Narcotráfico mais ativo desde golpe de Estado em Bissau

Depoimentos de altos responsáveis da ONU perante o Conselho de Segurança indicam que se verifica atividade crescente e "influência de redes de tráfico de droga na Guiné-Bissau", após o golpe de 12 de abril na capital guineense
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As redes de narcotráfico presentes na Guiné-Bissau estão mais ativas e influentes no país desde o golpe de Estado de abril, considerou o representante do secretário-geral da ONU para a África Ocidental numa reunião quarta-feira à noite do Conselho de Segurança em Nova Iorque .

O representante especial Said Djinnit falava num "briefing" aos 15 membros do Conselho de Segurança sobre a situação "precária" de segurança na África Ocidental, em que estiveram em foco os golpes de Estado no Mali e na Guiné-Bissau, este último ocorrido a 12 de abril.

"Há atividades crescentes e influência de redes de tráfico de droga na Guiné-Bissau, especialmente desde o recente golpe", explicou o responsável da ONU. Djinit apontou o caso guineense como exemplo do potencial do "flagelo do tráfico de droga e crime organizado para minar seriamente a governação e a segurança na região", se não for alvo de medidas prontas e eficazes.

Para Said Djinnit, "os atores regionais têm de redobrar esforços" para lidar com esta criminalidade. No seu anterior "briefing" ao Conselho de Segurança, em maio, o diplomata argelino alertara para uma "nova vaga de desafios à governação e paz" na região, patente nos casos do Mali e Guiné-Bissau, sob ameaça do crime organizado e terrorismo.

Apesar dos "progressos significativos nos últimos anos na promoção e consolidação da paz, graças a iniciativas tomadas pelos líderes regionais com apoio do continente e da comunidade internacional, particularmente a ONU", para Said Djinnit a segurança na África Ocidental "continua precária e reversível". Isto porque "as causas de base da insegurança ainda não foram resolvidas totalmente. A atenção e apoio continuado da ONU continuam a ser críticos.

Também o diretor da agência da ONU antinarcotráfico e criminalidade organizada (UNODC), Yuri Fedotov, alertou para o crescendo do narcotráfico na região, que gera anualmente "lucros de 900 milhões de dólares [735 milhões de euros]" para redes criminosas.

Além da cocaína, também heroína e metanfetaminas estão a transitar por estes países e a região deixou de ser "simplesmente uma rota de trânsito de drogas para a Europa", com perto de 2,3 milhões de consumidores de cocaína.

Fedotov afirmou que a situação na Guiné-Bissau "continua a ser outra séria preocupação" para a UNODC. "Há medos em relação às ligações entre elementos das forças militares e o narcotráfico", disse no Conselho de Segurança, onde apontou ainda para a "impunidade" com que as forças segurança tratam estes casos.

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