Neozelandeses procuram vingar derrota humilhante de 2013
O que se passou em 2013, na final da Taça América em São Francisco (EUA), não foi apenas mau para a equipa neozelandesa (Emirates Team New Zealand, ETNZ). Foi péssimo, humilhante, devastador - uma vergonha sentida pelo país todo, onde a vela é o segundo desporto nacional, depois do râguebi.
A equipa, então liderada por Dean Barker, chegou a estar a vencer os americanos do Oracle Team USA por 8-1 - e se vencesse mais uma regata conquistaria o troféu.
Mas a equipa americana fez mudanças no barco a meio, conseguiu melhorar-lhe substancialmente o rendimento (sobretudo na navegação à bolina)e protagonizou uma das mais impressionantes recuperações de que há memória no desporto internacional.
Conquistando vitória atrás de vitória, acabou a vencer a competição por 9-8, mantendo o troféu (que já detinha desde 2010). Na Nova Zelândia, o caso obrigou a intervenções do governo (parte do financiamento do ETNZ é público). O skipper, Dean Barker, um veterano da Taça América, acabou afastado, sendo substituído por uma jovem estrela olímpica, Peter Burling (medalha de prata em Londres e de ouro no Rio de Janeiro, fazendo equipa nos 49ers com outra estrela ascendente da vela neozelandesa, Blair Tuke, que agora também integra a tripulação).
Hoje começa nas Bermudas a fase final de mais uma edição da Taça América (competição que nasceu em 1851, sendo assim o mais antigo troféu desportivo internacional do mundo, com mais meio século do que os jogos olímpicos da era moderna).
Estarão novamente em confronto as mesmas equipas de 2013: o Oracle Team USA, detentora do troféu, sempre com o australiano James Spithill ao leme (tarefa já desempenhada em 2010 e 2013); e o Emirates Team New Zealand, com Burling como timoneiro e uma tripulação renovada quase a cem por cento desde a derrota de 2013.
Vencerá quem primeiro conquistar sete regatas. Ou, no caso do Oracle Team USA (equipa americana sem um único americano a bordo), seis regatas, pois já trouxe um ponto da fase inicial da qualificação, a qual determinou que fossem os neozelandeses, de novo, os challengers finais.
Em 2013, foram os neozelandeses a protagonizar primeiro a revolução que marca a vela desde então - o uso de patilhões em forma de jota invertido, foils, que fazem os catamarãs "voarem", aumentando-lhes brutalmente a velocidade. Agora, foram novamente os mesmos a introduzir outra grande inovação: o uso de marinheiros ciclistas como geradores da energia que permite manobrar os tais foils, bem como a vela grande (que na verdade não é uma vela mas sim uma asa na vertical) e ainda as asas colocadas nos lemes. Em ambos os barcos há quatro homens com esta função de serem geradores de energia mas no Oracle usavam a força de braços (mais fraca do que a de pernas). Depois de o ETNZ ter introduzido a novidade, o barco americano conseguiu que um dos seus marinheiros fosse convertido em ciclista.
O Oracle Team USA parte com um ponto de vantagem e tendo ao leme um velejador bastante mais experiente do que Peter Burling nas técnicas agressivas do match racing (regatas de um contra um). Os catamarãs de agora continuam com velocidades máximas perto das atingidas em 2013 (44/45 nós) apesar de serem mais pequenos do que então (15,2 metros contra 21,9). A grande diferença é que agora fazem toda a regata a "voar" e antes quase só o conseguiam com vento a favor. Até dia 27 saber-se-á quem irá vencer.