Noites de Queluz dão a ouvir serenata 240 anos depois
Chama-se L"Endimione e é o nome de uma serenata (uma ópera de câmara) que vai regressar à vida no próximo 1 de outubro, Dia Internacional da Música. A obra repousava na coleção de partituras da Biblioteca da Ajuda há quase 240 anos, até que o Centro de Estudos Musicais Setecentistas de Portugal, sediado em Queluz e co-promotor do ciclo Noites de Queluz, decidiu recuperá-la. Quatro cantoras solistas juntam-se aos Divino Sospiro, dirigidos por Massimo Mazzeo, para esta estreia moderna, que é também a abertura da 3.ª edição das Noites de Queluz-Tempestade e Galanterie. A programação para Queluz, bem como a dos ciclos da Pena (em março) e da Vila (em junho), todas três a cargo da Parques de Sintra-Monte da Lua, foram ontem apresentadas em conferência de imprensa, realizada no renovado Pavilhão Robillion de Queluz, pelo responsável artístico das mesmas, Massimo Mazzeo.
O gosto pelas serenatas
O género da serenata encontrou em Portugal terreno fértil no século XVIII, o que também foi favorecido pela inexistência de um teatro real-oficial de ópera entre a destruição da chamada Ópera do Tejo, com o terramoto, e a inauguração do Real Theatro de São Carlos, em 1793. Foi particularmente cultivado em Queluz: sendo uma residência de verão, as serenatas, mais ligeiras (na produção) do que as óperas, podiam ali ser feitas ao ar livre, assinalando aniversários, onomásticos ou outras festividades da família real. No caso de L"Endimione, ela foi ouvida no onomástico de D. Pedro III, consorte de D. Maria I, a 29 de junho de 1780. A escolha de Jommelli prende-se com o gosto do casal real por esse autor, que tentou mesmo trazer para Portugal. Não teve êxito, mas conseguiu um acordo, pelo qual Jommelli todos os anos enviaria obras suas para a corte portuguesa. L"Endimione, que escrevera para a corte de Stuttgart (onde trabalhou longamente) em 1759, foi uma delas.
Um desfile de grandes nomes
Olhando para a programação ontem anunciada, são numerosas as propostas de excelência a passar por Queluz: nomes como Vittorio Ghielmi (dia 8), que será com Jordi Savall o maior intérprete atual de viola da gamba; Giuliano Carmignola (dias 20 e 22), um dos grandes violinistas atuais e intérprete de absoluta referência no repertório do século XVIII; ou ainda os agrupamentos Compagnia di Punto (dia 14), Helianthus Ensemble (dia 28) e La Gaia Scienza (dia 29) prometem concertos de altíssimo nível, todos eles consagrados a repertório contemporâneo do período de ouro do Palácio, grosso modo, 1760-1810.
Mas também há lugar para a descoberta: Rogério Rodrigues, jovem português fixado na Holanda especialista em pianos históricos, terá em Queluz a sua primeira apresentação profissional na área de Lisboa (dia 15), com um recital a solo no pianoforte Clementi (de c. 1805) do Palácio.
Extra programa, há ainda um concerto-palestra dedicado a João Domingos Bomtempo, com Gabriela Canavilhas e a orquestra Concerto Moderno (dia 21).
Os outros ciclos
Após o ciclo de outono, a primavera trará um ciclo de quatro recitais no Palácio da Pena, centrados no repertório romântico de câmara e nos modelos de "música doméstica" de Oitocentos. O ciclo abre com um recital dedicado a Liszt pelo jovem Vasco Dantas e inclui um recital de Lied pelo barítono alemão Christian Hilz, que terá por núcleo o ciclo A Bela Magalona, de Brahms, cuja interpretação será intercalada pela leitura da história que lhe subjaz, a qual nos será contada pelo ator João Reis.
Por fim, para "receber" o verão, o Palácio da Vila recebe sons medievais e renascentistas ao longo de junho. Novidade este ano, contou Massimo Mazzeo, é que cada grupo fará uma residência de fim de semana, apresentando-se por duas vezes em programas diferentes. Por isso, será uma sorte podermos ouvir "a dobrar" grupos do calibre e com o historial de La Reverdie, L"Accordone ou De labyrintho.
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