No caminho para a descarbonização haverá "perdedores", alerta Centeno

Governador do Banco de Portugal recomenda "compromisso e cooperação", ciente de que a sustentabilidade financeira "é algo que certamente demorará a atingir".
Publicado a
Atualizado a

O tempo até ao necessário cumprimento dos objetivos de neutralidade carbónica está a contar, mas é preciso assegurar o financiamento de projetos transformadores que permitam alcançar a meta. Mário Centeno defende que "compromisso e cooperação" são ingredientes-chave para a receita do sucesso, embora alerte que, com a transição climática e as consequências que terá na transformação da economia, haverá quem saia prejudicado. "Cooperação porque esta transição precisa de ser inclusiva. Há perdedores, há vencedores. Acontece a toda a hora", afirmou ontem o governador do Banco de Portugal.

O antigo ministro das Finanças participava no debate Financial Capitalism & Sustainability (Capitalismo Financeiro e Sustentabilidade, em tradução livre), durante a sétima edição das Conferências do Estoril, no campus da Nova SBE, que contou com a participação de Irene Heemskerk, responsável pelo Centro das Alterações Climáticas do Banco Central Europeu, e Luisa Gómez Bravo, líder de Corporate & Investment Banking do BBVA.

Para alcançar as metas verdes no que ao sistema financeiro diz respeito, o governador do Banco de Portugal disse ser necessário avaliar os "recursos disponíveis" e investir em áreas estruturantes como a educação, a tecnologia e a globalização. Segundo as palavras do ex-ministro, a sustentabilidade financeira é algo que "certamente demorará a atingir", exigindo, por este motivo, paciência. Porém, "ser paciente não significa ser inerte", apontou Centeno, não descartando a necessidade de ação.

A mensagem de que há ainda muito trabalho por fazer foi passada ao longo de toda a conferência. Irene Heemskerk alertou para o facto de existir carência no que toca à informação disponível sobre este tópico e reforçou a importância de uma sociedade sensibilizada para a questão.

"Precisamos de esclarecimentos e clareza sobre aquilo que é a sustentabilidade financeira. E esta explicação deve ser dada por instituições credíveis, que tenham conhecimento e ferramentas para o fazer. É essencial que sejam igualmente disponibilizadas comparações, pois sem estas, não seremos capazes de fazer a escolha acertada", rematou.

Os objetivos para 2050 requerem esforço e investimento por parte da banca, segundo a líder de Corporate & Investment Banking do BBVA. Há que "mobilizar o capital", "promover o investimento privado" e "reduzir as emissões" - e os bancos, acredita Luisa Gómez Bravo, "estão a fazer a sua parte".

Mais do que nunca é preciso "descarbonizar as atividades humanas, fazê-lo rápido e incluir nesta equação os mercados emergentes", destacou ainda a responsável do banco. A líder do Centro das Alterações Climáticas do Banco Central Europeu foi quem fechou o debate, com a conclusão de que "todos fazemos parte deste puzzle" e que, "em tudo o que fazemos, podemos limitar o impacto ambiental - e só assim se chegará à neutralidade".

Sob o mote Rebalancing our World: A Call To The Purpose Generation (Reequilibrar o nosso Mundo: Um Apelo à Geração do Propósito, em tradução livre), a sétima edição das Conferências do Estoril decorre até hoje, com organização da Nova SBE, da Câmara Municipal de Cascais e o apoio do Dinheiro Vivo, enquanto media partner. Pelo campus de Carcavelos vão passar ainda hoje líderes políticos, empresariais e pensadores para debater os desafios do planeta, das pessoas e da paz.

Marcelo Rebelo de Sousa subiu a palco para elencar as dificuldades enfrentadas pela democracia, do conflito na Ucrânia à ameaça de invasão chinesa que paira sobre Taiwan, mas sobretudo para sublinhar que, mais do que nunca, "temos de ser firmes nos princípios". "Sabemos que a guerra na Ucrânia não é uma guerra europeia, mas uma guerra global que envolve três grandes atores, a Federação Russa, os Estados Unidos e a União Europeia", apontou. O Presidente da República não tem dúvidas de que "a Federação Russa quer recuperar o poder global e não apenas o poder regional" e reforçou a convicção de que será "a geração do propósito" a reequilibrar o mundo.

Mas, avisou, é preciso "lutar contra as desigualdades" e assegurar "o diálogo", a "recusa do racismo, da xenofobia". "Agora é a vossa vez", afirmou, dirigindo-se às centenas de jovens universitários na plateia.

mariana.dias@dinheirovivo.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt