Natação prepara-se para adoptar passaporte biológico
A Federação Internacional de Natação (FINA), que já tinha feito, na primeira metade da década passada, colheitas de sangue na óptima de detectar substâncias proibidas, decidiu retomá-las em ano pré-olímpico, encontrando novamente interesse científico nesses testes.
O número de testes sanguíneos, menos de uma dezena durante a competição na China, continua a ser modesto, mas anuncia o grande passo que a FINA se prepara para dar, que deverá, em Agosto luz, dizer sim à implementação do seu passaporte biológico. "A FINA está a estudar a proposta e deverá tomar uma decisão dentro de uma semana", explicou o director da comissão de controlo antidopagem, Andrew Pipe, à AFP.
Depois de a Agência Mundial Antidopagem (AMA) ter estabelecido uma carta regulamentar para o passaporte biológico, em Dezembro de 2009, e sobretudo depois de o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) ter reconhecido a sua validade científica, em 2009 e 2010, cada vez mais federações estão tentadas a enriquecer a sua panóplia antidoping com este documento electrónico que permite detectar indícios de práticas dopantes através dos efeitos observados no organismo.
Esperanças para Londres 2012
O passaporte, que consiste na elaboração dos perfis dos atletas, através de vários parâmetros biológicos, tais como o hematócrito ou a taxa de hemoglobina, permite não só melhorar o planeamento dos controlos, em caso de anomalias, mas também detectar certas práticas que escapam aos controlos clássicos.
Atingida no passado pelo doping chinês e leste-alemão, a natação figura entre os bons alunos em matéria antidopagem, mesmo tendo que lidar com problemas mais urgentes para resolver, como os controversos fatos de poliuretano. Em 2010, a FINS realizou 1848 controlos, um terço fora de competição, visando 690 nadadores.
Por agora, o projecto da FINA é apenas um projecto piloto. Difícil é saber se os perfis, cuja elaboração necessita de vários testes, estarão prontos a tempo dos Jogos Olímpicos de Londres 2012. "Tenho esperança", diz apenas Andrew Pipe.
"Hipótese"
A FINA olha para o perfil sanguíneo com interesse há vários anos, mas hesitou sobre o caminho a seguir, ao contrário de outros como o ciclismo, o esqui de fundo, o biatlo, a patinagem de velocidade, que já usavam esses perfis antes mesmo do passaporte para impedir atletas de se apresentarem em provas, caso apresentem hematócritos muito elevados, explica Martial Saugy, director do laboratório antidopagem de Lausana.
"A posição da natação foi dizer: se começamos a fazer controlos sanguíneos é preciso explicar aos atletas o que se vai fazer e que decisões podem vir a ser tomadas. O passaporte apresenta-se como o momento oportuno para fazer isso", explica o cientista suíço, um dos criadores do passaporte.
Como ele, a sua colega do laboratório de Montreal, Christiane Ayotte, considera "essencial" para uma grande federação ter perfis sanguíneos: "É útil para ver a dopagem sanguínea: as transfusões e a eritropoietina (EPO) que não se pode detectar, porque actualmente as doses de EPO usadas são muito baixas e a são menores as hipóteses de que sejam detectados os poucos vestígios (na urina), ainda que os benefícios continuem a se sentir."