No clube dos presidentes há camaradagem até entre rivais

Depois de tirar segundo mandato ao republicano, Clinton fez dupla no pós-tsunami com Bush pai.
Publicado a
Atualizado a

20 de janeiro de 1953 não foi só o dia em que Dwight Eisenhower tomou posse como presidente dos EUA. Nesse final de manhã, na escadaria do Capitólio, Harry Truman propunha a Herbert Hoover: "Devíamos formar o clube dos ex-presidentes". Assim foi. Se até aí já muitos dos políticos que chegaram à Casa Branca tinham procurado o conselho dos antecessores, a partir de então surgia uma fraternidade informal a que qualquer chefe do Estado podia recorrer quando precisasse.

Hoje são cinco os ex-presidentes vivos - Jimmy Carter, George H. W. Bush, Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama. Em 2009, pouco depois de tomar posse, Obama juntou todos os antecessores na Casa Branca para almoço em que o recém empossado presidente democrata procurou "bons conselhos e amizade".

Nos últimos anos, este clube restrito dos homens mais poderosos do mundo protagonizou algumas amizades improváveis. Como a que junta Bill Clinton e Bush pai. Em 1992, o jovem governador do Arkansas derrotava o presidente em exercício, aproveitando o descontentamento da base conservadora com a política económica da Casa Branca, sobretudo a sua recusa em aumentar impostos quando o país se encontrava em recessão.

Mas em vez de guardar rancor a Clinton - que na altura garantiu saber menos de política externa do que o cão dele - por lhe ter tirado a hipótese de cumprir um segundo mandato, Bush pai acabou por se unir ao antigo rival anos mais tarde, quando já ambos tinham deixado o poder, em missões humanitárias. Em 2005, os dois homens estiveram no Sudeste Asiático para prestar apoio às vítimas do tsunami que devastou a região em finais de 2004 e matou cerca de 250 mil pessoas em 14 países.

Com Bush a convidar Clinton para a casa da família em Kennebunkport, no Maine, a incluir o sucessor nas partidas de golfe e nas pescarias, além de garantir ao longo dos anos que talvez fosse o pai que Bill nunca teve - o democrata foi criado pelo padrasto depois de o pai morrer antes mesmo de ele nascer -, não espanta que a amizade entre os dois ex-presidentes passasse a abranger também George W. Bush, o filho do 41.º presidente e sucessor de Clinton na Casa Branca. Em 2010 Bush filho e Clinton uniram-se na sua própria missão humanitária, angariando fundos para as vítimas do sismo que destruiu o Haiti e terá feito mais de 150 mil mortos (estimativas do governo falam em 316 mil mortos, mas são consideradas propositadamente inflacionadas).

Durante a presidência de Obama, Bush filho manteve-se discreto, preferindo passar tempo no seu rancho no Texas e dedicar-se ao hobby da pintura. Mas nas poucas vezes em que se juntou ao sucessor em público, o que se destacou foi a proximidade com a mulher de Obama, Michelle. Há dias, Bush explicava na televisão que esta amizade "surpreendeu toda a gente. É o que há de estranho na sociedade atual: pessoas dos dois lados do espectro político conseguem dar-se bem".

Mas nem todos. É que se Obama não chegou ao ponto de, como vários presidentes do século XIX, de John Adams a Andrew Johnson, passando por John Quincy Adams e Martin Van Buren, que não assistiram à posse do sucessor, a animosidade do ex-presidente para com Donald Trump é notória. E recíproca. Depois de ter afirmado que o democrata incentiva os protestos contra ele, ontem Trump acusou-o de ter colocado os seus telefones sob escuta durante a campanha. Uma afirmação que dificilmente deixa adivinhar um futuro convívio pacífico quando ambos estiverem no clube dos ex-presidentes.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt