Negócio da morte envolve 400 milhões

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Em Portugal, realizam-se aproximadamente 109 mil funerais por ano . Um valor que resulta do número de óbitos registados anualmente pelo Instituto Nacional de Estatística e que representa um montante de 163,5 milhões de euros só nos ritos fúnebres, que podem custar em média 1500 euros. No entanto, este sector é constituído ainda por muitos fabricantes e o total desta actividade pode envolver até 400 milhões de euros. É o número avançado pela Ecorex, uma empresa de feiras e exposições que estuda em permanência o sector funerário.

Em Portugal, "a situação está a anos-luz do que acontece lá fora, em termos de profissionalização, qualidade e desenvolvimento dos serviços", afirma Paulo Rodrigues. Para além das limitações dos agentes económicos, o vice-presidente da Associação de Agentes Funerários de Portugal aponta ainda que "o sector público está carente de estruturas nos hospitais, nas câmaras e nos cemitérios".

As agências funerárias encarregam-se de todos os trâmites relacionados com o funeral do registo do óbito nas conservatórias, passando pelas diligências necessárias à obtenção de uma certidão de óbito (que é passada por um médico), até à marcação das capelas mortuárias e dos serviços religiosos. "As agências funerárias prestam um serviço, não vendem urnas. Por cada funeral, temos trabalho que dura cerca de um mês", explica Paulo Rodrigues.

Outro problema das agências funerárias diz respeito à disparidade de taxas cobradas pelas autarquias para a realização dos funerais. Diferenças encontradas também nos preços das sepulturas perpétuas podem ser de mil ou dois mil euros a 30 quilómetros das grandes cidades, mas chegam aos nove mil euros em Lisboa. "Nem na época áurea da especulação imobiliária encontramos estes valores por metro quadrado", afirma Carlos Almeida.

Sérgio Guerreiro, da Ecorex, salienta que "este é um sector com muitas potencialidades , mas está carenciado de um sem número de novidades que aparece no mercado, nomeadamente no estrangeiro, como os produtos químicos para o tratamento do corpo". Responsável pela realização três feiras de artigos funerários (uma em Lisboa e duas no Porto), a Ecorex não realiza esta iniciativa há quatro anos. "O mercado, nomeadamente alguns fabricantes, não se mostra interessado", explica o responsável. Contrariamente ao que se passa noutros países, onde estes certames têm regularidade e relevância para o mercado.

Cerca de 98% do sector é constituído por pequenas e médias empresas, maioritariamente de monoestabelecimentos. Em Portugal opera apenas uma multinacional, que começou por ser norte-americana, mas é agora constituída por capital espanhol a Servilusa, que quer construir, na área da Grande Lisboa, um grande centro mortuário, à semelhança do que existe em Espanha (ver texto ao lado). Mas poderá deixar de ser a única estrangeira em Portugal durante muito tempo. Carlos Almeida garante que a principal preocupação da congénere espanhola do ICEP é "a entrada de outras funerárias em Portugal".

Os agentes queixam-se, contudo, de "abandono" por parte do Estado, que não fiscaliza a actividade, apesar de o volume de serviços prestados ser facilmente verificável. Uma situação que penaliza "as empresas registadas" e beneficia quem foge ao cumprimento das obrigações.

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