Concluídas as audições da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao GES/BES, os partidos da oposição alinharam esta quinta-feira de manhã as primeiras conclusões, apontando os vários responsáveis pela queda do império da família Espírito Santo..Não ilibando os administradores do banco, com Ricardo Salgado à cabeça, PS, PCP e BE sublinharam que, como caracterizou a deputada bloquista, Mariana Mortágua, "o pior que pode acontecer é cair no engano que o problema do BES reside no carácter de Ricardo Salgado" ou que, como afirmou Miguel Tiago, do PCP, "tudo isto se deve à natureza de uma pessoa, ao comportamento" de um gestor..Para o PS, há cinco responsáveis identificados: Ricardo Salgado e todos os administradores do BES e do GES; os auditores externos; os supervisores, o Banco de Portugal (BdP) e a CMVM; a troika; e o Governo. Para os socialistas, pela voz de Pedro Nuno Santos, "ao governo, só faltou a acrescentar as suas próprias responsabilidades". Afinal, apontou o deputado, verificou-se "uma decisão de injeção de capital", que partiu "do governo português e do BdP". "É com dificuldade que vemos o governo repetir até à exaustão que a responsabilidade é do BdP", sublinhou, recordando as afirmações públicas do primeiro-ministro, Passos Coelho, e da ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque..Já o Bloco de Esquerda, por Mariana Mortágua, "considera que a responsabilidade do que aconteceu no BES pertence aos administradores", por terem sido "negligentes", mas também não descartou os outros atores de responsabilidades. "Houve falhas" na supervisão, com o BdP a atuar "tarde", no que "terá consequências para os contribuintes", apontou. E "há duas responsabilidades" que apontou ao Governo de Passos Coelho: "Ou envolveu-se e não o disse; ou não se envolveu de facto e isso é uma irresponsabilidade.".O comunista Miguel Tiago notou as responsabilidades dos "sucessivos governos", pelo menos desde os anos 1990, mas afirmou que "este governo específico teve responsabilidade pela inação". "Sabia que estava um banco a colapsar, que um grupo estava em dificuldades" e nada fez para o evitar, acusou..A deputada bloquista e o parlamentar comunista recordaram ainda a intervenção do Presidente da República, "15 dias antes do colapso", ao avalizar a confiança no BES, para o acrescentar ao rol de responsáveis políticos. Miguel Tiago lembrou mesmo que não foi possível obter respostas de Cavaco Silva pela CPI..A estes intervenientes nacionais, PS, PCP e BE acrescentaram ainda a troika, cujo acompanhamento do sistema financeiro falhou. Talvez com uma motivação, atiraram os deputados da oposição. "Se calhar a troika não podia dizer que um dos principais bancos estava a colapsar", sublinhou Miguel Tiago, porque "estava a reconhecer o próprio falhanço do programa de ajustamento". Também Pedro Nuno Santos, lembrando que o país "estava num quadro de ajustamento, que terminou em maio", questionou se não interessaria - o verbo é do socialista - "que o problema não tivesse sido detetado antes"..Às falhas da supervisão e do sistema financeiro, todos apontaram a necessidade de avançar com iniciativas legislativas. O PS disse que está a ponderar avançar com "um conjunto de propostas que tenham sido suficientemente maturadas e refletidas". Sem abrir o jogo, Pedro Nuno Santos adiantou que essas iniciativas poderão incidir sobre "empréstimos de conglomerados complexos" ou "coordenação de supervisores", entre outros. O BE recordou as várias propostas que já colocou na mesa, não descartando a possibilidade de avançar com outras e o PCP recordou que já teve uma iniciativa chumbada em plenário..Às conferências de imprensa da oposição, o PSD reagiu marcando também uma, em cima da hora, para apontar o dedo a socialistas, comunistas e bloquistas, acusando-os de "chicana política". Afinal, justificou Carlos Abreu Amorim, "houve um intervalo lúcido", que foram os trabalhos da comissão, com os grupos parlamentares a cooperarem, e "agora" que terminam esses trabalhos "parece haver mudança de estratégia". O dedo social-democrata foi apontado sobretudo ao PS.