Nelson Évora já tem Fernanda Ribeiro a um só salto (medalhado) de distância

Português voltou a conquistar mais uma medalha no triplo salto, com a prata nos Europeus de pista coberta, e está quase a igualar a antiga fundista como o atleta nacional mais medalhado de sempre em grandes competições
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Superado o calvário de lesões que quase lhe estragou a carreira, entre 2010 e 2014, Nelson Évora parece ter encontrado o segredo da longevidade. Quase a completar 35 anos, o (ainda) mais recente campeão olímpico português (em Pequim 2008) conquistou mais uma medalha numa grande competição internacional, ao sagrar-se vice-campeão europeu do triplo salto em pista coberta.

O atleta do Sporting não conseguiu defender os títulos conquistados em 2015 e 2017, mas o salto de 17.11 metros obtido em Glasgow valeu-lhe a 11.ª medalha em Europeus, Mundiais ou Jogos Olímpicos - às quais acrescenta ainda duas de ouro nas Universíadas, competição dedicada a estudantes universitários. E deixa-o a um salto (com medalha) de distância da antiga fundista Fernanda Ribeiro, também ela um dos quatro ases campeões olímpicos portugueses (grupo de elite completado por Rosa Mota e Carlos Lopes) e que colecionou 12 medalhas em grandes provas internacionais, ao ar livre e em pista coberta.

Prova da longevidade invulgar de Nelson Évora na alta-roda do atletismo mundial - ainda para mais numa disciplina tão fisicamente exigente quanto a do triplo salto -, esta medalha de prata obtida nos Europeus de pista coberta chega 12 anos depois do primeiro pódio internacional do saltador nascido na Costa do Marfim e filho de pais cabo-verdianos que veio viver para Portugal aos cinco anos.

"Saio satisfeito na mesma, pois alcancei uma medalha, e seja qual for a cor é sempre uma honra representar da melhor forma as cores de Portugal", reagiu no final da competição em Glasgow, este domingo, prometendo ambição para continuar a aumentar a coleção de metais preciosos: "Continuo a ter fome de medalhas."

Em 2007, Évora apresentou-se à elite mundial com um salto de ouro nos Mundiais de Osaka, no Japão, com uma marca de 17.74 metros que se manteve como recorde nacional até há pouco tempo, batida pelo luso-cubano Pedro Pablo Pichardo no ano passado. Évora repetiu a façanha no ano seguinte, nos Jogos Olímpicos de Pequim, e nos Mundiais de 2009 ganhou a medalha de prata.

Foi o último pódio em grandes competições internacionais antes da travessia de um inferno de lesões que começaram em 2010 e se prolongaram até 2014, com cinco cirurgias pelo meio - no ano mais crítico, em 2012, foi operado três vezes e correu mesmo o risco de ficar sem a perna devido a uma infeção.

Foi já depois dos 30 anos que Nelson Évora conseguiu relançar a carreira, com o título europeu de pista coberta em 2015, em Praga, a que juntou no mesmo ano o bronze nos Mundiais ao ar livre. Seis anos depois, o português estava de volta aos pódios. E, tem mostrado desde então, ainda a tempo de recuperar o tempo e as medalhas "roubados" pelas lesões.

Depois de um interregno nos pódios em 2016, ano de Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, Évora separou-se do seu treinador de sempre, João Ganço, e foi treinar para Madrid com o antigo campeão olímpico cubando Iván Pedroso. "Agora, tenho um grupo de treino em que são todos Ferraris. Nenhum dos meus colegas de treino é um atleta mediano, são todos atletas com capacidade para fazer coisas incríveis todos os dias", disse na altura.

E os pódios voltaram a ser uma constante. Não falhou um único, nas grandes competições internacionais em que entrou desde 2017: nesse ano, revalidou o título europeu de pista coberta e foi terceiro nos Mundiais ao ar livre; no ano passado, ganhou o bronze nos Mundiais de pista coberta e conquistou o único título que lhe faltava ao ar livre, nos Europeus de Berlim; agora, mais um pódio, com o segundo lugar nos Europeus de pista coberta, onde cedeu a coroa de campeão a Nazim Babayev, do Azerbaijão, que saltou 17.29, batendo largamente o seu recorde pessoal.

Para Évora, os 17.11 metros foram a melhor marca pessoal do ano e a confirmação de que continua a ser uma atleta que se "alimenta" das grandes competições, onde costuma superar-se. Um bom sinal também para o que aí vem, ainda este ano, com os Mundiais de Doha (Catar) agendados para o final de setembro. Aí, deverá já ter a concorrência do "novo" português Pedro Pablo Pichardo, que só então poderá competir internacionalmente por Portugal, depois da naturalização. E terá também a oportunidade para tentar igualar então Fernanda Ribeiro no lugar mais alto do pódio dos atletas portugueses mais medalhados de sempre.

A antiga fundista, campeã olímpica dos 10 mil metros nos JO de Atlanta 1996, somou 12 medalhas de elite na carreira, entre o ouro nos Europeus de pista coberta de 1994 e o bronze nos JO de Sidney 2000. No total, foram cinco de ouro, quatro de prata e três de bronze. Évora, que vai em 11, tem também cinco de ouro, duas de prata e quatro de bronze. Com 10 medalhas cada, Rui Silva e Naide Gomes repartem o terceiro lugar nesta lista histórica.

Patrícia Mamona e Susana Costa a quatro centímetros do pódio

O segundo lugar de Nelson Évora no triplo salto de Glasgow permitiu a Portugal fechar da melhor maneira a participação nestes campeonatos, com a única medalha da comitiva - e a 24.ª de sempre para o País em Europeus de pista coberta. O último dia, este domingo, começou com Patrícia Mamona e Susana Costa a ficarem a apenas quatro centímetros da medalha de bronze no triplo salto feminino, ambas com saltos de 14.43 metros.

"Não estou contente porque sei e sinto que estou a valer mais do que saltei. Tive corridas melhores, finalmente estou a conseguir ajustá-la, mas a parte técnica não estava tão boa. Infelizmente não saiu hoje o resultado", afirmou Mamona, quarta calssificada e que tinha sido vice-campeã em 2017.

"Estar na final significa que também podemos acreditar em algo mais. Mais cinco centímetros seriam suficientes. Tentei chegar lá, dei o que tinha e o que não tinha, mas feliz ou infelizmente foi o que consegui. É o meu recorde pessoal, por isso não posso estar descontente", reagiu, por seu lado, Susana Costa, quinta classificada.

No final, esta foi a primeira vez desde 2002 que Portugal não regressa com o ouro, mas mantém a tradição de colecionar medalhas desde 1994. Este ano, terminou na 20.ª posição do medalheiro, apenas com a prata de Nelson Évora e com dois "quase-pódios" nos quartos lugares de Patrícia Mamona e Francisco Belo (no peso masculino).

Destaque ainda, no último dia, para a vitória do polaco Marcin Lewandowski, atleta do Benfica, nos 1500 metros, onde revalidou o título batendo a nova coqueluche norueguesa Jakob Ingebrigtsen, enquanto a britânica Lana Muir conseguiu completar a dobradinha 1500/3000 metros no setor feminino.

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