto. "Qualquer um dos dois é excelente." Soraya, "com mais experiência de governo", Casado, "uma figura jovem necessária no PP". Espera que numa futura Convenção Nacional seja possível definir os princípios do PP, se bem que agora o mais urgente é ter um sucessor para Rajoy, pois, lembra, "o partido está em primeiro lugar".
"As primárias são uma ideia fantástica mas existem algumas imperfeições, com o tempo vamos conseguir uma fórmula melhor", garante José Miguel Jiménez, advogado, de 67 anos, militante do PP desde 2003. Contente pela forma como decorreu a primeira volta, "preferia que na segunda os militantes todos também pudessem votar", desabafa. Apresentou-se para delegado ao congresso, mas não foi eleito. Na primeira volta apoiou a ex-ministra da Defesa de Rajoy, María Dolores de Cospedal.
"O voto do delegado ao congresso é livre mas penso que era importante informar os militantes, esclarecer as opções de cada um, é mais transparente. E isso é o que falta ao sistema", acrescenta José Miguel Jiménez. Natural de Madrid, o sexagenário lembra que neste fim de semana escolhe-se não só o líder do PP mas também aquele que vai ser candidato a primeiro-ministro no futuro.
Por isso, em seu entender, Cospedal e Soraya eram as duas melhores candidatas na primeira volta, ambas "pela sua experiência na gestão do governo". Agora, eliminada Cospedal, prefere Soraya face a Casado. Pensa que "é um bom momento para uma mulher ser eleita e se converter na primeira chefe do governo de Espanha". Não esconde a sua preocupação pela unidade do partido: "Não sei se vão fazer o esforço para integrar todos." Jiménez não foi partidário de um debate entre Soraya e Casado porque, garante, este "iria fazer mais mal do que bem ao partido". E constata: "Há muitos interesses à volta dos dois" rivais.
Amparo Carabal, de 54 anos, também não foi eleita delegada ao congresso, no seu caso em Valência. Também ela apoiou Dolores de Cospedal na primeira volta. Filiada no PP há 30 anos, esteve a certa altura da vida afastada do partido. A razão? "Não concordava com a forma como se faziam algumas coisas." Voltou há 15 anos. Nos dois candidatos finais da corrida à sucessão de Rajoy encontra qualidades boas. Mas admite que pende um pouco mais para o lado de Casado. Pensa que é algo utópico pensar na unidade entre os candidatos depois da vitória de um deles, mas espera que "não exista essa divisão nas bases do PP". Porque, sublinha, "somos todos o mesmo partido".
Nas Astúrias, um militante popular que só quis identificar-se pelas iniciais TM diz que gostava de ter visto uma candidatura única na segunda volta. "Uma ganhou e outra ficou em segundo lugar, se agora não há unidade é porque a segunda prefere derrotar a primeira a unir esforços numa só candidatura", diz o militante, que está inscrito no partido há 20 anos. Apoia Soraya porque "é uma pessoa com muita formação e que sabe de gestão. É importante acertar com o candidato para ter opções de ganhar nas próximas eleições e ela mexe-se bem em política". Espera um resultado muito renhido. Nas Astúrias, por exemplo, onde Cospedal foi a mais votada na primeira volta, os delegados ao congresso "têm o voto muito dividido entre os dois finalistas". Ver-se-á então a diferença que separará Soraya Santamaría e Pablo Casado. Um deles será o sucessor de Rajoy.
Em Madrid