"Não tenho saudades de nada. São uma perda de tempo"

A rainha dos reality shows fala dos seus 25 anos de carreira televisiva. Detesta olhar para trás e conforta-a a ideia de o seu lado espiritual ter ajudado pessoas a conhecerem-se melhor
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Vinte e cinco anos de carreira televisiva sabem-lhe a quê?

Não tenho paciência para olhar para trás. Tenho tido a sorte, e seguramente algum talento, de ter feito muitas coisas, diversificadas, que me têm ajudado a andar para a frente. E tenho andado sempre. Ainda por cima, sendo uma mulher livre.

O que quer dizer com isso?

Ao longo destes anos nunca tive um patrão, nunca pertenci aos quadros de uma televisão e já passei duas vezes por cada uma delas. Sempre fui uma mulher capaz de andar para a frente mantendo essa liberdade, essa capacidade de escolher. Mas essa liberdade às vezes paga-se.

Sente que pagou um preço alto por essa liberdade?

(Pausa) Não, até foi ao contrário. Acho que foi essa capacidade de saltaricar de um lado para o outro que me permitiu fazer tantas coisas interessantes e que me deram tanto gozo. Hoje saltarico menos [risos]. Há já bastante tempo que estou na TVI. Mas sempre como externa.

Mas sente-se externa?

Não, sinto-me da casa. Eles tratam-me como se fosse da casa.

Mas não é. Por opção sua ou, se lhe fizessem o convite para entrar nos quadros da empresa, aceitava?

[Pausa] Eu gosto desta independência [risos]. Não gosto de me sentir amarrada. Mas se em determinados momentos a TVI me tivesse proposto isso, eu teria aceitado. Estar nos quadros de uma televisão é uma segurança, porque nos momentos em que não estamos no ar continuamos a ganhar ordenado.

A sua carreira é bem mais do que aparecer na televisão.

Sim, quando falamos em 25 anos de carreira são 25 anos de carreira como apresentadora [estreou-se em 1991 em Eterno Feminino, na RTP2]. Sou produtora desde os 30.

Tem saudades desse tempo?

[Risos] Não tenho saudades de nada. São uma perda de tempo. Acho engraçado quando naquelas festas se fazem filmes da vida ou se recordam fotos de outras épocas, mas fico-me por aí. Mas agora que me está a propor olhar para trás, e eu já lhe disse que detesto olhar para trás [risos], é que percebo como fui inovadora já naquele tempo.

Foi?

Claro, então não? O Eterno Feminino era um programa extremamente inovador em vários aspetos. Só havia ainda dois canais e não se falava das temáticas que nós tratávamos às cinco e meia da tarde na RTP2. Tanto se falava de astrologia como sexo ou nutrição. Acho, aliás, que foi das primeiras vezes na TV portuguesa que se falou de bulimia e anorexia. Parece que foi há milhões de anos [risos]...

Mas o que está colado a si são os reality shows.

É normal. Ando há 16 anos a fazê-los. E foram programas marcantes. Se bem se lembra, a TVI promoveu o Big Brother, em 2000, dizendo que era o programa que ia mudar a TV. E, de facto, visto agora à distância, mudou por completo.

Foi a mulher certa, na hora certa e no sítio certo?

[Risos] Acredito que sim. Mas não fui eu que mudei a televisão. Eu apenas fui a agente dessa mudança.

A mulher certa na hora certa, mas com três homens que foram estruturantes na sua vida profissional: Raul Durão, que a levou para a rádio, Emídio Rangel, que a levou para a SIC, e José Eduardo Moniz, que a levou para a TVI.

É verdade [pausa]. O Raul foi quem me fez descobrir que eu gostava de ser produtora. E é essa entrada pela produção que me leva primeiro à rádio e depois à TV. E aí o Rangel e o Moniz foram determinantes.

Dezasseis anos de reality shows. Não se sente cansada?

Não [risos]. Eles têm a mesma base, é verdade, mas são muito diferentes entre si. E têm evoluído muito. E esse é o desafio: saber acompanhar essa evolução. Só por má-fé ou ignorância é que se pode dizer que do Big Brother em 2000 ao Love on Top em 2016 é tudo igual. Não é.

Mas a natureza é a mesma: dez ou 15 jovens numa casa, muitas discussões, muito sexo, algumas paixões e muitos espectadores a ver.

[Risos] Ora aí está, muitos espectadores a ver. São programas muito poderosos. Mas há diferenças grandes, porque o próprio espectador mudou. Acredito que quem vê hoje já via há 16 anos. As pessoas estão mais velhas, exigem coisas novas. Esperam mais surpresas. Há 16 anos bastava ter 12 pessoas fechadas numa casa a cuidar das galinhas [risos]. Agora são precisos desafios, encontros às cegas, passeios fora da casa, interatividade com espectadores através das redes sociais.

A Teresa tem uma grande comunidade de fãs, mas também tem um enorme grupo de gente que adora odiá-la. Como convive com isso?

Muito bem. Entro muito mais nas mulheres, o que é natural, porque é um público mais próximo dos reality shows. Mas muita gente nova me segue. No meu Facebook, a faixa etária reinante é entre os 25 e os 34 anos. É impressionante, não é? Eu comunico bem com os jovens. Também por isso tenho tantos alunos.

E incomoda-se com as críticas, algumas bem violentas, que aparecem?

[Pausa] Nada. As redes sociais são muito importantes. Bem ou mal, as pessoas manifestam-se. Claro que prefiro elogios a críticas, mas é bom perceber como as pessoas reagem. Mesmo quando reagem mal.

Já reviu posições e formas de estar em programas na sequência de críticas recebidas nas redes sociais?

Já, já muitas vezes. E é também por causa das redes sociais, e da interação, que cada emissão é diferente. É sempre um desafio novo.

Portanto, não sente que está a fazer sempre o mesmo programa.

Não. Não estou cansada. Cada grupo é uma incógnita, não sabemos o que vão ser aqueles concorrentes.

Não? Os castings já não têm segredos. Boas histórias, disponibilidade para relacionamentos em direto, mente aberta e sem preconceitos, corpos esculturais...

[Risos] São as regras do jogo. Os castings podem ser bem feitos, em teoria as pessoas podem ser perfeitas, mas no jogo é que se percebem as reais capacidades para interagirem umas com as outras. E é isso que faz ganhar audiências.

Continua muito competitiva...

[Gargalhada] Continuo, continuo. Mas não é para destruir, é para ser melhor, para acrescentar. E sou muito competitiva comigo própria.

E com os outros, diz quem trabalha consigo.

[Sorriso] Acho que já fui mais. Hoje sou muito mais tranquila. Demoro mais tempo a irritar-me [risos]. Não tem nada que ver com o amadurecimento, até porque eu preferia como era dantes. Mas hoje só me maço com as coisas que valem mesmo a pena. Talvez seja menos chata.

Isso é o reflexo dos 60 anos?

[Pausa] Talvez. Mas continuo a bater-me até ao fim pelas minhas ideias. Já não me bato é de uma forma explosiva. Tento ser razoável. Mas continuo irredutível.

E a idade mudou alguma coisa no seu lado espiritual?

Nada. Continuo a ser muito espiritual. As pessoas também evoluíram, percebem hoje melhor esta conversa. Estão hoje mais próximas daquilo em que eu sempre acreditei. Também aí fui uma precursora. Provavelmente, ajudei pessoas a agirem, a amadurecerem, a conhecerem-se melhor, a encontrarem essa serenidade interior. Pensar nisso dá-me algum conforto.

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