Não há Web Summit ou Euro 2004 que se compare à Eurovisão 2018
Lisboa está a viver "duas semanas bastante animadas" no que ao turismo diz respeito. Mas, as expectativa dos representantes do setor é que se traduzam em muitas mais. "Não é retorno económico, métrico do evento, o contar de cabeças. Mas os 1600 jornalistas e 500 bloggers que estão cá e que vão passar a palavra do que é Portugal, essa é a mais-valia deste evento", aponta José Manuel Esteves, secretário-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP). Só na procura hoteleira houve um crescimento de 40% nesta altura. E entre eles, tem havido "muito prolongamento de estadias", reconhece José Manuel Esteves.
Com a expectável quebra na procura, depois de um boom potenciado pelo decréscimo nos destino concorrentes (Turquia, Tunísia e Egito), a Eurovisão veio em boa altura, para manter em alta a procura turística por Portugal, refere o responsável. "Um evento one shot de aproveitamento máximo, com esta dimensão de cobertura mediática nem Web Summit, nem Euro 2004, não há nenhum que se compare à Eurovisão. Aqui há um destino, um país, uma cultura. Estamos a aproveitar, graças ao trabalho do Turismo de Portugal de forma que não há memória o trabalho com as delegações, para reforçar mercados como o alemão ou o francês e outros. E temos pessoas de 80 nacionalidades que vão transmitir uma imagem positiva de Portugal", conclui.
A RTP organiza o evento e o Turismo de Portugal investiu 1,3 milhões de euros quando trouxe os 43 concorrentes a Portugal para mostrar o país e fazer os vídeos que antecedem a apresentação de cada canção hoje, na primeira semifinal e também na quinta-feira, na segunda ronda. Em outras ocasiões cada país usa este espaço para o seu próprio "tempo de antena".
"43 minutos que valem ouro"
Cada um deste filmes tem um cerca de um minuto. "Estamos a chegar a pessoas que de outra forma não chegaríamos. Em qualquer parte do mundo, essa publicidade seria uma fortuna". "43 minutos de Portugal para 200 milhões de espectadores valem ouro". E, ao mesmo tempo, estão 30 mil pessoas em Lisboa, 27 mil das quais estrangeiros. Para um impacto que o presidente da Câmara de Lisboa já disse estimar ser de 25,6 milhões de euros.
"O nosso investimento é retorno a longo prazo", garante Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal. A aposta foi levar cada concorrente a um destino que interessa nesse mercado. Dito de outra forma: não é por acaso que Surie, do Reino Unido, foi até aos Açores, que os espanhóis foram a S. Miguel, que a finlandesa Saara Aalto esteve num clube de golfe no Algarve, o alemão Michael Schulte foi à Madeira ou os italianos Ermal Meta e Fabrizio Moro ao Porto. Falhou, apenas, "por razões de timing", a ida da australiana Jessica Mauboy à Nazaré, para promover o surf. Acabou por filmar em Alfama.
A mensagem que querem passar, segundo Luís Araújo, é de "um país aberto, inclusivo, multicultural, que se pode visitar ao longo de todo o ano, em todo o território e em grandes acontecimentos".
A outra parte do trabalho do Turismo de Portugal está à vista na sala de imprensa do Pavilhão de Portugal onde só têm acesso profissionais acreditados - 1600 jornalistas e 500 bloggers. As paredes estão decoradas com imagens das regiões portuguesas e há um stand com sofás e vídeos do país. "É daqui que são feitos muitos diretos da Eurovisão".
Também há uma crítica
Mas nem tudo são rosas. "Se tivesse que apontar alguma falha, diria que é não termos bilhetes para usar nos transportes", afirma um jornalista e fã acreditado, oriundo da Áustria, que veio a Lisboa esta semana para a Eurovisão. O mesmo disse um polaco, acrescentando que são poucos os autocarros que circulam entre o Parque das Nações, onde decorre o evento, e o centro de Lisboa - Saldanha e Terreiro do Paço - a partir do Parque das Nações.
No kit de imprensa há um Lisbon Card que dá acesso a museus e permite passear pela cidade por um dia. Um cenário diferente daquele que viveu o português Nuno Eira quando esteve na final de Viena. "Havia transportes públicos gratuitos, entrada em museus e palácios e um concerto da orquestra de Viena".
Paula Oliveira, diretora executiva da Associação de Turismo de Lisboa (ATL), lembra, ao DN, que seria "uma mais-valia mas não é crucial para o trabalho dos jornalistas".
Tudo depende do país que organiza e, claro, do bolo disponível para investir. Em Portugal, como disse ao DN o presidente da RTP, Gonçalo Reis, o valor total estará nos 20 milhões. Metade vem da EBU - European Broadcasting Union, que detém o formato televisivo Eurovisão e vive das contribuições dos membros, patrocínios e bilheteira, 20% saem dos cofres da RTP (4 milhões de euros) e o restante, além do Turismo de Portugal, vem do Fundo de Desenvolvimento Turístico e do Turismo de Portugal - 5 milhões de euros - cobrados pela Câmara Municipal de Lisboa, via taxa turística, e geridos pela ATL.
A Eurovisão, sublinha Paula Oliveira, "é o segundo evento mais importante em números de espectadores, o primeiro é o campeonato do mundo de futebol". Mas, ao contrário do Euro 2004 ou da Expo 98, "não obrigou a infraestrutura". O antigo Pavilhão Atlântico recebe os espetáculos e o Pavilhão de Portugal é uma estrutura de apoio. Os alugueres destes equipamentos custaram em torno de 2 milhões de euros e 160 mil, respetivamente, a subtrair aos 5 milhões do Fundo de Desenvolvimento Turístico.
Do orçamento saíram mais 150 mil euros para os chamados "programas sociais" das delegações, mais uma maneira de levar as imagens de Portugal lá fora já que é da praxe as televisões acompanharem os artistas em reportagem. O restante foi usado no Eurovillage e nas cerimónias como a passagem de testemunho e a abertura, no domingo, no MAAT.
Paula Oliveira acha que poderíamos organizar uns Jogos Olímpicos, mas "económica e financeiramente não sei se seria a melhor opção". Já o secretário-geral da AHRESP quer repetir. "Venham muitos festivais, se não formos nós a ganhar, que seja a Austrália e que sejamos o país convidado. Tínhamos que ir descobrir as verbas para organizar outro festival, mas o retorno é sempre muito superior ao que se gasta".
Boa noite Europa. Começa a competição
O espetáculo que todos vão ver esta noite na televisão pisou ontem o palco da Altice Arena duas vezes. Uma para um ensaio geral, a que os jornalistas puderam assistir dentro da sala, e outra para o júri e já com público real. As apresentadoras apareceram pela primeira vez em palco - e abriram com a tradicional frase: "Boa noite, Europa" -, houve pequenos clips de 40 segundos de cada país a promover uma zona de Portugal, e claro música. Dezanove países sobem ao palco para disputar a primeira semifinal e ficar com um dos 10 lugares na final de 12 de maio.
Alguns dos principais concorrentes à vitória final entram hoje em palco. Um favoritismo que já se percebeu ontem, com o entusiasmo de jornalistas especializados e fãs acreditados. No campeonato de aplausos, ganhava o Chipre, seguida de Israel. Curiosamente é este último que vai mantendo o primeiro lugar nas apostas para vencer a grande final.
Além de Eleni Foureira (Chipre) e de Netta (Israel), também pisaram o palco a República Checa e a Bulgária, mais dois números fortes candidatos à vitória, segundo os seguidores e fãs da Eurovisão. Mas, as votações só são hoje e no palco vão estar ainda Azerbaijão, Islândia, Albânia, Bélgica, Lituânia, Bielorrússia, Estónia, Macedónia, Croácia, Áustria, Grécia, Finlândia, Arménia, Suíça e Irlanda. Além dos concorrentes vão estar em palco três países que estão apurados directamente para a final: Portugal, Espanha e Reino Unido.
Do palco, nesta primeira semifinal vai chover fogo, bolas de sabão e rosas. Entre as atuações mais arrojadas está a Finlândia que canta uma parte da música às voltas numa roda de roleta.
Durante as votações, há ainda lugar a dois números de humor. Herman José no seu reconhecível David Attenborough mostra como é a espécie portuguesa. Num outro momento há o desvendar os segredos enciclopédicos da Eurovisão (ESClopedia), com dados curiosos e cómicos de participações anteriores.
Nas votações, cada país está impedido de votar em si próprio. A votação é feita por telefone, sms e via aplicação. Os votos do público são depois somados aos do júri, que já votou no espetáculo que aconteceu ontem à noite e que não foi transmitido na televisão. Cada elemento vale 50% da votação, mas em caso de empate, a escolha do público prevalece.
A segunda semifinal vai para o ar na quinta-feira, dia 10, onde outros 18 países concorrem por mais 10 lugares na final. Nesse espetáculo está também prevista a atuação dos outros três países apurados diretamente para a final (Itália, Alemanha e França).
Ainda há bilhetes para as semifinais de 8 e 10; para os espetáculos do júri da segunda semifinal, na quarta-feira, e todos os espetáculos das família, hoje, quinta e sábado.