Nick Clegg avisa que saída da UE vai aumentar risco de atentados

Antigo dirigente dos Lib Dem denuncia "cumplicidade" entre conservadores e trabalhistas na questão do <em>brexit</em>.
Publicado a
Atualizado a

"Pondo de parte as diferenças de linguagem e o contraste no tom, e um facto real torna-se evidente: as posições de conservadores e trabalhistas são hoje mais ou menos idênticas", declarou ontem o antigo dirigente dos liberais-democratas Nick Clegg e primeiro-ministro adjunto entre 2010 e 2015 no governo de coligação com o partido conservador, então liderado por David Cameron.

Clegg falava numa conferência sobre as consequências da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), que decorreu em Londres, e onde denunciou um "pacto de silêncio sobre o brexit entre Theresa May e Jeremy Corbyn". Para o antigo dirigente dos Lib-Dem, está-se perante "um dos atos de cumplicidade política de maior cinismo entre os dois partidos no espaço de uma geração".

O antigo governante considerou que a saída da UE põe em risco o acesso à base de dados da Europol e do espaço Schengen, aumentando o risco de atentados. O acesso é garantido no quadro do Tribunal Europeu de Justiça, instituição que May se comprometeu a abandonar, por considerar uma ameaça à soberania.

Para o liberal-democrata, que se apresenta às eleições de amanhã por um círculo onde não tem a reeleição garantida, há "acordo total" entre May e Corbyn para "a saída da União Aduaneira e do Mercado Único", para "acabar com a liberdade de movimento e negar às pessoas qualquer hipótese de terem uma palavra na decisão final". E lembrou que o envolvimento de Corbyn na campanha pela manutenção do Reino Unido na UE foi "tão morna que se tornou, na prática, invisível". Quanto a May, comentou que esta, "tanto quanto vejo, faz tudo aquilo que o diretor do Daily Mail [tabloide conservador] lhe diz para fazer".

Empregando uma linguagem contundente, Clegg considerou a saída iminente da UE uma "crise" de proporções sem precedentes e de consequências adversas para a economia britânica; e insistiu na responsabilidade de conservadores e trabalhistas naquilo que definiu como a "destruição" do peso diplomático e económico do Reino Unido no plano internacional. Deu como exemplo as recentes visitas do presidente chinês, Xi Jinping, e do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, "que estiveram na Europa (...) e nenhum deles se deu ao trabalho de visitar o Reino Unido". Para Clegg isto é prova que o atual governo conservador está a colocar o país na "cauda" da cena internacional.

Os liberais-democratas, declaradamente europeístas, têm centrada a sua campanha para as eleições de amanhã nas consequências da saída britânica da UE e seu impacto negativo para as gerações mais novas, como lembrou ontem Clegg. Só a saída do "Mercado Único", disse o antigo primeiro-ministro adjunto, "vai ter um custo de 16 mil milhões de libras [18,3 mil milhões de euros] por ano. Com este dinheiro, cada hospital do Reino Unido podia receber mais 12 milhões de libras ou entregar a cada escola cerca de 500 mil libras" por ano.

Num comentário ao resultado das eleições e às tendências expressas em certas sondagens, que revelam assinalável redução do intervalo entre conservadores e trabalhistas, Clegg defendeu que os últimos não vão sair reforçados do voto de amanhã. "Está a haver grande excitação com as sondagens, mas tudo isso é absurdo e não é mais do que espuma dos dias. O colapso dos trabalhistas na Escócia quer dizer que não têm qualquer hipótese de vitória", disse Clegg. Nas eleições de 2015, os trabalhistas só elegeram um deputado, tendo perdido 40 lugares. As sondagens para amanhã colocam o partido de Corbyn em terceiro lugar, em geral empatado com os conservadores e com intenções de voto entre os 18% e os 25%, e maior apoio no eleitorado jovem. Os nacionalistas escoceses do SNP, que advogam a permanência na UE surgem em primeiro lugar com 40% a 41% das intenções de voto.

Foram ontem conhecidas duas novas sondagens, com uma delas a manter o suspense sobre o que se vai passar amanhã. Segundo o instituto Survation, os conservadores estão com 41,5% e os trabalhistas com 40,4%, o que coloca sérios riscos à constituição de uma maioria do partido de May na Câmara dos Comuns. Os resultados da sondagem, cujos trabalhos de campo decorreram antes do ataque de sábado à noite em Londres, foram divulgados no programa Good Morning Britain da ITV.

Uma segunda sondagem, do instituto Opinium, cujos trabalhos de campo foram realizados entre domingo e ontem, coloca os conservadores em clara vantagem sobre os trabalhistas, com os primeiros a obterem 43% das intenções de voto enquanto os segundos têm 36%. A confirmar-se este resultado, o partido de May terá maioria absoluta.

Noutro plano, a Opinium revela que a imagem da primeira-ministra se deteriorou ao longo da campanha, tendo passado de uma taxa de aprovação de 21% no início para apenas 5% nos últimos dias.

[artigo:8540088]

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt