National Gallery, a arte que nos fala
Aos 85 anos, Frederick Wiseman continua a filmar ao mesmo ritmo do homem de 37 que começou o intenso ofício de documentarista com Titicut Follies (1967), o primeiro de muitos olhares sobre o fenómeno institucional, neste caso num hospital criminal psiquiátrico de Massachusetts.
National Gallery, o mais recente filme, fazendo prevalecer a atitude do observador veterano sobre uma instituição, é necessariamente das suas mais contemplativas e refinadas obras documentais, em que se terçam conversas e discursos de guias, intelectuais, galeristas, gestores de marketing, curadores e restauradores. O discurso, na sua transparência quotidiana, é o que acima de tudo interessa a Wiseman, enquanto sintoma do funcionamento das organizações. Na singularidade do museu londrino, a experiência artística convida, pois, à extensa prática de análises discursivas sobre os quadros. E Wiseman foca-se nessas narrativas que saem das pinturas, provando que o discurso é a peça fundamental para seduzir o interesse comum, ou seja, levar as pessoas a dialogar com a arte - condição decisiva na vida de qualquer museu.