O que é que significa para o cavaleiro tourear os toiros da corrida?.Um cavaleiro ou um matador. São gestos de afirmação, desafios que o artista faz a si próprio, não se fazem todos os dias. Não sei se há uma razão especial para a Sónia o fazer, a ocasião terá surgido e ela aproveitou. Tem experiência e se, se mete neste desafio, tem consciência de que tem condições..Há muitos que o tenham feito?.Não, a cavaleira é mesmo a primeira. Lembro-me do Pedrito de Portugal e do Procuna [toureiro mexicano já falecido] que tourearam seis toiros. O João Moura fez isso há muitos anos, em Santarém, numa corrida histórica. Foi a seguir ao 25 de Abril, as pessoas estavam afastadas, e a praça encheu. Em Espanha usa-se muito, às vezes os cavaleiros sentem que lhe foge o sucesso e vai tourear seis toiros, até para haver uma remontada. Não houve casos em Portugal..Continua a haver poucas mulheres nas touradas, porquê?.A Sónia foi a primeira mulher a ter alternativa, a 18 de junho de 2000, em Santarém, e a Ana Batista, logo a seguir na corrida da TV. A 8 de julho, em Coruche. O que ninguém pode tirar à Ana Batista é que foi quem mais toureou - entre homens e mulheres -, em Portugal em duas temporadas, 52 corridas em dois anos seguidos..Foi apoderado da Ana Batista..Representei a Ana Batista e a Ana Rita que, com a Sónia, são as que se mantêm em atividade há mais tempo. Há uma miúda que está de reserva, a Soraia Costa [suplente de Sónia hoje, na Nazaré), representei-a e levei-a à alternativa. É a única cavaleira do Norte, tem muito talento, é fantástica, não toureia em Portugal. Há três, quatro anos foi a terceira cavaleira em Espanha, cá não a contratam, é um escândalo..Não há lugar para mais mulheres?.Não tem que ver com o facto de ser mulher ou homem. A Sónia Matias e a Ana Batista começaram há mais tempo, talvez não houvesse tanta concorrência e, também, conta a gestão da carreira. Os jovens, quando começam, não podem ser entalados, nos cartazes, entre as grandes figuras..Daí esse ir e vir de cavaleiras?.Também porque não conseguem reunir quadras [cavalos] que lhes deem continuidade. Há quatro ou cinco moças a quem já vi fazer coisas interessantes mas depois não têm consequência, isso também acontece com os rapazes. Tendo mérito, talento e estarem bem montados é o caminho para o sucesso..E pertencer a famílias do meio e com possibilidades financeiras?.Os que nasceram em berço de outro e têm dinheiro têm uma vida menos difícil porque conseguem ter acesso a cavalos que outros não têm. Mas o dinheiro só por si não chega, há casos de pessoas com necessidades e que lá chegaram, o mais flagrante é o Luís Rouxinol, que teve um início difícil..E tem aumentado a contestação às touradas?.Há 100 e 200 anos também protestavam, só que não havia o mediatismo de hoje. É lamentável o que se passa em Lisboa à porta do Campo Pequeno. Há pessoas que vão ali ao cinema, ao restaurante, e são confrontadas com impropérios e este é um espetáculo que está enraizado, oficializado. Estão no seu direito de não gostar, mas não têm de interferir daquela maneira..Interferem em defesa dos animais....A preocupação com o bem-estar dos animais sempre existiu. Os empresários e os artistas querem é que o toiro esteja nas melhores condições..O que se espera da corrida de hoje?.Um público que vai receber a Sónia com o carinho e entusiasmo natural multiplicado por seis. É uma praça onde todos os cavaleiros gostam de atuar, mas com aquela simpatia da Sónia acaba por ser particular. Ela tem talento, assim os cavalos a ajudem. Mas é uma corrida com seis toiros, não se pode esperar seis lides fantásticas.