NASA dá ínico à Missão Artemis com os olhos postos na Lua
"Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade" disse Neil Armstrong depois de caminhar sobre a Lua. Foi em 1969, na missão Apollo, que o homem pisou pela primeira vez a Lua. O mundo inteiro via o momento pela televisão através de uma câmara instalada no Módulo Lunar (ML). A última vez que o homem foi à Lua foi em 1972. 50 anos depois, a NASA inicia hoje a missão Artémis. Um marco para "todos nós que olhamos para a Lua e sonhamos com o dia em que a humanidade irá voltar à superfície lunar. Essa jornada, a nossa jornada, começa com o Artémis I", como frisou o administrador da NASA e antigo astronauta, Bill Nelson.
A missão Artémis I -- um voo teste sem tripulação, vai incluir o primeiro lançamento do enorme foguetão do novo Sistema de Lançamento Espacial --, tem lugar esta segunda-feira. O lançamento será feito no Centro Espacial Kennedy da NASA, na Florida. O SLS, com um custo aproximado de 12 mil milhões de euros e a cápsula acoplada Orion vão ser responsáveis por levar o homem ao espaço no futuro.
Artémis I fará uma órbita à lua, incluindo um voo sobre a face oculta do satélite natural da terra, numa missão que irá durar 42 dias. Depois, voltará à Terra. Mike Sarafin, chefe da missão, diz que "o principal objetivo é expor o escudo térmico da Orion às condições de recuperação lunar". A cápsula viajará a cerca de 39.400km/h e experimentará temperaturas com cerca de metade do calor do sol. O voo seguinte será Artémis II, que já será tripulado, mas os astronautas não sairão da nave. Por sua vez, a Artémis III, prevista para 2025, levará posteriormente a bordo a primeira mulher e a primeira pessoa negra à Lua.
O regresso do homem à Lua não é apenas voltar a pisar solo lunar, mas também iniciar um processo de colonização a longo prazo, tornando-se um ponto de partida para a exploração espacial e viagens a Marte. "A Lua é um sítio importante para a exploração de outros locais. Não são precisos tantos recursos para levar o homem à Lua como seriam necessários numa missão mais prolongada", adiantou ao DN Filipe Pires, coordenador do Núcleo de Divulgação, Centro de Astrofísica do Porto. "Marte desperta interesse. Muita da exploração dos planetas pode ser feita por robôs", no entanto, é importante que o homem consiga chegar lá, pois "toma decisões que os robôs por vezes não conseguem tomar". Da última vez que o homem foi à Lua, levaram um geólogo, Harrison Schmitt, que recolheu amostras "de um valor científico incalculável. Tinha experiência". Quando o homem chegar a Marte, o mesmo pode acontecer.
"A estação espacial em construção servirá de local estratégico para futuras missões", acrescenta. "Já para não falar que a Lua tem a vantagem de a força gravítica ser reduzida. A quantidade de combustível necessário para fugirmos do campo gravítico da Lua é muito menor do aquele que gastamos com o campo gravítico da Terra". A construção de uma nova estação espacial, Gateway, que irá orbitar a Lua é um dos objetivos desta missão onde está incluído o programa "Da Lua para Marte". A localização será na região do polo sul da Lua, devido à disponibilidade da luz solar que vai facilitar a produção da energia ao longo do ano. Os astronautas estão apenas a três dias de casa nessa estação espacial. Além disto, Orion não será usada como um módulo de comando para pousar na Lua, como era feito nas missões Apollo. O módulo de pouso lunar estará unido a essa estação espacial, que como orbita a Lua, possibilita que o pouso seja feito em qualquer parte, o que é uma novidade. A estação espacial será construída para ser utilizada como um ponto de paragem obrigatória para os astronautas. Primeiro deverão acoplar na estação para terem acesso ao módulo de pouso, para então prosseguir para a alunagem (pouso na Lua). Uma vez em solo lunar, tudo o que será necessário para a missão já estará previamente localizado em regiões estratégicas, graças às parcerias com o setor privado, como a SpaceX, "o que acontece pela primeira vez", conta Filipe Pires. Após concluírem as tarefas na Lua, os astronautas irão voltar para Gateway, de onde Orion regressará para a Terra.
"A forma como se encara a missão é diferente de há 50 anos. No final da década de 60, com a guerra fria, havia a corrida ao espaço entre os Estados Unidas da América e a União Soviética. Havia a necessidade de afirmar poder e mostrar-se como uma super potência", afirma Filipe. "Atualmente há mais colaboração e um espírito de exploração maior", a missão Artémis não pertence só à agência norte-americana NASA. A Agência Espacial Europeia, da UE (União Europeia), forneceu o módulo de serviço da cápsula Órion no Artémis I e colabora para construir o I-HAB da Gateway. O Japão está a desenvolver uma nave de carregamento de carga para a estação lunar e estuda a criação de um rover pressurizado, um local para os astronautas tirarem seus volumosos trajes espaciais. O Canadá também projeta um braço robótico para a estação Gateway. Além disso, outros 21 países assinaram os Acordos de Artémis, uma tentativa de Washington estabelecer regras para uma futura exploração internacional da lua.
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