Netanyahu confirma "incursão" em Gaza, adiada a pedido dos Estados Unidos
Um par de horas depois de o Wall Street Journal ter avançado com a informação de que Telavive acedeu ao pedido de Washington para adiar a há muito anunciada invasão terrestre à Faixa de Gaza, o primeiro-ministro israelita dirigiu-se aos cidadãos para confirmar que a "incursão terrestre" será uma realidade, com a data definida mas que esta será mantida em segredo. Benjamin Netanyahu atirou para depois da guerra uma investigação ao falhanço na segurança que permitiu a operação terrorista do Hamas no dia 7 de outubro, na qual se incluiu como visado. Visado pela diplomacia israelita na véspera pelas suas declarações, António Guterres clarificou a sua posição, no mesmo dia em a Turquia o fez, mas em relação ao Hamas.
Os Estados Unidos terão pedido a Israel para adiar a invasão terrestre de forma a poder reforçar as defesas na região, ao que a a solicitação terá sido tido em conta, disseram fontes norte-americanas e israelitas ao Wall Street Journal. Porém, em conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro australiano Anthony Albanese, o presidente norte-americano disse que não pediu o adiamento da invasão. "A decisão é deles, mas eu não o exigi", disse Joe Biden. "O que eu lhe disse foi que, se for possível retirar estas pessoas em segurança, é isso que ele deve fazer", completou, referindo-se aos mais de 200 reféns.
Desde dia 17 as bases militares norte-americanas foram atacadas dez vezes no Iraque e três vezes na Síria por drones e foguetes, segundo o porta-voz do Pentágono Patrick Ryder. Esses ataques causaram 20 feridos ligeiros. Com os Estados Unidos a temerem que a situação piore, o reforço da proteção das bases é uma prioridade. Irão chegar à região seis sistemas de defesa aérea - daí a solicitação norte-americana. Além da Síria e Iraque, há ainda tropas norte-americanas instaladas na Jordânia, Arábia Saudita e Koweit.
Numa comunicação ao país, Netanyahu disse que Israel está a lutar pela sua existência e, como tal, os dois objetivos da guerra são "eliminar o Hamas, destruindo as suas capacidades militares e de governação; e fazer tudo o que for possível para recuperar os reféns". O chefe do governo de unidade nacional confirmou a preparação da operação terrestre. "Não vou especificar quando, como, em que número", mas que houve uma decisão unânime sobre o momento da incursão terrestre por parte do gabinete de guerra e do chefe do estado-maior.
Quanto às falhas de segurança que permitiram a incursão do Hamas causadora de 1400 mortos, Netanyahu reconheceu pela primeira vez que terá, a par de outros responsáveis, de dar respostas a uma investigação, mas que esta terá lugar depois da guerra.
Na véspera, fontes do Pentágono disseram que iria ser enviado para Israel mais material para o sistema de defesa Cúpula de Ferro. Segundo o Haaretz, o suprimento consiste em duas baterias e 300 intercetores. Joe Biden voltou a mostrar-se um férreo apoiante de Israel, ao afirmar que o país "tem o direito e a responsabilidade de responder à matança do seu povo" e que os EUA vão garantir que "tem o que precisa para se defender". Mas também criticou os "colonos extremistas" que, "ao atacarem palestinianos onde têm o direito de estar" estão a "lançar gasolina ao fogo".
Biden também voltou a referir-se à necessidade de chegar mais assistência humanitária a Gaza, enquanto o governo australiano juntou a voz ao alemão e ao chefe da diplomacia europeia no pedido de "pausas humanitárias", tal como um projeto de resolução dos EUA no Conselho de Segurança da ONU, que foi vetado pela China e Rússia.
O dia ficou ainda marcado pela resposta de António Guterres ao embaixador de Israel nas Nações Unidas. O secretário-geral mostrou-se "chocado com as interpretações erradas" das declarações da véspera, nas quais disse que os ataques terroristas "não aconteceram num vácuo". "Como se eu estivesse a justificar os atos de terror do Hamas. Isso é falso. Foi exatamente o contrário", declarou. Telavive retaliou com a decisão de não conceder vistos a representantes da ONU.
O governo israelita também condenou as palavras do presidente da Turquia. Recep Tayyip Erdogan disse que o Hamas "não é uma organização terrorista, mas um grupo de libertadores e de guerrilheiros que protegem as suas terras", enquanto anunciava ter cancelado uma visita a Israel. "A tentativa do presidente turco de defender a organização terrorista e as suas palavras incitadoras não mudarão os horrores a que o mundo inteiro assistiu", respondeu o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita.
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