Noites de Queluz com sete concertos em imersão total
A edição 2017 do ciclo Noites de Queluz começa amanhã à noite (21.30) com um popular programa Mozart/Haydn pela Orquestra Barroca Casa da Música (OBCdM), que se estreia em Queluz. Em conversa com o DN, Massimo Mazzeo, diretor artístico da Temporada Musical da Parques de Sintra, regista com agrado que "em apenas três anos, esta temporada já se tornou parte dos hábitos culturais das pessoas e do seu circuito de vivência musical". Refere-se às Noites de Queluz como "o epicentro da programação, até porque foi o primeiro a nascer [os restantes ciclos decorrem no Palácio da Pena, em março e no Palácio da Vila, em junho], pelo que é o lado mais reconhecível e, se quisermos, a "joia da coroa" da nossa programação anual".
Sobre a vinda da OBCdM, realça "o prazer, mas também o dever para mim, que é poder colaborar com todos os interlocutores significativos no âmbito musical em Portugal e trazê-los até ao nosso público". No caso desta formação, regista "a boa vontade e as visões complementares que fizeram com que a Casa da Música aceitasse de imediato o convite que lhes formulei", adiantando desde já que "continuaremos esta colaboração em 2018 e aí com uma surpresa que muito agradará ao público!"
A programação dos conteúdos para cada concerto, cada qual com seu título, relaciona-se diretamente com "o ambiente onde estou a inserir as minhas ideias, isto é: o Palácio de Queluz, cuja história e arquitetura eu coloco em diálogo direto com as obras que programo e com os instrumentos usados nos concertos, que são todos originais do século XVIII ou cópias fiéis", do que resulta, diz, "uma experiência de imersão total enquanto salto no passado que torna esta temporada única em Portugal".
Dentre a programação deste ano, fixamo-nos em dois momentos. Primeiro, o concerto de 6 de outubro (ver coluna ao lado): "A música popular sempre foi uma das veias mais fortes da música erudita e este concerto, partindo de uma expressão do compositor Telemann sobre a música que ouviu na Polónia e norte da Morávia, pretende ir à origem desta ideia moderna de "world music" religando ao que era apenas muito normal suceder na época". Um "regresso às origens" no qual, arrisca "poremos toda a sala a dançar!"
Depois, o concerto final, com uma estreia mundial moderna: "Ele é parte do "Projeto Serenatas" que vimos realizando desde 2014, o qual tem por parâmetros, primeiro, recuperar o acervo do que era a Biblioteca Musical de Queluz; depois, a recuperação dos materiais musical e literário segundo uma edição crítica "cum" respetivo aparato segundo rigorosos critérios musicológicos; por fim, a "performance" pública das obras, que nos obriga a um critério de partida muito simples: tem que ser música realmente boa. Idealmente, haverá num futuro próximo um passo mais: a gravação da obra logo após a sua apresentação".
Sobre o autor, João Cordeiro da Silva, explica que se trata de "um compositor importante da época e escolhido pela família real para adaptar ao nosso gosto as obras que a Corte recebia de autores estrangeiros importantes, a começar por Niccolò Jommelli. Teve assim contacto em primeira mão com o mais moderno estilo italiano da época e isso transparece muito claramente da sua escrita, que casa a escola napolitana com certo tratamento mais germânico da escrita orquestral."
Quanto ao futuro, está otimista: "atingimos em três anos os índices que normalmente aparecem após cinco anos. O nosso público aumenta e a Parques de Sintra mostra vontade de ampliar este projeto, pelo que as respostas são dadas "de per si"!"
O que se segue
1 de outubro
Sala da Música
Recital de "Lied" pelo barítono Thomas E. Bauer, acompanhado ao pianoforte por Jos van Immerseel. Obras de Beethoven (ciclo "À bem-amada distante") e Schubert
6 de outubro
Sala do Trono
Concerto do agrupamento Il Suonar Parlante do gambista Vittorio Ghielmi, com um original e muito variado programa que inclui música cigana do Leste europeu
13 de outubro
Sala da Música
Recital de violoncelo e pianoforte por Marco Testori e Costantino Mastroprimiano, preenchido com obras de Beethoven, Ferdinand Ries e Johann N. Hummel
22 de outubro
Sala da Música
Concerto por Il Sogno Barroco, com o violinista Paolo Perrone, num programa que viaja entre Roma e Lisboa, com obras de D. Scarlatti, Händel, Corelli e Lonati
27 de outubro
Sala da Música
Recital de pianoforte pela jovem espanhola Laura Fernández Granero, que aqui se estreia em Portugal, com obras de João Domingos Bomtempo e Muzio Clementi
29 de outubro
Sala do Trono
Estreia mundial moderna da serenata Il Natal di Giove (de 1779), de João Cordeiro da Silva, por solistas, Orquestra Divino Sospiro e direção de Riccardo Doni.
Todos os concertos às 21.30
Bilhetes a dez euros