Nos bastidores fica aquilo que não disseram no discurso da vitória

Iñarritu de Óscar na cabeça, DiCaprio e a causa ambientalista, Brie Larson ainda em êxtase. Atrás do palco há um mundo
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Hollywood precisa de diversidade, e a 88.ª cerimónia dos Óscares teve-a: o apresentador Chris Rock pegou no racismo de frente, o vencedor da edição de som Mark Mangini largou um palavrão em direto, Lady Gaga pôs sobreviventes de violência sexual em palco e o mexicano Alejandro G. Iñárritu levou outra vez para casa o Óscar de melhor realizador. Quase uma dezena de mulheres venceram Óscares em categorias técnicas, muito devido ao sucesso de Mad Max: Estrada da Fúria, que limpou seis estatuetas. E houve um grito coletivo com o Óscar de melhor filme para O Caso Spotlight.

Mas nenhuma reação foi tão entusiasta nos bastidores quanto a que se deu quando foi chamado o nome de Leonardo DiCaprio: jornalistas, membros da produção e assistentes da Academia irromperam em gritos e palmas. "Tudo parece surreal", disse um DiCaprio deslumbrado na sala de entrevistas, de Óscar na mão, sorridente e composto. "Este ano, em particular, fui inundado de apoio, de fãs e pessoas da indústria. É chocante. O que posso dizer, exceto que estou muito grato?"

O vencedor do Óscar para Melhor Ator também aproveitou para explorar mais o que disse no discurso de vitória sobre mudanças climáticas. "Foi incrível poder falar de algo com que tenho estado obcecado, além do cinema, numa plataforma vista por milhões de pessoas", afirmou, ele que é um dos mais potentes ambientalistas de Hollywood. Ao contrário de outros vencedores, que foram mais expansivos, DiCaprio parecia humildemente incrédulo, sublinhando o quão importante foi trabalhar com os também premiados Alejandro Iñárritu e o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, a que se referiu como "Chivo".

Iñárritu estava eufórico, pôs o Óscar na cabeça e disse que ia andar assim o dia todo. Mas também deixou uma mensagem sobre a questão do racismo. "A diversidade inclui outros. Isto agora vai ser o quê, #OscarsSoBrown? Somos amarelos e nativos e latino-americanos", respondeu, em inglês, a uma pergunta que fora colocada em espanhol.

Quase todos os vencedores passearam os Óscares pelos bastidores. Sam Smith, que venceu pela música Writing"s on the Wall, estava já ligeiramente bêbedo. Margaret Sixel, premiada pela Melhor Montagem com Mad Max, disse que a indústria tem a mania que as mulheres não sabem montar filmes de ação e esta vitória é o início da mudança.

Brie Larson estava extática. "Quem eu era quando terminei o filme estava tão longe de mim no início. E agora estou aqui, completamente "eu", e esta estatueta de ouro é uma metáfora incrível para como me sinto por dentro." A sueca Alicia Vikander admitiu que nunca pensou poder fazer filmes em inglês - e ganhar com um Óscar com um deles.

O DN perguntou aos produtores de O Caso Spotlight, Michael Sugar, Steve Golin, Nicole Rocklin e Blye Pagon Faust, se o filme sobre os abusos sexuais na Igreja Católica tinha mudado a sua relação com a religião. Não, disseram. "Foi mais um ataque à instituição do que um ataque à religião", sublinhou Nicole Rocklin. "Seja uma instituição religiosa ou uma agência governamental, olhamos para os problemas institucionais."

E Jenny Beavan, que subiu ao palco para receber o Óscar de Melhor Guarda-Roupa com calças pretas, botas e um casaco de pele sintética, contrastando com o glamour de Hollywood, disse que o conjunto foi uma homenagem a "Mad Max". "Gosto de me sentir confortável. E desculpem lá, mas na minha opinião estou super produzida."

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