Noite no Bairro Alto e no Cais do Sodré. Muitos jovens nem conhecem as regras

Há frequentadores da noite que confessam não saber da regra que proíbe a venda de álcool para a rua a partir da uma da manhã. Comerciantes querem estabelecimentos abertos até mais tarde, mas com normas iguais para todos
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Os bares do Cais do Sodré têm restrições de horários relativamente à venda de bebidas alcoólicas? Ninguém diria que sim, se andasse pelas ruas e visse a tranquilidade com que os frequentadores da noite lisboeta se passeiam com copos de plástico com cerveja na mão.
"Não sabia dessa regra. Mas também se a lei não é cumprida, não aquece nem arrefece", confessou ao DN Carolina, de 24 anos.

A jovem confirma, assim, os receios dos moradores destas zonas que tanto têm lutado para que os bares incumpridores fechem a horas que causem menos transtorno a quem habita nas zonas referidas.

Já os comerciantes apresentam uma visão diferente. Para eles as normas pecam por prejudicar os estabelecimentos. "Eram mais mil imperiais que se vendiam. A 23% de IVA. Toda a gente saía a ganhar.

Agora, são essas mesmas mil imperiais a menos... É muito dinheiro", lamenta Abraão Silva, dono do Cais de Bar, no Cais do Sodré, sobre a regra da uma da manhã. "Concordo que não se vendam coisas em vidro, mas o plástico é fácil de limpar", acrescenta.

Ou seja, a noite de dois dos locais mais icónicos da capital está dividida entre quem se preocupa pouco com os horários dos bares e os proprietários que lamentam as decisões da câmara. Certo é que quem por lá passa vê as ruas cheias de jovens, e menos jovens, com copos na mão, sem se preocuparem com o barulho. Impedidos de vender bebidas alcoólicas para a rua a partir da 01.00, os bares do Cais do Sodré enfrentam uma situação delicada em termos de retorno.

Por outro lado, não é pela existência da lei que não se vê gente, jovens e adultos, de copo na mão após a hora marcada. Muitos desconhecem até a situação. Ao lado de Carolina, duas amigas comentam que "não é por isso que se vai deixar de beber na rua, porque nunca existem represálias".

"Alguns bares cumprem e outros não. O problema é sermos todos metidos no mesmo saco. Deve-se ter noção do que é trabalhar para dentro e para fora de portas. A nós nem nos afeta muito, mas a fiscalização tem de ser rigorosa", diz Bruno Costa, gerente do bar Viking.

Bruno Costa fala também dos "dois pesos e duas medidas" no que toca a horários de fecho no Cais do Sodré, sendo o mais comum às três da manhã. Às quatro para bares com pista de dança e às seis para discotecas. Fica sem perceber "porque é que alguns bares fecham às seis e outros às quatro, quando têm sensivelmente o mesmo espaço".

"No Cais do Sodré as discotecas podem fechar às seis da manhã. Tendo o Viking a fechar às quatro, não percebo as diferenças. Nunca me foi dada uma justificação para as diferenças entre os espaços. Aliás, várias vezes nós é que temos de ir à procura da informação."

No Bairro Alto, com horário de fecho às duas da madrugada à semana e às três horas às sextas, sábados e vésperas de feriado, Sérgio Fonseca tem o seu bar, o Eclipse, na Rua da Atalaia, uma das afetadas pelo despacho [ver caixa] de janeiro que obrigou determinados espaços a fechar às 00.00 de semana e às 02.00 nos dias fortes. "Não fui afetado porque não tinha queixas. Mas percebo os moradores, dou-me bem com eles e até bebem café aqui", revelou, fazendo a ponte para o tema seguinte: as normais horas de fecho.

"Bom para o Bairro Alto era fechar às 02.00 à semana e às 04.00 nos restantes dias. Contudo, é importante dizer que a culpa não é sempre dos bares. Basta vir aqui de dia para ver alguns moradores a mandar lixo fora", completou.

No interior do Eclipse, Hugo e Antonieta dizem que o horário do Bairro é "razoável". Já sobre a regra da 01.00 no Cais do Sodré, a jovem confessou nunca ter reparado nisso e que é uma "medida radical". "Nem nunca tinha reparado nisso. É só gente de copo na mão", disse.

Já noutra rua, Carolina, de 21 anos, e Rita, de 22, queixam-se que o Bairro Alto fecha demasiado cedo. Contudo, invertendo os papeis e imaginando que morariam por cima de algum bar, confessam, entre risos, que aí "o Bairro já fecharia demasiado tarde".

No seu último comunicado, e após terem sido levantadas as restrições impostas em Janeiro, a Associação de Moradores do Bairro Alto refere que "não está contra a vida noturna", mas sim "contra os estabelecimentos não responsáveis, uma minoria". O que defendemos é uma "coexistência pacífica e o respeito entre moradores, comerciantes, visitantes" e todos os que trabalham. Os representantes dos moradores do Bairro Alto insurgem-se contra existirem bares que 15 dias após as restrições impostas ao seu funcionamento pela câmara as conseguiram anular.

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