"Não" a Artur Mas obriga a novas eleições na Catalunha

Após três meses de diálogo, CUP decidiu que os dez deputados que tem no Parlamento catalão não vão apoiar a reeleição do presidente da Generalitat
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Artur Mas acaba de perder a última oportunidade de ser reeleito presidente da Generalitat, depois de o conselho político da Candidatura de Unidade Popular (CUP, anticapitalista e independentista) ter votado contra a sua investidura. O prazo para nomear um novo chefe do governo catalão acaba no dia 10 e se não houver surpresas até então, o Parlamento será dissolvido e serão convocadas novas eleições autonómicas - as quartas em pouco mais de cinco anos. Um revés para o processo independentista.

"Existe uma maioria para avançar para a independência, mas não uma maioria para concordar com um candidato", disse um dos dez deputados da CUP, Sergi Saladié. "Dissemos que não a quem tínhamos que dizer que não", acrescentou a deputada Gabriela Serra, pedindo ao Junts pel Sí (coligação independentista que ganhou as eleições mas ficou a dois deputados da maioria) para propor outro candidato. "Ele disse que nunca seria um obstáculo para avançar para a independência", lembrou Saladié, referindo-se a Artur Mas.

Após a negativa da CUP à reeleição do presidente da Generalitat, o cenário mais provável é a realização de novas eleições. Mas ainda pode haver surpresas. Para evitar nova ida às urnas, que poderia minar o processo independentista, o Junts pel Sí pode aceitar a proposta da CUP e apresentar outro nome para o cargo. Contudo, até agora sempre defendeu que este era um cenário impossível, sendo a candidatura de Mas inegociável.

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A decisão tem que ser tomada rapidamente, já que 10 de janeiro é o prazo limite para investir um novo presidente, sob pena de dissolução do Parlamento. Caso Artur Mas não desista, o Junts pel Sí pode simplesmente decidir não convocar uma nova votação no Parlamento (sabendo que não tem o apoio necessário) ou arriscar que a divisão que o debate causou dentro da CUP possa provocar a rebeldia de alguns dos seus deputados.

O Junts pel Sí elegeu 62 representantes nas eleições de 27 de setembro e, sem contar com os dez deputados da formação anticapitalista, as outras forças políticas no Parlamento contam com 63 votos. Artur Mas só precisa que dois rebeldes rompam a disciplina de voto da CUP e o apoiem para ser investido.

Caso o cenário seja mesmo de avançar para eleições em março, também não é certo que se consiga reeditar a coligação Junts pel Sí - que uniu Convergência Democrática da Catalunha (CDC) de Artur Mas, Esquerda Republicana (ERC) de Oriol Junqueras e uma série de organizações da sociedade civil. Nas eleições gerais espanholas, CDC e ERC concorreram separadas e esta última conquistou mais um deputado do que a coligação da qual fazia parte o partido de Mas. Junqueras pode por isso querer arriscar uma candidatura a solo. "Nunca nos cansaremos, nunca abandonaremos, nunca nos renderemos. Nunca o fizemos. E nunca o faremos. Continuamos", afirmou Junqueras no Twitter. O partido reúne hoje a direção.

O processo também deixou cicatrizes dentro da CUP, uma formação que funciona a partir das decisões das bases em assembleias e que teve uma votação recorde em setembro. Após três meses de diálogo e de negociações que terminaram com uma votação renhida, os eleitores podem castigar a formação. Apesar de este ter mantido a posição que teve sempre desde o início, até mesmo na campanha, de não apoiar Artur Mas. António Baños, o líder da CUP no Parlamento, estará a planear demitir-se.

À espera das eleições

"Sairemos disto todos juntos. Já perdemos tempo, dinheiro e oportunidades suficientes na Catalunha com este debate que nos divide", escreveu no Twitter a líder dos Ciudadanos na Catalunha, Inés Arrimadas, que foi a segunda mais votada em setembro a seguir ao Junts pel Sí.

"Novas eleições são o mal menor", defendeu a deputada do PP, Andrea Levy, dizendo que chegou a hora de "virar a página". O partido voltará a apostar na candidatura de Xavier García Albiol (quinto nas autonómicas), que Levy apresentou como referência contra a "independência" e "contra uma possível aliança entre o Partido Socialista da Catalunha [PSC] e o Podemos".

A porta-voz do PSC, Esther Niubó, assegurou que esta situação é o "fracasso político" do projeto soberanista, acusando Mas de ser o máximo responsável. Os socialistas foram terceiros nas autonómicas de setembro, à frente do candidato apoiado pelo Podemos. O partido de Pablo Iglesias espera melhorar a votação, após ter sido o partido mais votado na Catalunha nas gerais gerais espanholas. Lluis Rabell, que foi o cabeça de lista do Catalunya Sí que es Pot insiste na ideia de um referendo sobre a independência.

Sondagem

A maioria dos catalães (56,3%) ouvidos por uma sondagem da NC Report, publicada ontem no La Razón, defendia novas eleições na Catalunha. O inquérito foi realizado entre 28 e 31 de dezembro, a partir de 1255 entrevistas telefónicas em 53 municípios catalães, que revelaram que mais de metade dos entrevistados (58,2%) considerava que a CUP não devia apoiar Mas. Na opinião de 77%, os três meses de "desgoverno" prejudicaram a Catalunha.

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