Nem só de republicanos e democratas se faz a história das presidenciais
Parece inquestionável que o Óscar de melhores gafes da campanha eleitoral seja atribuído a Donald Trump. O site Político tem mesmo uma lista das "37 que não mataram" as aspirações do magnata nova-iorquino e que teriam "acabado com qualquer outro político". Ainda assim, um dos deslizes mais comentados não pertence ao republicano, mas sim a Gary Johnson, o candidato à Casa Branca pelo Partido Libertário. Tudo aconteceu a 8 de setembro, durante uma entrevista à MSNBC.
- "Se fosse eleito, o que faria em relação a Aleppo", questionou o jornalista.
- "O que é Aleppo?", foi a resposta-pergunta de Gary Johnson.
- "Está a brincar comigo".
- "Não".
- "Aleppo é na Síria", viu-se obrigado a explicar o repórter Mike Barnicle.
Gary Johnson, a acreditar nas sondagens, será o terceiro classificado nas eleições do próximo dia 8 de novembro. De acordo com o site Real Clear Politics, neste momento soma 5,6% do voto popular. É a segunda vez que tenta chegar à Casa Branca. Em 2012, também foi ele o nomeado pelo Partido Libertário. Nessa altura conseguiu 1,2 milhões de votos (1%) e também ficou com o último lugar do pódio, atrás de Barack Obama e de Mitt Romney.
Empresário e ex-governador do Novo México (1995-2003), nesta corrida eleitoral Gary Johnson conseguiu o que nos últimos 20 anos nenhum outro candidato por outros partidos que não o Democrata e o Republicano conseguira: o seu nome vai constar no boletim de voto em todos os 50 estados.
O quarteto dos concorrentes mais importantes fecha-se com outra mulher, Jill Stein. Tal como Johnson, é também a segunda vez que a nomeada pelos Verdes tenta a sua sorte numas eleições presidenciais norte-americanas. Em 2012 não foi além dos 469 mil votos (0,36%). Licenciada em medicina e descendente de judeus russos, Stein verá o seu nome em 45 boletins de voto e é a única candidata secundária, além de Johnson, a figurar em sondagens a nível nacional. A média das mais recentes disponibilizada pelo Real Clear Politics atribui-lhe 2% das intenções de voto.
Tendo em conta o sistema eleitoral norte-americano, baseado no sistema o vencedor-leva-todos, é quase impossível que Jill Stein ou Gary Johnson consigam eleger grandes eleitores, aqueles que depois vão decidir quem será o presidente (no total são 538, distribuídos por 50 estados). Entre os candidatos secundários, o único que acalenta essa possibilidade é Evan McMullin.
Se este ex-agente da CIA conseguisse conquistar o Utah - uma sondagem publicada no dia 19 dá-lhe a liderança - seria o primeiro candidato não republicano e não democrata a conseguir vencer um estado desde que em 1968 George Wallace, ex-governador do Alabama, venceu em cinco e reclamou 46 grandes eleitores.
Dissidente do partido democrata, Wallace era um segregacionista do Sul, que se opunha à igualdade de direitos entre raças. Em 1963 fez questão de colocar-se à porta da Universidade do Alabama para impedir que dois estudantes negros, Vivian Malone e James Hood, se inscrevessem como alunos. Depois de em 1968 ter conseguido 13,5% do voto popular e conquistado o Arcansas, o Luisiana, o Mississipi, o Alabama e a Geórgia, na corrida eleitoral seguinte, em 1972, Wallace regressou aos democratas e concorreu às primárias. Estava bem posicionado na disputa quando foi baleado numa tentativa de homicídio. Ficou paraplégico. "É difícil imaginar o que seria a política norte-americana dos anos 60, 70 e 80 sem George Wallace. Julgo que não há uma única questão no discurso social de Nixon e de Reagan que ele não tenha aflorado primeiro", afirmou Dan Carter, professor de história da Universidade de Emory e biógrafo de Wallace, numa entrevista em 1994.
O mais recente candidato secundário a dar que falar numas eleições foi Ralph Nader, o candidato dos verdes em 2000. A nível nacional não foi além dos 2,74% dos votos, mas poderá ter sido ele o responsável pela vitória de George W. Bush contra o democrata Al Gore. No estado da Florida a diferença foi de apenas 537 votos em favor do republicano. Nader conseguiu mais de 97 mil. O mais provável é que, sem ele, Al Gore tivesse vencido o estado e bastaria isso para que tivesse sido eleito presidente.
Recuando até 1912 encontramos outro candidato por um partido que não o Republicano ou o Democrata que fez história. Mas Theodore Roosevelt não era um ilustre desconhecido, já tinha no currículo o carimbo de ex-presidente dos Estados Unidos. Nas eleições de 1900 foi o companheiro de corrida do republicano William McKinley. Depois do homicídio do presidente, em 1901, Roosevelt saltou da vice-presidência para o lugar mais alto na hierarquia, com apenas 42 anos.
Na corrida eleitoral seguinte, em 1904, bateu nas urnas o democrata Alton Parker e assegurou a continuidade na Casa Branca por mais quatro anos, garantindo, porém, que não voltaria a concorrer em 1908. Cumpriu a promessa. Quem lhe sucedeu foi William Howard Taft, mas o Partido Republicano acabou por ver-se enredado numa crise interna, dividido entre fações mais e menos progressivas.
Essa fratura levou a que Roosevelt, em 1912, decidisse avançar sozinho, tendo formado o Partido Progressista. Os democratas, liderados por Woodrow Wilson, venceram com 41,8% e Theodore Rossevelt, o ex-presidente e dissidente republicano, ficou em segundo com 27,4%. Taft viu-se relegado para terceira escolha, com apenas 23,2% do voto popular.
Em 1924 foi a vez de outro dissidente republicano usar o nome Partido Progressista como plataforma para a candidatura à Casa Branca. Robert M. La Follette venceu no seu estado natal, o Wisconsin, e conseguiu 17% do voto popular. Durante a campanha recebeu o apoio de muitos democratas, descontentes com o perfil conservador do seu candidato, John W. Davis. As eleições foram ganhas pelo republicano Calvin Coolidge.
Em 1992, um pouco à semelhança de Donald Trump - e também com o apelido Clinton na corrida -, surgiu entre os competidores presidenciais um homem de negócios chamado Ross Perot. Já nessa altura aproveitando o descontentamento com os dois maiores partidos e com a elite política, o texano conseguiu o melhor resultado de um candidato não republicano e não democrata desde Roosevelt em 1912. Conquistou quase 20 milhões de votos (18,9%), mas não venceu em nenhum estado, falhando por isso a eleição de grandes eleitores.
A contenda eleitoral foi ganha por Bill Clinton com 43%. Em segundo lugar ficou George H. W. Bush, com 37,4%. Perrot voltaria a entrar na disputa quatro anos mais tarde, em 1996, mas desta vez ficou-se pelos 8,4%. No próximo dia 8 de novembro, como maiores representantes dos mais pequenos, têm a palavra Gary Johnson, Jill Stein e Evan McMullin.