Neto acusa Marcelo de não ter "denunciado problemas do país"
Henrique Neto e Marcelo Rebelo de Sousa travaram na noite deste domingo mais um debate bastante passadista, com vários ataques e contra-ataques sobre aquilo que cada um fez até se candidatar à Presidência da República. Na SIC Notícias, o empresário acusou Marcelo de não ter aproveitado a sua posição de comentador durante largos anos para "denunciar os problemas do país" e o ex-líder do PSD frisou estar "de consciência tranquila" e disse tudo ter feito para combater os "vício dos sistema".
Para Neto, Marcelo é um dos responsáveis pelo atual estado do país, por ter sido parte do "sistema em que Portugal viveu" e lamenta que o até há pouco tempo comentador não tenha "aproveitado o tempo de antena" para atacar maleitas como a promiscuidade entre os poderes político e económico. Ao invés, salientou o candidato de Leiria, fez "truques" e comentou "fait divers e quezílias". O adversário foi contundente: "As pessoas conhecem-me. Sou escrutinado há 40/50 anos."
Puxando do trunfo da "independência" quer enquanto presidente dos sociais-democratas quer como comentador, o candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS recordou o seu papel para a viabilização de três orçamentos (enquanto António Guterres era primeiro-ministro), a sua iniciativa de revisão constitucional de 1997 que permitiu a redução do número de deputados, bem como a alteração à lei eleitoral do poder local, que veio limitar os mandatos dos autarcas. Neto ripostou dizendo que a viabilização de orçamentos teve como contrapartida a luz verde de Guterres ao referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez.
Os dois candidatos usaram, uma e outra vez, as suas equações pessoais - Neto de empresário, Marcelo de académico - e até as diferentes forma com que resistiram ao Estado Novo como trunfos, mas só voltaram a divergir de forma substantiva no final do frente-a-frente. Neto disse estar preparado para uma eventual crise política caso venha a ser o próximo inquilino do Palácio de Belém, embora tenha deixado que claro que discorda de "algumas opções" do Governo liderado por António Costa - fez a apologia de uma devolução de rendimentos mais cautelosa, com "equilíbrio" e "justiça".
Marcelo voltou a pôr-se ao lado do Executivo socialista, elogiando o "propósito inevitável" de António Costa de devolver rendimentos aos portugueses para garantir "coesão social" e permitir que as feridas da crise sejam "saradas", ainda que isso tenha de suceder sem "derrapagens orçamentais". E rematou com a ideia que tem insistentemente veiculado de que quer reduzir a crispação no debate político e contrariar a "divisão do país em dois". "Fazer pontes entre o Governo e a oposição", sintetizou.
Henrique Neto, por sua vez, terminou com um novo remoque: declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o sistema financeiro e a confiança que mantinha em Carlos Costa em plena derrocada do BES e do GES. "Também se deve lembrar que eu defendi que Carlos Costa deveria sair pelo próprio pé antes de ser reconduzido", devolveu o professor.