Negócios de uma vida
Em julho de 2008, quatro empreendedores fizeram o negócio das suas vidas. Carlos Oliveira, António Murta, Gastão Taveira e Nestor Ribeiro venderam à Microsoft a empresa que tinham fundado no longínquo verão de 2000. O investimento inicial na MobiComp, uma startup de soluções de mobilidade, foi de cinco mil euros, mas o valor pago pela Microsoft foi de algumas dezenas de milhões de euros. Uma oportunidade única. A inovação e o talento destes fazedores de Braga chamaram a atenção do colosso fundado por Bill Gates.
Esta tem sido, muitas vezes, a estratégia seguida pelas grandes empresas. Quando não criam dentro de portas as suas próprias incubadoras, compram diretamente aos seus fundadores startups de sucesso. Foi o que aconteceu com a MobiComp. Mas isso, como disse na altura Carlos Oliveira, agora presidente da BragaInvest, o braço da cidade para a captação de investimento, é uma oportunidade que não aparece duas vezes na vida. Aliás, na maior parte dos casos nunca acontece. A simples relação entre uma empresa e uma startup, de cliente e fornecedor, é difícil de conseguir. O que tem enormes desvantagens no novo mundo da Indústria 4.0. A inovação tecnológica acontece a um ritmo alucinante e nem uma grande empresa se pode dar ao luxo de viver distante do ecossistema empreendedor. "Temos de conseguir ligar grandes empresas e startups", disse ontem em Braga o administrador da Bosch, Lutz Welling, em mais uma conferência do Dinheiro Vivo dedicada ao tema da Indústria 4.0. Como? A solução ainda não existe, explica o gestor, pois elas vivem em dois mundos diferentes. O desafio é, então, conseguir juntá-las, ter o melhor de dois mundos, conciliar a experiência, a solidez e a organização das grandes empresas com o atrevimento, o rasgo e a informalidade de uma startup. Mais uma vez, como? Um dos fazedores que, também ontem, esteve em Braga confirmava que um dos maiores desafios que encontrou na sua Peekmed é precisamente fazer com que as grandes empresas acreditem nas suas propostas de valor. O que é um trabalho contínuo.
Outro fazedor, fundador da Performetric, critica a elevada hierarquização que existe numa grande empresa na tomada de decisões. Tudo é muito demorado para a velocidade de uma startup, frisou André Pimenta. Também por isso a Performetric está a posicionar-se nos mercados dos Estados Unidos e do Reino Unido. Juntá-las é, sem dúvida, um desafio a superar neste processo irreversível e contínuo de adaptação das empresas portuguesas à Indústria 4.0. Todos sairão a ganhar, pelo que é fundamental avançar antes que apareçam mais empresas estrangeiras a comprar as nossas startups talentosas. Seriam negócios de uma vida, mas também talento, inovação e criação de valor a deixar Portugal.