Netanyahu atrás de um segundo regresso ao poder em Israel

É a quinta vez que os israelitas vão às urnas desde 2019 e, se as sondagens estiverem certas, nenhum dos blocos terá a maioria, o que pode obrigar a um sexto confronto eleitoral.
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Entre a primeira passagem de Benjamin Netanyahu pela chefia do governo israelita, de 1996 a 1999, e a segunda, de 2009 a 2021, decorreram 10 anos. Mas para o seu novo regresso ao poder podem nem ser necessários outros dois. Na quinta ida às urnas em menos de quatro anos para os israelitas, o líder do Likud é o favorito à vitória, depois da experiência de uma coligação improvável de partidos dos diferentes quadrantes políticos, incluindo pela primeira vez uma formação árabe, não ter resistido às deserções internas. Um cenário que o atual chefe de governo, Yair Lapid, quer evitar a todo o custo.

As últimas sondagens para as eleições desta terça-feira colocam os aliados de Netanyahu (nunca um partido conseguiu sozinho uma maioria para governar Israel) com 60 deputados no Knesset, a um da maioria. O Likud consegue sozinho apenas 30. O bloco rival, encabeçado pelo Yesh Atid de Lapid (que pode eleger 27 representantes) e formado pelos partidos que estão naquele que foi chamado de "governo da mudança", não vai além dos 56 deputados. Os restantes quatro vão para a aliança entre os comunistas do Hadash e os árabes do Ta"al.

Netanyahu, de 73 anos, tem o recorde de primeiro-ministro que mais tempo passou no poder em Israel, mas continua a ser uma figura que causa divisão. Vai a votos apesar de estar a ser julgado em três casos de corrupção - ele sempre negou as acusações. Lapid, o ex-apresentador de televisão, de 58 anos, é primeiro-ministro apenas desde 1 de julho. Antes ocupou a pasta dos Negócios Estrangeiros, ao abrigo do acordo de governo com Naftali Bennett, do Yamina, que chefiou o Executivo antes disso e renunciou a voltar a candidatar-se.

Nestas eleições, Netanyahu - também conhecido como Bibi - trouxe uma novidade: o "Bibi-Bus", um camião, que num dos lados tem um vidro à prova de bala, a partir de onde o ex-primeiro-ministro se podia dirigir à multidão. Foi comparado ao "Papamóvel" ou simplesmente a um aquário (o azul é a cor do Likud). "Nenhum vidro à prova de bala vai separar o meu coração do vosso" terá dito em pelo menos um desses minicomícios. Os opositores criticaram o gasto - o aluguer terá custado 200 mil euros - numa altura de crise económica.

O aumento do custo de vida foi o principal tema em debate na campanha, com o Likud a acusar o governo de falhar nas suas políticas económicas para conter a inflação. Outro tema importante foi a segurança, numa altura em que, depois de março, se multiplicaram os ataques contra soldados israelitas, mas também civis. Netanyahu sempre se apresentou como o "garante da segurança" dos israelitas.

A probabilidade de um novo impasse no Knesset - onde nas últimas eleições entraram um recorde de 13 partidos - pode afastar os eleitores das urnas. Mas nestas eleições há um novo ingrediente: Itamar Ben-Gvir, o líder e único deputado do partido de extrema-direita Otzma Yehudit (Poder Judaico). As sondagens mostram que a aliança com o Partido Sionista Religioso (cinco deputados) e com o Noam (um deputado) poderá agora eleger 15 representantes, tornando-se na terceira força no Knesset.

Ben-Gvir, de 46 anos, é um antigo membro do Kach, um partido político ultranacionalista que acabou por ser proibido por Israel e que estava na lista de terroristas dos EUA. Defende a anexação total da Cisjordânia (onde vivem 2,8 milhões de palestinianos) e foi acusado quase 50 vezes por incitamento racista contra os árabes - tendo estudado Direito para se defender. "Disse há 20 anos que queria expulsar todos os árabes, já não penso assim. Mas não vou pedir desculpa", afirmou à AFP. No domingo anunciou que quer ser ministro da Segurança Pública, algo que Netanyahu não descartou totalmente - mas, segundo a Reuters, as perspetivas de poder juntar-se ao governo deixam alguns aliados, entre eles os EUA, preocupados.

9 de abril de 2019: Netanyahu, líder do Likud, no poder há 10 anos, e os aliados tinham uma maioria de um só deputado no Knesset. Mesmo suspeito de corrupção, antecipou no final de 2018 eleições, esperando reforçar o poder. Mas após semanas sem conseguir formar governo e não querendo que o rival, Benny Gantz, tivesse oportunidade, convocou novas eleições.

17 de setembro de 2019: Nas segundas eleições em pouco mais de cinco meses, o Likud e a aliança centrista Azul e Branca de Gantz terminam praticamente empatados. Durante semanas nenhum deles consegue formar governo, o que obriga os israelitas a voltar às urnas.

2 de março de 2020: Já com Netanyahu acusado de corrupção (ele nega tudo) e com a covid-19 à espreita, as eleições terminam num novo impasse. Gantz aceita formar com Netanyahu um "governo de unidade de emergência", devendo assumir a chefia do Executivo na segunda metade do mandato. Mas, menos de um ano depois, uma disputa sobre o Orçamento leva Netanyahu a convocar novas eleições.

23 de março de 2021: Likud e a Azul e Branca perdem votos, num Knesset mais fragmentado. Após semanas de negociações e de uma guerra de 11 dias na Faixa de Gaza, Netanyahu não consegue formar governo, dando uma hipótese ao opositor Yair Lapid, do centrista Yesh Atid (que saíra da aliança). Este anuncia um acordo alargado e frágil de partidos, incluindo pela primeira vez um árabe, que têm em comum o desejo de afastar Netanyahu. Naftali Bennett, do Yamina, assume a chefia do governo, devendo passar o cargo para Lapid na segunda metade do mandato ou em caso de eleições antecipadas.

1 de novembro de 2022: Menos de um ano depois, a coligação desmoronou-se ao perder a maioria no Knesset devido a deserções. Em julho são convocadas eleições antecipadas e Lapid torna-se primeiro-ministro. Sondagens mostram que nenhum dos campos deverá conseguir a maioria, abrindo a porta a novas negociações e, em último caso, às sextas eleições desde 2019.

susana.f.salvador@dn.pt

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