Nesbo chega a Hollywood e traz sangue na neve
O cinema de Hollywood e Jo Nesbo. Poderá estar aqui o princípio de uma linda amizade, sobretudo agora que a moda da literatura scadinavian noir está a ter tanta recetividade na ficção televisiva. Antes deste The Snowman, Headhunters - Caçadores de Cabeças, de Morten Tyldum, ficção norueguesa de 2011, já tinha provado que os ambientes de Nesbo tinham potencial para boas adaptações.
Agora é a Universal a apostar neste filão. Primeiro, no começo do projeto, era Martin Scorsese o realizador. A sua ideia era levar este boneco de neve mortífero até ao inverno de Chicago mas a urgência de filmar Silêncio desviou-o deste thriller. Na linha de sucessão apareceu o sueco Tomas Alfredson, autor de Deixa-Me Entrar e de A Toupeira, uma das esperanças do novo cinema europeu de grande público.
A primeira imposição de Alfredson foi levar a ação do filme para as ruas de Bergen e de Oslo, tal como se passa no livro de Nesbo. Imposição aceite com o inglês como língua base. Nesbo deu aval à decisão e o argumento tentou respeitar esta aventura de Harry Hole, o habitual detetive destas histórias, aqui a contas com um serial killer que deixa sempre um boneco de neve antes de matar sadicamente mulheres (mães ou aquelas que acabaram de fazer um aborto). Temos, portanto, uma adaptação em pleno inverno nórdico com um detetive que precisa deste caso para tentar combater o seu alcoolismo.
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A questão aqui é perceber se um grande estúdio de Hollywood vai conseguir fazer deste filme o começo de uma franchise. Histórias com Harry Hole é o que não falta e no contrato de Michael Fassbender está esse "detalhe" assegurado. Se Millennium, de Stieg Larsson, está nessa calha de franchise para a Sony (o novo, com Claire Foy como protagonista, está agendado para 2018), a ideia da Universal é criar aqui um sucesso contínuo. Além de Fassbender, o elenco de luxo tem a atriz do momento, Rebecca Fergunson, Charlotte Gainsbourg, Val Kilmer e o vencedor do Óscar J.K. Simmons. Contudo, quando nos encontramos com o realizador, ele é perentório em afirmar que fez este filme de forma isolada e que nem lhe interessa realizar mais alguma adaptação desta série: "Fui contratado para fazer apenas este. Vamos ver como este corre... Nem pude escolher qual dos romances a adaptar. Foi este que me propuseram e, devo dizer, seria uma responsabilidade muito grande ter em conta os onze livros com esta personagem."
Parte do charme destes romances de Jo Nesbo é a descrição complexa destas personagens, em especial o atormentado Hole, interpretado com profissionalismo por Michael Fassbender. Para Alfredson, essa era uma das atrações: "Não sou grande especialista em detetives. Com Harry Hole pensámos em muita coisa e refletimos sobre o conceito do alcoolismo. Existem muitas razões para uma pessoa beber. Um alcoólico bebe para a realidade ser mais colorida ou doce, mas no caso dele é o contrário: trata-se de um homem com sensibilidade a mais e isso é que o deixa perturbado. Ele bebe para reduzir a sua sensibilidade. Por alguma razão, ele diz que precisa de um caso, que não pode parar de beber se não for investigar. Creio que é um homem viciado no seu trabalho."
O Boneco de Neve, o filme, ainda não tinha sido visto pelo seu criador. Segundo Alfredson, o escritor apenas quis ler algumas versões do argumento e foi sempre muito discreto nas visitas ao plateau: "O Jo escolheu ser depois surpreendido pela positiva."
Em Londres