Naus portuguesas são alvo fácil de caça-tesouros

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A nau encontrada recentemente na Namíbia e que se crê seja portuguesa é apenas mais uma de um grupo de cerca de 30, da época das Descobertas, que têm sido identificadas e cuja maioria é destruída e roubada pelos caçadores de tesouros.

"Portugal não pode continuar com a inércia que lhe é habitual. Destas 30 naus, só uma, a N.ª S.ª dos Mártires, em São Julião da Barra, é que foi escavada por arqueólogos portugueses. Ao contrário, os espanhóis requereram para si os navios e não admitem que os caçadores de tesouros lhes toquem. Têm posto processos em tribunal, já ganharam por duas vezes, como aconteceu com o Juno e o Galga, ambos do século XVIII", revela, ao DN, Filipe Vieira de Castro, professor de arqueologia marítima numa universidade do Texas e especialista em navios dos séculos XVI e XVII. O especialista acha estranho que o Governo português não tenha assinado o acordo bilateral que os EUA puseram à disposição dos países para protecção do seu património.

Segundo Filipe Vieira de Castro, a nau encontrada não deve correr perigo: nesta operação, a decorrer na costa namibiana, estão envolvidos "especialistas de óptima qualidade técnica".

Como o 'space shuttle'

A nau encontrada na costa da Namíbia numa prospecção da empresa de diamantes De Beers que Filipe Vieira de Castro acredita ser do período entre o final do século XV até 1540, tem uma tecnologia que, em soud byte, pode ser comparada à dos actuais Space Shuttle. "Nesta altura, as naus seguiam de Lisboa até Cochim, por exemplo, muitas vezes sem porem o pé em terra. Levavam 400 pessoas, comida e água para todos. Eram naus extraordinariamente estáveis, resistentes, capazes e velozes", explica o especialista. Uma nau deste tipo é sinónimo "de uma construção naval fantástica detida pelos portugueses da altura".

E a nau da Namíbia devia, em sua opinião, seguir para a Índia. "Os lingotes de cobre costumavam ser trocados por pimenta. E as presas de elefante podiam ter sido levadas de Lisboa para serem trabalhadas na Índia, ou o navio podia ter passado por Cabo Verde, onde havia um grande entreposto." Opinião contrária tem o historiador e também especialista em naus, Francisco Contente Domingues. Embora ainda esteja renitente em fazer declarações, face aos poucos dados revelados, considera que a nau regressava da Índia. "Para ter naufragado ali, só podia vir da Índia, porque os barcos que iam para lá não tomavam aquela rota."

Quanto à presença das moedas espanholas e portuguesas "costumavam seguir para a Índia para pagar a pimenta, mas podiam neste caso pertencer aos grandes dignatários do Oriente que nestas viagens traziam as suas fortunas". Independentemente do sentido desta nau da Carreira da Índia, o historiador também classifica este achado como "verdadeiramente extraordinário".|

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