Se a maioria dos portugueses não tinha conhecimento que decorreria esta semana a CNN Portugal Summit, nem tão pouco que esta contaria com uma intervenção do Ministro do Ambiente e da Ação Climática, o mesmo não se pode dizer depois daquele episódio de ART ATTACK (popular programa de televisão que familiarizava os mais novos com o mundo da criação artística). Tudo graças a umas bolas de tinta verde. No dia seguinte, mais tinta - desta vez vermelha - deu-nos ainda a conhecer o World Aviation Festival. Ora, para compreender o que se retira destas ações, coloco as seguintes questões: Depois dos "Girassóis" de Van Gogh serem regados com sopa de tomate houve algum reforço do combate às alterações climáticas? E haverá depois das ações desta semana?.A resposta é, evidentemente, "não". No entanto, sabem o que aconteceu depois desse episódio na National Gallery, em Londres? Os diretores de 92 das maiores instituições culturais, como o Louvre, o British Museum, o Guggenheim ou o Mauritshuis, reuniram-se e admitiram questionar seriamente o grau de acesso a conceder ao público. À época foram colocadas questões como "Quantas pessoas deixamos entrar?" ou "A que distância é que as deixamos chegar das coisas?". Mais, chegaram mesmo a afirmar poder decidir "tornar as coisas menos acessíveis" para garantir a preservação do património cultural. Entretanto, medidas de segurança mais rigorosas foram implementadas e ações deste tipo começam a ser eficazmente impedidas. Mas será este o resultado desejado?.Creio que é fundamental sermos mais eficazes a comunicar às pessoas que a crise climática é um problema maior do que qualquer constrangimento nas suas rotinas diárias. Contudo, ações desta natureza apenas criam antipatia pela causa, ao invés da simpatia necessária para uma crescente mobilização das pessoas e dos seus decisores..Hoje a maioria dos jovens são "nativos digitais", tendo nascido já dentro da era da internet e das redes sociais. Deste modo, é compreensível que esse seja o meio predileto para comunicarem entre si, espalharem as suas causas e viverem a cultura global. Não obstante, é necessário compreendermos quais as consequências destas ações e da sua massificação..Para orgulho de todos nós, Portugal é um país livre e seguro. Aliás, ano após ano mantemo-nos entre os 10 países mais seguros do mundo. Todavia, ações de caráter vândalo, ações que ameacem a integridade física de uma ou mais pessoas, ou ações que restrinjam a liberdade de expressão, são altamente condenáveis e constituem uma grave ameaça à democracia. Procurar empregar estes modos de ação torna-nos "apenas" num país mais medroso e musculado e, consequentemente, menos livre. Não importa o quão nobre a causa seja, nunca existirá justa causa para justificar empregar qualquer uma destas ações..Imaginarão um país onde é necessário segurança apertada em museus, polícia para eventos culturais tão banais quanto apresentações de livros, escolas mais vigiadas ou, imagine-se, um país onde políticos não podem ir a banhos tranquilamente nas nossas praias algarvias? Imaginarão um país onde as pessoas só não entram semanalmente a protestar pelas portas do parlamento graças à presença de um forte dispositivo policial? Pessoalmente, não imagino, nem quero imaginar..O equilíbrio é difícil, reconheço. As chamadas de atenção para a crise climática aumentam e sobem de tom e os decisores políticos parecem desligar os aparelhos auditivos. Os protestantes atiram tintas e os políticos estão-se nas tintas. No fundo, estamo-nos todos nas tintas. Os protestantes nas tintas para os políticos, os políticos nas tintas para os protestantes, e nós, no meio disto, nas tintas para os políticos, nas tintas para os protestantes e nas tintas para isto tudo..Mestre em Desenvolvimento Internacional e Políticas Públicas.Membro Fundador da All4Integrity