"Ninguém está preparado para ter menos" do que quatro medalhas em Paris 2024
A Missão portuguesa aos Jogos Olímpicos Tóquio 2020 superou as expectativas do presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) embora não tenha alcançado "o limite" do seu valor desportivo. Ou seja, ainda podia ter sido melhor do que as quatro medalhas (ouro de Pichardo no triplo salto, prata de Patrícia Mamona no triplo salto, bronze de Fernando Pimenta na canoagem e bronze de Jorge Fonseca no judo) e 11 diplomas, entre os quais o quarto lugar de Auriol Dongmo, no lançamento do peso.
"[A prestação em Tóquio2020] superou as minhas expectativas, não superou o limite daquilo que eu considerava, do ponto de vista desportivo, que era possível Portugal alcançar, porque encontro valor na nossa Missão olímpica para os resultados poderem ter sido diferentes para melhor do que aquilo que foram", admitiu José Manuel Constantino, em entrevista à agência Lusa.
Naquele que foi o primeiro balanço público da melhor participação de sempre de Portugal em Jogos Olímpicos, o presidente do COP considerou que "os resultados foram excecionais quando comparados com aquilo que é o histórico" das missões nacionais, mostrando-se "plenamente satisfeito e reconhecido aos atletas, aos treinadores e às federações desportivas pelo trabalho que realizaram".
Na capital japonesa, Portugal conquistou quatro medalhas - o ouro de Pedro Pablo Pichardo no triplo salto, disciplina em que Patrícia Mamona alcançou a prata, e os bronzes do judoca Jorge Fonseca (nos -100kg) e do canoísta Fernando Pimenta (em K1 1000 metros) -, 11 diplomas, entre os quais o quarto lugar de Auriol Dongmo, no lançamento do peso, e a melhor pontuação de sempre em Jogos Olímpicos (78 pontos, atribuídos aos atletas classificados entre o primeiro e o oitavo lugares, mais 27 do que em Atenas 2004).
Ainda assim, o dirigente olímpico confia que "o limite" desportivo da representação portuguesa "não está atingido" e "é possível ter a ambição de atingir resultados ainda superiores àqueles que tivemos no exercício anterior".
Constantino contornou ainda a polémica entre o campeão olímpico Pedro Pablo Pichardo e o seu antecessor Nelson Évora, ouro na mesma disciplina em Pequim 2008- "é um assunto que está para nós encerrado" - e escusou-se ainda a colher louros por Tóquio 2020.
O presidente do COP, que já anunciou a recandidatura às eleições de 10 de março, destacou também, no seu balanço, aquele que presumivelmente será "o melhor resultado financeiro da história" do organismo, atingido em plena pandemia de covid-19 e apesar dos gastos extra (ultrapassaram em mais de 50% aquilo que estava orçamentado para os Jogos) que a entidade teve "em matéria de transporte e alojamento" devido ao adiamento da competição.
Olhando para Paris 2024, o presidente do Comité Olímpico de Portugal diz que "ninguém está preparado para ter menos" do que as quatro medalhas conquistadas em Tóquio 2020, no último verão. "Se tivemos um determinado numero de posições de pódio, a expectativa dos portugueses é que não fique aquém. Porque se ficar aquém, isso é entendido como um objetivo não atingido. Nós tivemos quer pelas posições de pódio, quer pelas posições de finalistas, quer pelas posições até ao 16.º lugar, a melhor participação olímpica das diferentes missões desportivas nacionais. Não podemos encarar a participação em Paris tendo como objetivo ficar aquém do alcançado", insistiu o líder do organismo desde 2013.
E não é só "do ponto de vista dos resultados" que o presidente do COP espera mais da Missão de Portugal, mas também na diversificação da representação:"Precisamos de ter as modalidades que já tivemos, espero que haja outras modalidades que consigam alcançar resultados de apuramento olímpico e que possamos ter uma Missão com mais modalidades, com níveis competitivos mais elevados, e que os resultados finais se traduzam numa melhoria relativamente à situação que alcançámos."
E espera que o próximo Governo possa "dar um sinal" a atletas, treinadores e federações, aumentando as verbas de financiamento olímpico, após uns Jogos que foram os melhores de sempre para Portugal, "porque isso é a linha que está a ser seguida em termos internacionais".
O COP apresentou "uma proposta que traduz este objetivo, esta preocupação" ao Governo de António Costa, que foi refutada. "Percebo perfeitamente que, da parte do Governo, possa haver reservas ou entendimentos distintos relativamente a esta matéria. Mesmo havendo a vontade de aumentar o pacote financeiro, ele pode ficar aquém do que foi sugerido por nós, mas é para isso que existem conversações, interlocução, diálogo. Aquilo que espero é que o próximo Governo, qualquer que ele seja, tenha em consideração a proposta que apresentámos e possa conversar connosco para encontrarmos, se não a solução que apresentámos, uma que permita reforçar de forma significativa aquilo que são os apoios ao tecido associativo [...] para a participação nos Jogos Olímpicos de Paris", manifestou.
José Manuel Constantino detalhou que a proposta apresentada pelo COP continha "uma alteração das bolsas dos atletas e dos treinadores", ou seja, "um aumento", além de "uma graduação diferente e que traduziria um apoio financeiro, quando comparado com o do exercício anterior, de [mais] 36%".
Muito crítico do esquecimento a que o Governo de António Costa votou o desporto durante a pandemia de covid-19, o presidente do COP assumiu ter ficado "satisfeito" pelo facto de os membros do executivo, assim como o Presidente da República, se terem congratulado com os feitos dos atletas portugueses em Tóquio 2020. Mas lembrou que os medalhados olímpicos ainda não foram recebidos no Palácio de Belém e lamentou o tratamento diferente dispensado à seleção de futsal, recebida pelo Chefe de Estado dias depois de se sagrar campeã mundial.