Nicola Sturgeon renuncia ao cargo de primeira-ministra da Escócia
Nicola Sturgeon anunciou esta quarta-feira a intenção de se demitir do cargo de primeira-ministra da Escócia, o "melhor trabalho do mundo".
"Anuncio a minha intenção de deixar o cargo de primeira-ministra e de líder do meu partido", informou Nicola Sturgeon, em conferência de imprensa, em Edimburgo.
"Vou permanecer no cargo até que meu sucessor seja eleito", esclareceu a, ainda, líder do Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês).
Sturgeon, de 52 anos, referiu-se ao cargo como sendo o "melhor trabalho do mundo", que se considerava uma privilegiada, mas afirmou que é preciso saber "quando é a hora certa para abrir o caminho a outra pessoa".
"Na minha cabeça e no meu coração, eu sei que chegou a hora, que é a hora certa para mim, para o meu partido e para o país", disse Nicola Sturgeon, visivelmente emocionada, por vezes à beira das lágrimas, durante uma conferência de imprensa.
"Este trabalho é um privilégio, mas também muito difícil", acrescentou.
Afirmou que a decisão surgiu após uma "avaliação mais profunda" e que não se trata de uma reação a pressões recentes, reconhecendo, no entanto, que a pandemia foi o momento mais difícil que enfrentou enquanto primeira-ministra. "O peso da responsabilidade foi imenso", lembrou.
Destacou o impacto que a função de chefe de governo tem na vida privada, considerando que é necessário ter "energia" na liderança política para enfrentar os desafios do futuro, referindo-se, nomeadamente, ao referendo sobre a independência.
Disse que era o seu dever deixar o cargo num "momento crítico", isto depois do Supremo Tribunal do Reino Unido ter rejeitado, em novembro do ano passado, um segundo referendo sobre a independência, um "ultraje democrático", classificou.
"Será que posso prosseguir, que consigo dar o máximo a este cargo, o máximo de energia como tenho feito ao longo destes últimos anos, a minha conclusão, por muito que me custe, tenho o dever de dizer que não", explicou.
A dirigente declarou ter amadurecido a sua decisão há muito tempo, citando também mudanças na família, a dificuldade de poder "tomar um café com uma amiga, ou sair, sozinha, para passear".
A sua saída, sem um sucessor aparente, é um golpe na causa da independência da Escócia, luta em que foi figura indiscutível, determinada e apreciada pelo público.
"Claro que há questões difíceis a confrontar agora o governo, mas quando é que isso não acontece?", referiu ainda Nicola Sturgeon.
Garantiu que vai continuar a lutar pela causa independentista e manifestou-se orgulhosa pelo trabalho realizado nos últimos anos. "A Escócia é mais justa hoje do que em 2015. Tenho muito orgulho, mas há sempre muito mais a ser feito".
Sem esconder a emoção, Sturgeon agradeceu ao marido e à família e, dirigindo-se aos escoceses, reforçou: "ser a vossa primeira-ministra tem sido o privilégio da minha vida".
A primeira-ministra demissionária disse acreditar que o seu "sucessor irá levar a Escócia à independência".
Voltou a referir que a decisão de renunciar ao cargo é um dever para com o país, por considerar não ter a energia necessária para continuar a desempenhar a função de primeira-ministra.
"Sou um ser humano (...). Eu poderia permanecer mais alguns meses, talvez seis meses, um ano. Mas com o tempo, eu teria cada vez menos energia para o meu trabalho e só o consigo fazer a 100 por cento, é o que o país merece", sublinhou.
Numa mensagem publicada nas redes sociais, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, agradeceu a Nicola Sturgeon pelos seus anos de serviço à frente do governo da Escócia
"Os meus agradecimentos a Nicola Sturgeon pelo seu longo tempo de serviço. Desejo-lhe o melhor nos seus próximos passos. Continuaremos a trabalhar em estreita colaboração com o governo escocês, num esforço conjunto para atender as necessidades das pessoas por toda a Escócia", afirmou o chefe de Governo do Reino Unido no Twitter.
Sturgeon está à frente do governo escocês desde novembro de 2014, quando substituiu Alex Salmond, depois do referendo sobre a independência da Escócia do Reino Unido - o "não" venceu com 55,3%.
Em janeiro, o Governo britânico vetou um projeto-lei que visava facilitar o processo de mudança de género a partir dos 16 anos na Escócia, defendendo a decisão com a "garantia de segurança de mulheres e crianças". A primeira-ministra da Escócia e líder do SNP considerou esta decisão do Governo do Reino Unido como um "ataque frontal" à autonomia do parlamento escocês.
De acordo com a AP, a decisão de renúncia de Nicola Sturgeon apanhou os analistas políticos de surpresa, apesar da controvérsia em curso sobre a questão da mudança de género.
Sturgeon prometeu levar o Governo britânico aos tribunais por ter bloqueado a lei e argumentou que o Governo conservador do Reino Unido estava a cometer um "erro profundo" ao vetar o Projeto de Lei de Reforma de Reconhecimento de Género.
Aclamado como um marco por ativistas dos direitos dos transgéneros, o projeto de lei permitiria que pessoas com 16 anos ou mais na Escócia mudassem o género nos seus documentos de identidade por autodeclaração, eliminando a necessidade de um diagnóstico médico de disforia de género.
Recorde-se que em novembro do ano passado o Supremo Tribunal do Reino Unido decidiu que o parlamento regional escocês não podia legislar a realização de um segundo referendo sobre a independência da província britânica a pedido do governo autónomo.
Na altura, Sturgeon manifestou-se "desapontada" com a decisão, mas afirmou que a voz dos nacionalistas não seria silenciada. Defendeu então que as próximas eleições gerais do país iriam servir de referendo sobre a independência.
"Devemos e vamos encontrar outra forma democrática, legal e constitucional através da qual o povo escocês possa expressar a sua vontade. Na minha opinião, isso só pode ser uma eleição" disse, na altura, a primeira-ministra escocesa.
A Escócia faz parte do Reino Unido, mas, como o País de Gales e a Irlanda do Norte, tem o seu próprio Governo semiautónomo com amplos poderes sobre áreas como saúde.
Com Lusa
Notícia atualizada às 13:07