"Não me vou contentar em ser campeão em Portugal"
João Noronha Lopes nasceu há 54 anos na freguesia lisboeta de Santa Maria de Belém. É casado, pai de quatro filhos, e tem um enorme orgulho de todos serem benfiquistas. O seu percurso profissional foi iniciado na advocacia, mas em 2000 começou a trabalhar na multinacional McDonald's, onde se tornou um destacado gestor. É essa experiência que diz querer colocar agora ao serviço de um novo Benfica, com visão internacional e canalização dos recursos financeiros para atingir o "sucesso desportivo". Propõe-se ainda recolocar os sócios no coração do clube.
Como surgiu a ideia de se candidatar às eleições do Benfica?
Há algum tempo que estou preocupado com o que se tem vindo a passar neste último mandato de Luís Filipe Vieira. E o que está em causa nestas eleições não são os 17 anos de Vieira - os benfiquistas reconhecem o que foi feito -, mas os últimos quatro anos. Neste último mandato vimos uma grande desorientação relativamente à política desportiva, algumas decisões erradas que foram repetidas ano após ano e desorientação nalguns aspetos da vida interna do clube, nomeadamente em relação a algumas operações financeiras. O balanço destes quatro anos é altamente negativo e foi isso que me fez ponderar ser presidente do Benfica. Foi uma decisão que tomei sozinho, após a qual foram surgindo os apoios e as palavras de incentivo de muita gente.
Mas houve um clique, um acontecimento que o tivesse feito despertar para a decisão?
Os benfiquistas estão cansados de uma liderança que parece não aprender com os seus próprios erros, que vive do passado, não projeta o futuro e é incapaz apresentar ideias novas para o futuro do Benfica. Foi esse cansaço e, por outro lado, a convicção de que, tendo em conta a minha experiência e capacidade profissional, posso contribuir numa altura crucial da vida do clube.
Ter-se-ia candidatado se Luís Filipe Vieira não tivesse envolvido em problemas com a justiça?
Não faço comentários sobre os problemas de Luís Filipe Vieira com a justiça, mas gostava que tivéssemos mais títulos desportivos e menos títulos nos jornais. O que está em causa nas eleições é a gestão muito negativa dos últimos quatro anos.
Se for eleito presidente terá uma grande exposição mediática e será alvo de um enorme escrutínio público. Está preparado para isso?
Estou preparado. Não é a primeira vez que estou nestas andanças. Fui vice-presidente de Manuel Vilarinho numa altura crucial para a vida do clube, porque o Benfica estava em risco de deixar de ser dos sócios e nessa altura fiz parte dos que incentivaram Manuel Vilarinho avançar. Sei bem o que é a exposição mediática inerente a este cargo, até porque tive cargos de topo numa grande multinacional e que obviamente me deram exposição mediática...
Mas não era motivo de notícias todos os dias...
Sim, mas isso não me preocupa. Quem se candidata a presidente do Benfica sabe o que isso significa e fá-lo com paixão, com desejo de servir e com convicção de que, com a sua experiência, pode ajudar numa altura crucial da história do clube.
Qual a reação da sua família quando lhe anunciou a intenção de se candidatar?
Eu tenho sorte porque a minha mulher, os meus filhos, o meu genro e a minha nora são todos benfiquistas e, portanto, foram um apoio muito importante a partir do momento em que a ideia começou a ser discutida na família.
Que princípios levaram à constituição da sua lista?
A minha lista é composta por benfiquistas de grande diversidade e complementaridade, com competências diferentes, mas unidos no objetivo de tornar o Benfica maior do que é hoje. Esta lista vai constituir um elemento diferenciador nestas eleições.
Francisco Benitez desistiu de candidatar-se e juntou-se a si para encabeçar a lista para a assembleia geral. Quer dizer que teve de prescindir de alguém que era a sua primeira escolha?
As listas não estavam fechadas e são sempre um processo dinâmico. O Francisco Benitez é alguém com quem converso há já alguns meses e temos pontos em comum em relação à forma como se vive o Benfica, mas também no que diz respeito à importância da ambição europeia, da transparência e do lugar que os sócios devem ter no coração do clube. É alguém que entra nesta lista com identidade de pontos de vista e será um excelente presidente da assembleia geral.
Tem feito uma campanha pelas redes sociais e nas Casas do Benfica. Não teme que seja curto para chegar a boa parte dos sócios?
Temos feito esse contacto através das redes sociais, tenho percorrido o país de norte e sul. Quis ouvir os benfiquistas e o meu programa demorou mais tempo a ser anunciado porque tive a preocupação de ouvir os anseios de todos eles. Teremos a partir de agora a oportunidade de explicar as nossas ideias para chegar a cada vez mais benfiquistas.
Sente que parte em desvantagem pelo maior mediatismo do atual presidente?
Qualquer candidato tem menos mediatismo que o presidente, mas o que eu gostava era que o tratamento fosse equilibrado em relação a todos os candidatos. Sobretudo que a BTV fosse um espaço de liberdade, democracia e que desse o mesmo espaço a todos os candidatos. Os sócios estão desiludidos - e têm-me dito isso - com a falta de acompanhamento da BTV, que pertence a todos os sócios e tem de dar um tratamento igual a todos, quer eles sejam candidatos ou presidente em exercício.
Destaquedestaque"O Benfica não pode acabar na Segunda Circular, tem de chegar longe na Europa, mas para isso tem de ter uma organização, uma hierarquia muito bem definida e competência nas decisões do futebol"
Uma das bandeiras da sua candidatura tem a ver com o código de conduta e com a ética. É esse o maior pecado de 17 anos de Vieira?
O maior pecado de Vieira foi, nos últimos quatro anos, o falhanço estrondoso da política desportiva. Foram cometidos os mesmos erros de estruturação e planificação das épocas, o que se deve ao facto de não haver um projeto desportivo para o Benfica. Há um projeto eleitoral construído na vinda de um treinador que estará no clube durante dois anos... O que vai acontecer depois desses dois anos? Eu apresento uma estrutura desportiva clara, à imagem dos grandes clubes europeus, com um diretor desportivo competente, com capacidade de negociação, conhecimento do mercado nacional e internacional, que consiga agregar a equipa principal, a equipa B, mas também a formação, o scouting e a área da planificação internacional, nomeadamente as parcerias com alguns clubes para a rodagem dos nossos jogadores. Alguém que, no fundo, garanta a identidade do Benfica, que seja ele a escolher os treinadores e não ele a ser escolhido pelos treinadores, e que seja ele também quem evite passarmos do 8 para o 80 quando se muda um treinador.
É um corte com o que existe atualmente?
É uma visão de longo prazo, o Benfica não pode acabar na Segunda Circular, tem de chegar longe na Europa, mas para isso tem de ter uma organização, uma hierarquia muito bem definida e competência nas decisões do futebol. Nós temos uma boa escola de formação, ninguém o nega - mérito a quem a fez -, mas muitas vezes temos a sensação de que estamos a formar para despachar e não para jogar. Por isso, temos de encontrar um bom equilíbrio entre aproveitar os jovens da nossa formação e aquisições cirúrgicas. O Benfica tem falhado muito nas aquisições, que não têm colmatado as lacunas do plantel e isso tem sido pago caro a nível europeu.
Quem será o seu diretor desportivo?
Tenho o perfil que acabei de descrever. Para mim os interesses do clube estão acima de tudo e, como tal, não farei nada para desestabilizar o clube em plena época. Assim, quando for eleito, trabalharei com a estrutura que existe e trarei o diretor desportivo na altura certa, muito provavelmente no final da época.
Ou seja, Rui Costa trabalhará consigo até final da época?
Trabalharei com a estrutura que estiver a funcionar, porque depois de ter falhado estrondosamente o seu grande objetivo, o Benfica tem de ser campeão nacional e tem de ganhar a Liga Europa. Criarei as condições para que isso aconteça e, de maneira nenhuma, irei desestabilizar uma estrutura que tem de ganhar este ano.
No final da época, Rui Costa pode ser o seu diretor desportivo?
Vamos ver. Farei uma avaliação no final da época. As pessoas são inteligentes e todos temos a mesma vontade de ganhar. Eu tenho a experiência de lidar com pessoas e de juntar vontades para um objetivo comum.
O seu diretor desportivo terá de ser benfiquista?
Terá de estar identificado com o Benfica e terá de ser o elo de ligação entre o treinador e o presidente. No fundo, será fundamental ser um grande profissional, se for benfiquista, melhor.
Quando pensou avançar com a sua candidatura, Jorge Jesus era o treinador que queria no seu projeto?
Quando pensei em ser candidato pensei num projeto alicerçado em cinco pontos principais: profissionalização do futebol, reforço do ecletismo, pôr os sócios no centro do clube com medidas concretas, reforçar a transparência e a credibilidade e ser muito mais ambicioso na internacionalização da marca Benfica. Jorge Jesus é o treinador do clube, será o meu treinador e criarei todas as condições para que tenha sucesso.
Destaquedestaque"Temos de ter como grande objetivo o sucesso desportivo e criar condições para tê-lo. Não é proclamar que vamos ser campeões europeus e depois vender os melhores jogadores."
Mas é um treinador compatível com as suas ideias?
Eu gosto de Jorge Jesus, acho que vai pôr o Benfica a jogar bom futebol. O Benfica tem de ser campeão e ganhar a Liga Europa este ano. É isso que os benfiquistas esperam e ajudarei Jorge Jesus a conseguí-lo.
Jorge Jesus apoia Luís Filipe Vieira...
Os funcionários do clube deviam abster-se de apoiar qualquer candidato. Dito isto, se for eleito, trabalharei com Jorge Jesus para que ele possa ter sucesso.
Falou em aquisições cirúrgicas. Não foi feito isso esta época?
Foi mais uma fuga para a frente em ano de eleições. Lamento que algumas aquisições não tenham sido feitas antes e não tenha sido encontrado o equilíbrio entre a formação e os jogadores já feitos. Se isso tivesse acontecido, muito provavelmente estaríamos a festejar o sétimo título consecutivo. O que devo realçar é que, mesmo depois de todos os milhões gastos, chegamos ao primeiro jogo da época para a Champions, que era o que verdadeiramente interessava, sem termos o plantel com as condições que o treinador pedia. Houve mais uma vez incompetência na preparação do plantel e falhamos o nosso grande objetivo, que era estar na Champions. E quando elogiam um grande negociador porque consegue vender um jogador por muitos milhões, eu digo que os benfiquistas não querem um grande negociador, mas um grande dirigente desportivo que nos traga vitórias internacionais. Não festejamos vendas de jogadores, mas enchemos o Marquês com as vitórias e com os títulos.
Os clubes portugueses têm tido um modelo de negócio assente nas transferências de jogadores para criar mais-valias e assim serem sustentáveis e manterem-se competitivos em relação aos mais ricos da Europa. Será esse o seu modelo?
Vamos ter sempre de vender jogadores, temos é de criar as condições para vender menos e tentar retê-los mais tempo. As receitas correntes que vêm da bilheteira, contratos de patrocínio e direitos televisivos estão ao nível do nosso mercado. Para que o Benfica não esteja tão dependente da venda de jogadores, a única solução passa por ter sucesso desportivo lá fora para trazer mais dinheiro da UEFA e potenciar o merchandising em torno do prestígio que o clube vai adquirindo por competir lá fora. Quando ouço responsáveis da SAD a dizer que é preciso mudar um emblema para que se vendam mais camisolas na China, estamos a construir a casa pelo telhado. Ninguém compra camisolas na China por causa de um emblema, mas porque há um clube que tem vitórias internacionais, chega longe na Champions e tem bons jogadores. Temos de ter como grande objetivo o sucesso desportivo e criar condições para tê-lo. Não é proclamar que vamos ser campeões europeus e depois vender os melhores jogadores.
Os benfiquistas podem esperar de si vendas por muitos milhões, mas não de forma sucessiva?
De mim os benfiquistas podem esperar visão e muito mais ambição europeia. Eu não me vou contentar em ser campeão em Portugal ou em chegar apenas à fase de grupos da Liga dos Campeões. Tenho uma ambição diferente da que tem o atual presidente e quanto mais sucesso tivermos, menos jogadores teremos de vender. Naturalmente, teremos de vender alguns, mas vou procurar criar condições para que não tenhamos de vender tanto e, principalmente, possamos retê-los mais tempo. Não temos os meios financeiros do Manchester United ou do Bayern Munique, mas com as receitas que temos é possível fazer mais e melhor. Trata-se apenas de gerir melhor os recursos, comprar com mais critério, não queimar as etapas dos jovens que sobem da formação e, obviamente, vender alguns jogadores, mas retendo outros.
Numa época em que os resultados nas provas europeias não sejam tão bons, como fará face aos prejuízos daí inerentes?
No nosso programa temos 18 medidas que têm a ver com a ambição global da marca Benfica. Há muito trabalho a fazer neste campo, desde a criação do adepto digital, o benfiquista em streaming, parceria com plataformas, dinamização das redes sociais... Temos pessoas que sabem fazer isto e trata-se de uma área em que temos de apostar mais, até porque temos uma diáspora significativa no mundo, que pode ser atingida através de um trabalho mais profundo nesta área.
Luís Filipe Vieira anunciou a expansão do Seixal, a criação de uma escola internacional e do centro de alto rendimento para as modalidades. São projetos que terão viabilidade consigo como presidente?
Dependerá dos projetos. O Benfica tem de ser mais desporto do que betão. A expansão do Seixal, que é uma das melhores escolas de formação do mundo, é algo que tem de ser ponderado, parece-me que o projeto da universidade não deve estar nas prioridades do clube, ainda mais numa altura como esta em que temos de gerir criteriosamente o dinheiro de todos os benfiquistas. Temos áreas fundamentais do clube e de apoio aos sócios que devem ser salvaguardadas.
Assumiu mais do que uma vez que o Benfica não é negócio. No entanto, o Benfica é hoje um conjunto de empresas, como é que concilia essa sua ideia com a realidade? Não há um contrassenso?
Só há contrassenso para quem não consegue perceber aquilo que se chama capacidade de gestão. Numa SAD, a sustentabilidade financeira tem de ter como último fim o sucesso desportivo. É muito importante ter contas certas, mas há que saber o momento de tê-las e saber quando temos de utilizá-las para reforçar a equipa e atingir o sucesso desportivo. Nos últimos quatro anos perdeu-se esse equilíbrio, por excesso de confiança, soberba e incompetência. Não se soube, na altura certa, aplicar os recursos quando eles existiam, no reforço da equipa, que nos daria mais sucesso desportivo e teríamos um clube mais forte do que é hoje.
Destaquedestaque"Proponho a limitação a três mandatos do presidente porque a permanência no poder durante muito tempo cria vícios que se refletem na performance desportiva."
O sucesso desportivo e a promoção da marca serão as traves mestras do seu mandato. Que outros projetos tem em mente?
Há vários. E um deles é termos de recolocar os sócios no coração do clube, são eles os donos do clube e devem ser tratados como tal. Temos várias medidas importantes que vão desde a criação da casa do sócio junto ao estádio até à figura do sócio angariador e fidelizador.
Está a perder-se a paixão pelo clube?
Se se perder a paixão de ser benfiquista estamos a negar a existência do clube. Sou gestor e sei fazer esse equilíbrio entre uma boa gestão e a paixão de um clube. É por isso que os sócios devem ser colocados no coração do clube e, como tal, proponho a criação de uma zona do adepto que faça que, antes dos jogos, eles cheguem mais cedo ao estádio e tenham entretenimento digital, estejam presentes as Casas do Benfica e antigas glórias, além de terem acesso a informação sobre as modalidades para que elas sejam acompanhadas. A experiência do dia do jogo é uma das coisas em que o Benfica é mais pobre, em comparação com outros clubes europeus. Proponho uma Fanzone 2.0 e sei do que falo porque criei várias na empresa onde trabalhei, como patrocinadora da UEFA em competições internacionais. Estaremos a criar um conjunto de receitas que ficam no clube, como tal é fundamental o comboio Benfica para trazer os adeptos mais cedo e passarem mais tempo no estádio.
Mas falava dos outros projetos que tem para o Benfica...
Um dos princípios orientadores é a limitação a três os mandatos do presidente porque a permanência no poder durante muito tempo cria vícios e excessos de confiança que se refletem na performance desportiva, que é precisamente aquilo que está a acontecer. Tenho outra proposta para que se olhe para os escalões de antiguidade e se crie um escalão intermédio entre os 20 e os 50 votos, mas é algo que carecerá de debate e apresentação aos sócios. Proponho ainda um Código de Conduta, publicado no site, que evite conflitos de interesses entre membros de órgãos sociais, funcionários, fornecedores e investidores, mas quero criar também uma Comissão de Ética e Boas Práticas, fiel depositária da declaração de rendimentos e patrimonial do presidente do Benfica. Proponho regras claras na contratação de bens e serviços para o Benfica, auscultando sempre três entidades, acima de determinado valor...
Isso não vai colocar um problema de demora das decisões?
Não necessariamente, haverá situações de exceção, mas quando elas existirem o vice-presidente da área terá de justificá-las por escrito. Tudo isto é compatível com a agilidade e a flexibilidade nos processos de decisão. É fundamental trazer mais transparência para o Benfica.
É mais importante uma Comissão de Ética do que o Conselho Estratégico proposto por Vieira?
Claramente. Se o Conselho Estratégico fosse assim tão importante, ele já teria sido ativado mais vezes, porque já está previsto nos estatutos. Por alguma coisa nunca foi utilizado, afinal o Benfica não é um clube de elites e iluminados. Quando há algo para ser discutido que seja em assembleia geral perante os sócios.
Votou contra o último relatório e contas que teve um resultado positivo de 27 milhões de euros, não teme que seja mal interpretado pelos sócios?
Não. Votei contra porque tinha feito uma série de perguntas ao presidente da assembleia geral e elas foram respondidas de forma incompleta. Falta informação relativamente às sociedades participadas do clube e esse é um elemento fundamental para que os sócios conheçam a realidade do que se passa nessas sociedades.
Que opinião tem do trabalho de Domingos Soares Oliveira?
É um profissional do clube, como outros. Quando for eleito vou fazer uma auditoria externa às contas do clube, sem dramatismo porque é um ato normal, que vai permitir a quem é eleito conhecer melhor o que se passa no clube. Não retiro conclusões antecipadas, nunca o fiz. Em função dos resultados dessa auditoria, que será uma ferramenta útil de gestão, tomarei as decisões necessárias.
Tem receio do que possa encontrar?
Neste momento, não tenho expectativas. Vamos esperar pela auditoria.
Nos últimos anos a estratégia financeira da SAD passou pela redução do passivo, tem uma visão diferente?
Há aspetos positivos em relação à gestão do clube: a redução do passivo, o aumento dos capitais próprios, resultados positivos, mas no ano passado foi tudo alavancado por uma circunstância excecional que foi a venda de João Félix. Esse trabalho positivo existe, mas tem de ser instrumental para o sucesso desportivo e houve alturas, nos últimos anos, que isso era fundamental para ganhar internacionalmente.
Destaquedestaque"Já tive de lidar com situações muito mais difíceis e com pessoas muito mais complicadas do que aquelas que vou ter no futebol português."
Os benfiquistas podem esperar que o passivo continue a baixar consigo na presidência?
Podem esperar que eu tenha uma gestão rigorosa do dinheiro de todos. Tenho 20 anos de gestão. Fui gestor em Portugal, França, Estados Unidos. Geri orçamentos de seis biliões de euros, abri fábricas na China e na Rússia, fiz parcerias no Cazaquistão, em África e, portanto, sou um gestor com uma grande experiência internacional e, principalmente, em lidar com situações muito difíceis em várias partes do mundo. É por isso que me sinto preparado para assumir a presidência do Benfica, contando com uma excelente equipa de gestores e de benfiquistas.
Quem será o seu homem forte para a área financeira?
Será António Borges de Assunção, um homem com grande experiência na banca em Portugal. Será ele o primeiro responsável financeiro da SAD e do clube.
Ricardo Araújo Pereira disse-lhe para não cometer ilegalidades mas exigiu que não fosse "passarinho". Qual a sua estratégia para não ser "passarinho"?
Eu não chego pela primeira vez ao Benfica, estive no clube em situações mais críticas do que as de hoje. Nunca fui vice-presidente para passar tempo nos gabinetes ou trabalhar de 15 em 15 dias. Ajudei a criar o grupo empresarial do Benfica e estive bastante envolvido no aumento de capital da SAD, portanto não chego ao futebol agora. Já tive de lidar com situações muito mais difíceis e com pessoas muito mais complicadas do que aquelas que vou ter no futebol português. Sei quem está do outro lado e travarei uma batalha intransigente pela defesa do Benfica.
Nesse sentido, o que podemos esperar a nível de estratégia de comunicação em relação aos rivais?
Vai haver uma estratégia de comunicação do Benfica e não do presidente. Tem de ser uma comunicação para os sócios e na defesa intransigente do clube. Não temos de imitar ninguém, somos o maior clube português.
Se não for eleito, será possível que esta candidatura possa ser a rampa de lançamento para uma outra a apresentar em 2024?
Não. Eu não estou aqui para me posicionar para qualquer outra eleição. É agora que o Benfica tem de mudar porque não aguenta mais quatro anos desta gestão de Luís Filipe Vieira. É porque tenho uma equipa e um projeto que vou ganhar as eleições. É agora que esta vitória tem de ocorrer.
O que diferencia o seu projeto do de Luís Filipe Vieira?
Luís Filipe Vieira fala do passado, acha que está tudo bem, que há pouca coisa para mudar e não apresentou nenhuma ideia de futuro, além disso não responde às perguntas dos sócios e recusa-se a debater com os outros candidatos. O meu projeto reconhece o que de bem foi feito, mas projeta o futuro, tem mais ambição na parte desportiva e uma organização para alcançar o sucesso desportivo. Vamos ter uma equipa diversificada e coesa para funcionar ao serviço dos sócios, com um presidente em full-time. A minha equipa de gestores e economistas trabalha há vários meses sobre todos os cenários que se podem colocar se formos eleitos, sabemos o que vamos encontrar. O Benfica vai ter uma direção profissional que consegue pegar no clube no dia seguinte, garantindo estabilidade desportiva.
Se for eleito, será remunerado como presidente da SAD?
Não, não serei remunerado.
Os efeitos da pandemia no futebol serão um desafio acrescido?
Há aqui um grau de incerteza enorme em relação ao que pode ser o futuro e a direção do Benfica devia ter mais critério em relação ao que gasta e à forma como prepara o futuro. É por isso que estamos preparados para o cenário mais otimista, que se colocava se tivéssemos as receitas da Champions e o regresso do público aos estádios, mas também para o cenário mais pessimista que pode levar à paragem do futebol. Estamos preparados para tudo.
Destaquedestaque"Quando ouço o candidato Luís Filipe Vieira dizer que não são umas eleições quaisquer que decidem o futuro do Benfica, trata-se de uma afirmação gravíssima de quem se acha o dono do clube."
Como se gere um clube se o futebol parar?
Com muito critério, capacidade de negociação com os parceiros, gestão dos fornecedores e tratando bem as nossas pessoas.
Disse recentemente que falta democracia no Benfica. O que quis dizer com isso?
Aproveito para lançar um apelo à democracia no clube. O Benfica sempre foi o clube mais democrático de Portugal. E todos nós temos de ter respeito pelos sócios. Quando ouço o candidato Luís Filipe Vieira a dizer que não são umas eleições quaisquer que decidem o futuro do Benfica, trata-se de uma afirmação gravíssima de quem se acha o dono do clube e não respeita o direito legítimo dos sócios poderem escolher alguém diferente. O Benfica teve grandes presidentes antes de Vieira e há que respeitar a nossa memória, os sócios e a importância que eles sempre tiveram.
Vieira também disse que terá de preparar o seu sucessor...
É uma contradição quando ele considera que o Benfica é o clube mais popular de Portugal e depois diz que só pode ser gerido por uma elite nomeada pelo próprio Luís Filipe Vieira...
O que pensa de o presidente recusar debates por não querer contribuir para o ruído em torno do Benfica?
Sinto que é uma desculpa porque Luís Filipe Vieira tem medo de debater com os outros candidatos. Gostava que ele o fizesse por respeito aos sócios. Se tem obra e um projeto para o futuro, que os venha defender. Se houve uma mudança total do paradigma do futebol do Benfica ele que venha explicar porquê e o que acontecerá depois de Jesus sair daqui a dois anos e mostre qual a sua visão de futuro.