Nasceram além-fronteiras mas quiseram jogar por Portugal

Anthony Lopes, Raphael Guerreiro, Adrien, Cédric, Pepe, Danilo, Éder e William podiam ter optado por jogar noutra seleção
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Portugal hoje podia ter oito nomes diferentes na sua convocatória, caso os futebolistas tivessem que representar a seleção dependendo do país onde nasceram ou se os mesmos tivessem feito outras opções, perfeitamente legítimas.

Essa situação abrange os "franceses" Anthony Lopes, Raphael Guerreiro e Adrien, o "alemão" Cédric Soares, o "brasileiro" Pepe, os "guineenses" Danilo e Éder e o "angolano" William Carvalho.

E aqui estas histórias dividem-se em três planos muito distintos. Anthony Lopes e Raphael Guerreiro nasceram e viveram sempre em França mas são filhos de portugueses. Cédric e Adrien também nasceram em solo estrangeiro, o lateral em Singen, na Alemanha, e o médio em Angoulême, em França, mas vieram muito cedo para Portugal, situação similar às de Éder, William e Danilo, cujos pais vieram viver para Portugal provenientes de África.

E depois há Pepe, que chegou com 18 anos ao Marítimo, ganhou notoriedade em Portugal, principalmente ao serviço do FC Porto, e um dia, já no Real Madrid, pediu uma reunião ao selecionador Luiz Felipe Scolari para explicar porque queria representar Portugal, situação que chegou a irritar os seus compatriotas brasileiros, no Euro 2008, quando o central revelou indiferença para com um resultado do escrete canarinho.

Para quem sempre viveu fora de Portugal não deve ser fácil a escolha, mas Raphael Guerreiro, filho de pais portugueses, matou o assunto desde cedo quando fez a sua escolha. "Vou ser claro: escolhi Portugal. É a minha escolha e ninguém, família ou o meu empresário, tentou influenciar-me."

Curiosamente a mesma expressão utilizou Anthony Lopes, que ainda pode mudar de ideias pois não fez qualquer jogo oficial pela seleção A portuguesa, já em Marcoussis, localidade onde Portugal se encontra alojado no Euro 2016. "A minha decisão foi tomada sozinho. Não é uma coisa que se explique. Sentes isso em ti. Sinto-me mais português do que francês."

Cédric, ex-jogador do Sporting que atualmente representa o Southampton, é filho de dois emigrantes que se conheceram na Alemanha. Veio cedo para Portugal, ainda não tinha 4 anos, porque os seus pais queriam que os filhos estudassem em Portugal.

Sem dúvidas nenhumas

Mais tarde do que Cédric, "só tinha 11, 12 anos", regressou Adrien Silva a Portugal. Nasceu em Angoulême, mas fez a sua infância toda em Bordéus, onde tem "amigos", como conta ao DN Jeremy Silva, irmão do médio do Sporting.

"O Adrien nunca teve dúvida nenhuma sobre a seleção que havia de representar. Foi para Portugal muito cedo e agora já tem 27 anos. Para nós, família, ele é mais português do que francês. Diria que a personalidade e a mentalidade do meu irmão são tipicamente portuguesas. Ele só nasceu em França no papel", revela o irmão mais velho do número 23 do Sporting e da seleção que continua a viver em França, como se percebe pelo português com pronúncia gaulesa.

Jeremy diz ainda que, na verdade, Adrien nunca colocou a possibilidade de representar a França, isto apesar de a mãe de ambos ser francesa: "Nunca houve verdadeiramente essa possibilidade. Ele esteve um ano no Paçô, que é perto de Arcos de Valdevez, e depois foi para o Sporting e aí começou só a pensar em chegar à equipa principal do Sporting. Houve uma altura, estava ele nas camadas jovens, em que a federação francesa pediu informações mas ele disse que queria representar Portugal. E nós estamos contentes por ele ter chegado onde chegou "

Como é sabido, Adrien só conseguiu ser internacional A já com Fernando Santos. Mas isso nunca o levou a desistir e a ponderar uma inversão na camisola da seleção a vestir: "Não, isso nunca, desistir não faz parte da mentalidade do Adrien. Ele até podia pensar que seria complicado representar Portugal, mas também não era fácil ser internacional pela França. Ele nunca desistiu e eu, e a minha família, temos uma enorme admiração pelo percurso que ele tem feito." Confrontámos Jeremy com a possibilidade de a mãe, por ser francesa, ter sofrido um pequeno desgosto com a opção de Adrien, mas, afinal, mãe é sempre mãe. "Longe disso. O Adrien está feliz e a cumprir os seus sonhos e por isso a nossa mãe também está e sempre apoiou a escolha dele."

O que é facto é que Angoulême é apenas a cidade onde Adrien Silva nasceu. E pouco mais. "Angoulême foi uma passagem rápida dos meus pais e onde ele, por acaso, nasceu. Nós vivemos e crescemos em Bordéus, onde temos muitas recordações de infância. As duas cidades nem são longe, ficam a uma hora e meia de carro, e como temos perto de Angoulême os nossos avós paternos, vamos lá frequentemente visitá-los", conclui.

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