Nobel da Física premeia descobertas rumo aos supercomputadores

Três investigadores britânicos foram distinguidos pelos trabalhos na topologia da matéria, com vista para a computação quântica
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São cientistas que trabalham na chamada física teórica, sem que isso signifique que as suas descobertas não tenham uma grande implicação nas nossas vidas. O Prémio Nobel da Física foi atribuído aos britânicos David J. Thouless, e a F. Duncan M. Haldane e J. Michael Kosterlitz, "pelas descobertas teóricas das transições da fase topológica e as fases topológicas da matéria". A importância destas descobertas, com revelação dos "segredos na matéria exótica no mundo quântico", é mais facilmente compreensível quando se constata que são um passo decisivo, mas ainda não definitivo, no caminho para a computação quântica, isto é, os supercomputadores que podem tratar dados a uma velocidade muito superior.

"Os laureados deste ano abriram a porta para um mundo desconhecido onde a matéria pode assumir estados estranhos. Usaram métodos matemáticos avançados para estudar fases, ou estados, pouco habituais da matéria, como os supercondutores, superfluidos ou películas magnéticas finas", resumiu a Real Academia Sueca. Os estados "estranhos ou exóticos" são os que não estão à vista na natureza, como o sólido, gasoso e líquido.

Estarão a chegar os supercomputadores? "Não estará para breve. Têm sido dados passos no sentido de qualquer dia - podem ser anos ou décadas -chegarmos à computação quântica", explicou ao DN Eduardo Castro, investigador e professor no departamento de Física do Instituto Superior Técnico (IST),conhecedor do trabalho que estes três investigadores têm desenvolvido. Haldane esteve mesmo no IST em 2000.

Os computadores quânticos utilizam qubits (unidade de informação quântica, bidimensional), "muito sensíveis a interferências externas". São "estes novos materiais topológicos, alguns deles supercondutores, que poderão ter aplicação nesse âmbito", diz o investigador português.
Até se pode considerar que o Nobel chega um pouco tarde para a primeira parte do prémio, as transições da fase topológica. "Foram ideias teóricas muito relevantes nas décadas de 1980 e 1990, sobre topologias insensíveis a perturbações externas. Mais recentemente percebeu-se que há outros materiais que são caracterizados pelo mesmo tipo de conceitos e fases", diz Eduardo Castro, completando: "Numa segunda parte, as transições das fases topológicas, com a observação na natureza de estados de materiais a duas dimensões, materiais muito finos com a possibilidade, por exemplo, de serem magnéticos. A teoria anterior dizia que não era possível."

Em resumo, o físico do IST analisa o prémio em duas vertentes: "Este prémio distingue dois aspetos: os passos dados para a compreensão do mundo que nos rodeia, já que estas formas topológicas são de muito difícil compreensão. Têm impacto na nossa vida porque mais cedo ou mais tarde vão ter aplicação e serão importantes na nossa vida. Por outro lado, distingue cientistas que têm tido impacto determinante, nas últimas décadas, na compreensão da matéria condensada."

Durante a cerimónia de anúncio dos prémios, Duncan Haldane falou em direto por videoconferência e manifestou-se "muito surpreendido e muito grato". "Este trabalho foi realizado há muito tempo, mas agora há novas descobertas a acontecer baseadas nesse trabalho. Há muita esperança de que estes novos materiais tenham grande potencial", disse o cientista, que admitiu: "Como em outras descobertas, tropeçamos nelas e nem nos apercebemos das implicações até que outras pessoas comecem a falar disso."

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