Não somos um país do Mediterrâneo. E faz toda a diferença

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O Algarve é longe comparado com a Andaluzia, a Madeira mais remota do que as Canárias. Por isso só conhecemos pela TV a tragédia dos que morrem afogados a tentar passar de África para o Eldorado. Exceção: um barco que acostou na Culatra em 2007, com duas dezenas de marroquinos e subsarianos.

O motor avariara-se e as correntes arrastaram a embarcação de madeira. Quem estava a bordo ficou surpreendido quando percebeu que no sítio onde chegara se falava português em vez de espanhol.

É que habituámo-nos a falar de nós como mediterrânicos. Até as autoridades nos incluem nos "países ribeirinhos do Mediterrâneo Ocidental". O Lonely Planet fala das praias mediterrânicas, destacando as portuguesas. E sim, a cultura é mediterrânica, o clima também. Mas a verdade é que o mar Mediterrâneo não banha nenhuma parcela da costa.

E faz toda a diferença. A Grécia está ao alcance dos refugiados. Assim como Itália e Malta. Espanha também, e mesmo agora não deixa de haver pateras a tentar atravessar o Estreito de Gibraltar.

Olhe-se bem para o nosso vizinho. Além, da Andaluzia e das Canárias, ainda tem de se preocupar com Melilla e Ceuta. Este famoso enclave em Marrocos é a porta da Europa para milhares de desesperados. Só arame farpado impede a entrada na cidade que os portugueses conquistaram há 600 anos e que, em 1640, foi a única parcela do império a escolher os Filipes.

Que a geografia e os acasos da história nos tenham poupado o drama não significa que o devamos ignorar. E Portugal tem estado envolvido em operações de patrulha ao largo de Canárias e Cabo Verde, até no Mediterrâneo. Porque dizer que com o mal dos outros podemos nós bem é mentira. Esta é uma tragédia da humanidade. E sermos solidários também faz toda a diferença.

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