Nas páginas do DN os bolcheviques eram "maximalistas"

Com a atualidade dominada pela guerra mundial, o Diário de Notícias deu importância à Revolução Russa, apesar da distância e das informações dispersas
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Uma visita aos jornais da época demonstra interesse pelos acontecimentos que se desenrolavam na Rússia. O que também se explica pelo facto daquele país fazer parte da guerra mundial: a maior parte das manchetes (se é que se pode utilizar essa palavra para o título no topo à esquerda da página) versava sobre o conflito militar em que Portugal também era parte ativa. O facto de o Diário de Notícias não ter correspondente ou um repórter em Petrogrado (a atual São Petersburgo) limitava as fontes às agências, que enviavam notícias da atualidade russa quer da cidade imperial, quer de outros pontos da Europa.

A primeira referência à Revolução de Outubro surge na edição de 8 de novembro. "Em Petrogrado os maximalistas agitam-se", referência usada então aos bolcheviques. O texto respetivo não figurava no topo - aí dava-se conta da nomeação do novo embaixador de Itália em França. A notícia, datada de dia 6, explicava que "o conflito entre o Estado Maior e o "comité" revolucionário militar do "soviet" agravou-se consideravelmente. O comité ordenou às suas tropas que não obedeçam ao governo".

A suspensão de cinco jornais, o encerramento das pontes que ligavam os bairros operários ao centro da capital e o apoderamento de um "hiate imperial", em Kronstadt (a 30 quilómetros de Petrogrado), por parte de "um grupo de marinheiros armados", eram sinais do que iria seguir-se. Em conclusão, "os jornais estão seriamente alarmados com os preparativos maximalistas para se apoderarem do poder (sic), censurando severamente o empreendimento dos demagogos (...)".

"Petrogrado nas mãos dos maximalistas", noticiava no dia seguinte o jornal dirigido por Alfredo da Cunha. Com um texto na segunda coluna da primeira página, em fonte maior e em negrito, informava-se que os "maximalistas tomaram o telégrafo central, o Banco do Estado e o Palácio Maria, sede do conselho da República". Umas linhas adiante, uma notícia do dia 7: "Às 5 da tarde, o comité revolucionário militar do conselho do "soviet" publicou uma proclamação anunciando que Petrogrado está nas suas mãos graças ao concurso da guarnição que permitiu operar um golpe de estado sem efusão de sangue."

O caos em que o país caiu nos dias seguintes refletiram-se nos dias seguintes: "Os maximalistas começam a perder terreno" (13), onde se lê "Corre com insistência o boato de que o agitador Lenine desapareceu outra vez", "Em Moscow a luta tem sido sangrenta (14), ou "Na Rússia a situação continua confusa" (17).

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