Alexandra Borges: "Nas sociedades atuais há poderes ocultos que acham que o dinheiro pode comprar tudo"
Em que consiste o projeto editorial Grande Reportagem e Investigação (GRI)?
O GriDigital - Grande Reportagem e Investigação é um novo projeto de informação comprometido apenas com a verdade. Defendemos um jornalismo livre de pressões e de jogos de poder. Investigaremos tudo e todos. Acreditamos num jornalismo ao serviço das pessoas e que dá voz a quem não a tem. Este projeto legitima o jornalismo de investigação como um pilar do Estado de direito e da democracia. O que prometemos é que iremos garantir um jornalismo de investigação puro e duro, que ameaça alguns mas que nos protege a todos.
Nasce dentro do universo Global Media Group em formato vídeo. Trata-se de uma aposta nesta plataforma?
O GRI já está disponível em www.gridigital.pt e é uma plataforma digital de vídeo completamente inovadora, adaptada aos nossos computadores e telemóveis, para que as pessoas possam ver estas reportagens exclusivas quando, onde e sempre que quiserem. Agora todos temos uma televisão no bolso e podemos ver estes conteúdos sempre que quisermos, seja nos transportes públicos ou numa repartição de finanças, enquanto esperamos pela nossa vez. Esta plataforma vai permitir ligar todas as marcas do grupo e estará sempre atualizada com as principais notícias do dia, através do bom jornalismo que se faz em todo o grupo Global Media. Mas há mais. Nesta plataforma digital o público poderá aceder aos bastidores das reportagens, interagir connosco, denunciar situações e até encontrar dicas simples e importantes a que chamámos "Alertas", para gerir melhor os seus processos com a justiça, com as finanças, com a saúde, com a educação, etc. Achamos que o jornalismo tem a missão de garantir cidadãos melhor informados, mas também mais conscientes dos seus deveres e direitos. Todos teremos a ganhar com isso. Por último, hoje temos milhões de portugueses, nomeadamente das classes etárias dos 20, 30, 40 anos, que há muito gerem a sua vida e consomem produtos apenas no digital, e por isso é nosso dever responder a esta nova exigência da sociedade disponibilizando o bom jornalismo também neste tipo de plataformas digitais.
Vão apostar exclusivamente no vídeo ou em outros formatos?
Este grupo tem uma mais-valia grande, porque é transversal. Tem uma rádio de referência no mundo do jornalismo (TSF), títulos seculares muito valiosos, como o Diário de Notícias, outros com grande implantação no Norte (Jornal de Notícias), e tem imprensa especializada (como o Dinheiro Vivo, O Jogo, etc.). Seria estrategicamente errado o próprio grupo desaproveitar essa sinergia. Acredito que as notícias do GRI - Grande Reportagem e Investigação serão potenciadas nas marcas do grupo sempre e quando os respetivos diretores entenderem, tal como acompanhará e potenciará as notícias da atualidade destes títulos. Hoje em dia há redações cada vez mais pequenas, que para responderem às notícias do dia não têm muito tempo e muito menos para a grande reportagem, nem sequer para fazerem investigação. Esta equipa pode garantir parte desses conteúdos, complementando a oferta do grupo. Somos todos jornalistas e qualquer de nós ambiciona dar notícias em primeira mão.
Quantas pessoas tem a equipa, com que regularidade e em que website os leitores poderão visualizar os vídeos?
A equipa tem apenas cinco elementos: eu, a Sónia Pinto, uma produtora executiva que veio comigo da TVI e com quem trabalho há anos, e três jornalistas estagiárias - a Rita Sousa e Silva, a Sofia de Almeida e a Diana Gomes -, escolhidas entre centenas de jovens licenciados que eu própria entrevistei. Estas três jovens são miúdas versáteis, curiosas, inteligentes e têm a fibra de que precisam para trabalhar comigo em investigação. De início vamos apontar para uma periodicidade mensal e lançar a nossa reportagem de investigação por episódios, na plataforma www.gridigital.pt, a partir de terça-feira, 19 de abril, mas haverá mais novidades que ainda não posso adiantar. Contudo, sempre que se justificar ou tivermos notícias exclusivas, serão publicadas, em primeira mão, nesta plataforma de grande reportagem e investigação. Na plataforma GriDigital as reportagens de investigação estarão sempre disponíveis para todos poderem assistir quando e onde quiserem, no telemóvel, no computador ou mesmo facilmente espelhando no televisor. Para além disso, ainda poderão ver outros tipos de conteúdos, como vídeos de bastidores, promoções e teasers das reportagens, fóruns de esclarecimento sobre cada tema, artigos de opinião, notícias que fazem a atualidade e alertas, que são conselhos práticos para os cidadãos saberem como resolver os seus problemas.
Que tipo de assuntos pretende a equipa do GRI investigar?
Não excluímos qualquer assunto. Mas a denúncia de esquemas, de jogos de poder e a corrupção serão grandes motivações, porque é uma forma de garantir o funcionamento higienizado da democracia, defendendo as pessoas e o país. Acredito que o jornalismo de investigação complementa a justiça e reforça o Estado de direito. Defendemos um jornalismo ao serviço do país e das pessoas, que dá voz a quem não a tem e que convive, há anos, com silêncios ensurdecedores. Eu costumo dizer que o jornalismo não pode ser um emprego nem uma profissão. Sempre o encarei como uma missão - é demasiado importante para que assim não seja
Deve um país democrático estimular mais a área de investigação jornalística?
Sem dúvida. Um jornalismo de investigação forte e livre traduz-se, necessariamente, numa democracia sólida, madura e eficaz, que nos beneficia a todos enquanto sociedade. Aceitei este desafio porque, como já referi, acredito que a investigação jornalística é um importante pilar do Estado de direito. Devo dizer que a administração deste grupo de media garantiu-me toda a liberdade para gerir as minhas investigações. Repito que o único compromisso da equipa de jornalistas do GRI é com a verdade. O próprio CEO do Global Media Group, Marco Galinha, confessou estar preocupado com o atual panorama nacional do jornalismo de investigação. Tal como eu, acredita que ganhamos todos com um jornalismo independente, imparcial e isento. Aliás, pelas mesmas razões também foi bastante fácil juntar numa campanha de comunicação em defesa deste tipo de jornalismo nomes tão importantes e transversais como o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o almirante Gouveia e Melo, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, o advogado Garcia Pereira, o humorista Nilton, o piloto de motoGP Miguel Oliveira, a atriz Simone de Oliveira, o cantor e compositor Tony Carreira e a atual ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato. Não se vislumbra jornalismo de investigação em regimes ditatoriais nem se reconhece isenção ao jornalismo, seja ele qual for, em países de falsas democracias. Isto diz tudo, pois o bom jornalismo faz crescer os valores e princípios da própria democracia.
Em cenário de guerra na Europa, de que forma vê que possa estar ameaçada essa forma (a de investigação) de fazer jornalismo?
Tenho registado com tristeza a morte de alguns colegas estrangeiros. Eu própria também já estive a fazer a cobertura de vários conflitos bélicos e é bastante arriscado. Investigar em cima do acontecimento não é fácil, porque há muita contaminação. A verdadeira história desta guerra só será contada daqui a alguns anos. Contudo, em cenários de guerra sabemos todos bem quem é o nosso inimigo. Nas sociedades atuais a guerra é outra e há poderes ocultos que acham que o dinheiro pode comprar tudo, até a honra e o caráter das pessoas. A verdade não tem preço mas tem muito valor. Sei bem que o jornalismo de investigação ameaça alguns que o temem e tentam destruir, mas protege-nos a todos enquanto sociedade democrática. Este deve ser o nosso combate, e eu digo presente.