Neil aos 70 anos: este sim, é Young para sempre
Se o comum dos mortais conhecesse o nome completo do artista, ganharia uma pista - ao menos simbólica - para perceber a razão pela qual ele manifesta e exerce uma vigorosa mistura de inquietação e de procura. Ora bem: o homem em causa, nascido em Toronto, Canadá, há quase 70 anos (completam-se na quinta-feira, dia 12), chama-se Neil Percival Young e, muito embora os nomes inicial e final cheguem e sobrem para o seu reconhecimento automático, o nome do meio tem que se lhe diga. De acordo com os ensinamentos da Literatura, Percival foi um dos cavaleiros que participaram da Távola Redonda, liderada pelo Rei Artur, e notabilizou-se, de forma particular, na Demanda do Santo Graal. O esforço não se afigura exagerado na transposição desta demanda para aquela que o cantor, compositor, autor e multi.instrumentista vem cumprindo, há quase meio século, no domínio da sua actividade, recusando fórmulas resolventes, persistindo em experimentar e transformar, mantendo como lema a procura da diferença.
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Esta "agitação permanente" de Young ganha peso no reconhecimento crítico que o leva, muitas vezes, a servir de ponte de concórdia entre analistas de gostos aparentemente incompatíveis. Em 50 anos de atividade discográfica - o primeiro disco dos Buffalo Springfield, que o juntou a Stephen Stills e a mais alguns parceiros, foi lançado em 1966 -, este canadiano, que nunca renunciou à cidadania do seu país de origem, apesar de viver há muitos lustros nos Estados Unidos, correu as capelinhas todas: começou, no dizer de Joni Mitchell, sua amiga, compatriota e parceira de maleita (paralisia infantil), em terrenos folk e muito à sombra de Bob Dylan; incorporou a linguagem rock e misturou-as, chegando mesmo a ser acusado por Stills de "querer tocar folk num grupo rock"; tomou-se de amores pelo rockabilly, momentos em que não faltaram os fatos espampanantes e a brilhantina no cabelo; deixou-se deslumbrar, talvez pela sua condição de pequeno empresário agrícola e pecuário, pela country music; mergulhou de cabeça - mesmo que o resultado possa olhar-se como um "chapão" - na música eletrónica; temperou, amiúde, as suas apresentações em palco e em disco de elementos chegados ao psicadelismo; abraçou, eventualmente em passagens mais abrasivas da sua vida, as regras do hard rock. Não é pouco, mesmo que consideremos a extensa discografia de Young.