"Nobel só serviu para alimentar a vaidade pessoal de um presidente"
"O Nobel para Santos tem duas caras: negativa e positiva", disse ao DN o professor de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de Rosário, Vicente Torrijos, que defendeu o "não" no referendo do último fim de semana. O "não" viria a ganhar por menos de 60 mil votos de diferença.
O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, é o galardoado deste ano com o Prémio Nobel da Paz, pelos seus esforços para pôr fim à guerra civil no país, que dura há mais de meio século. O prémio é atribuído pelo Comité Nobel norueguês apesar de o acordo de paz negociado ao longo dos últimos quatro anos com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) ter sido recusado pelos colombianos num referendo.
"A cara negativa é que polariza ainda mais o país", explica Torrijos, dizendo que para quem votou "não" o prémio é visto como "a satisfação do ego" do presidente "e uma intromissão em momentos tão delicados". O professor diz que o comité Nobel não está a premiar "a paz", mas "os esforços por alcançá-la", questionando como é possível premiar os esforços "que a própria população recusou no plebiscito".
Por outro lado, "a cara positiva é que ajuda a dar impulso a uma nova negociação com as FARC", que seja, "completamente diferente da assinada em Havana". Essa nova negociação, alega Torrijos, "tem que basear-se na agenda e nos conteúdos que apresentaram os opositores", porque só assim "uma nova negociação terá sentido". O principal opositor é o ex-presidente Álvaro Uribe, líder do partido Centro Democrático.
Caso não sirva para dar esse impulso a uma nova negociação, "só servirá para aumentar a violência e, com ainda mais razão, fortalece-se a ideia de que o prémio Nobel só serviu para alimentar a vaidade pessoal de um presidente que já entra na reta final do seu mandato", disse Torrijos ao DN.