Nos Alive: rock, fado e indie à beira-tejo

O famoso lema publicitário do festival do Passeio Marítimo de Algés de há alguns anos, "o melhor cartaz de sempre", faz bastante sentido nesta 10ª edição daquele que é talvez o maior festival de verão em Portugal
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número de palcos é considerável, nada menos do que sete, mas a quantidade da programação é acompanhada pela qualidade. Basta concentrarmo-nos nos nomes do palco principal, o Palco NOS, misto de históricos (Robert Plant, Pixies, Chemical Brothers, Radiohead) com bandas de relevância atual (Tame Impala, Arcade Fire). Quando os Pixies chamavam a atenção na sua página do Facebook para o cartaz do Alive, por alguma razão o faziam.

No dia 7 de julho, o único que ainda não está esgotado, e depois do rock de impacto meramente conjuntural dos ingleses 1975 (às 18.00) e dos escoceses Biffy Clyro (às 19.25), a fiel turba de fãs de Led Zeppelin poderá aproximar-se do palco maior para a devida vénia ao vocalista Robert Plant, que far-se-á acompanhar pelos seus Sensational Space Shifters (às 21.05). A sapiência etnológica de Plant sobre as raízes da música norte-americana (blues, folk), e a arte com que a interpreta, fará reduzir a ansiedade em ouvir temas dos Led Zeppelin - que não deverão escapar, é costume o cantor inglês pegar sempre no pesadão Rock & Roll.

O furacão do rock alternativo Pixies (às 22.45) fará render o passado que revolucionou o rock alternativo e inspirou os grungers Nirvana. Debaser, Vamos, Monkey Gone to Heaven ou Bone Machine são muitos dos temas à escolha que, ao modo rápido da banda de Black Francis, provocarão a festança nostálgica. Pode haver também surpresas, como temas novos como Umchumlagga (entrevista ao lado). Quem sentir saudades dos coros da baixista Kim Deal a acompanhar os berros de Black Francis, pode consolar-se com Paz Lenchantin, que cumpre na íntegra o guião.

Já de madrugada (à 01.00), segue-se nova viagem ao tempo, à eletrónica dos anos 90 e ao big beat, sob os comandos dos Chemical Brothers. A dupla constituída por Tom Rowlands e Ed Simons vai estar escondida atrás das máquinas, para que o frenetismo de Hey Boy Hey Girl e Chemical Beats e o galáctico jogo de luzes brilhem antes.

No dia 8, há formas diferentes de descendência do rock psicadélico no Palco NOS. De forma mais camuflada, no caso dos ingleses Radiohead (às 22.45). Ou de forma mais transparente, no caso dos australianos Tame Impala (21.00). Ambas as bandas já se envolveram entretanto na eletrónica, mas se os Radiohead a levam para a neurose, os Tame Impala fazem dela uma espécie de festa hippie futurista. Mas os Radiohead têm ainda um outro argumento, os mais de 20 anos de história, que se farão valer no alinhamento com temas dos álbuns Kid A (de 2000), OK! Computer (de 1997) ou até de The Bends (de 1995). Até voltaram a tocar a velhinha canção Creep. Os Radiohead vão ser a única banda a fazer parar todo o restante recinto. Os dançantes Years & Years (às 18.00) e o rock musculado dos Foals (às 19.30) abrem o dia no grande palco do Passeio Marítimo de Algés.

No sábado, dia de fecho, os rockers canadianos Arcade Fire (às 22.45) vão ser a grande incógnita, devido ao longo período sabático do grupo que vai ser interrompido com meros três concertos europeus, um deles no sortudo do Alive. Virão ainda com o grande aparato cénico inspirado no misticismo haitiano dos dias de Reflektor, o mais eletrónico dos álbuns dos Arcade Fire? Apresentarão novas músicas? Difícil será não tocar No Cars Go ou Neighborhood #3 (Power Out). Os fãs não perdoariam isso. Também se esperam os habituais números traquinas do multi-instrumentista Will Butler, o irmão do líder gigante Win, que fará as habituais parcerias vocais com a sua esposa Régine Chassagne. Antes dos Arcade Fire, pisam o palco (às 21.00) os folk-rockers barbudos Band of Horses, ainda a viverem os efeitos encantados do longo de estreia Everything All the Time, mesmo que já tenham lançado mais quatro álbuns entretanto. À 01.00, a eletrónica pop-rocker dos M83 encerra o último dia, que começa com o tuga Agir (às 18.00) e os Vetusta Morla (às 19.30).

Já se sabe que o coberto Palco Heineken é um mundo à parte no Alive, com um público fixo e desinteressado do que se passa no palco maior do festival de Algés. E neste ano volta a haver razões para essa lealdade, com um programa que dava para um festival autónomo bem interessante. Alguma da música urbana nacional mais valiosa volta a passar pelo hangar, como o rock outonal de consciência americana de Sean Riley & The Slowriders (à 01.25 de dia 7), a música meditativa do ex-Da Weasel Carlão (às 20.30 de dia 8) e o experimentalismo a duas baterias e muitas programações dos PAUS (às 21.45 de dia 9). E depois vai estar no Palco Heineken a nata internacional da música indie: John Grant (20.45 de dia 7), Calexico (18.55 de dia 8), Courtney Barnett (19.20), Father John Misty (21.40) ou Grimes (à 01.30 de dia 9). O Palco Heineken está difícil de superar.

EDP Fado, a grande novidade

Há vários anos que o recinto do Alive mantém o mesmo figurino. Mas neste ano há uma novidade de peso: a réplica de uma rua tipicamente alfacinha de traço pombalino, a Rua EDP, que inclui uma espécie de casa de fados, que dá pelo nome de EDP Fado Café, com uma parede decorada com imagens de novos e velhos fadistas. Por lá atuarão fadistas como Raquel Tavares (a aproximar-se da hibridez de Ana Moura) ou Marco Rodrigues, mas também afins como os Dead Combo & As Cordas da Má Fama.

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