Nanni Moretti. "O meu ponto de partida é sempre um sentimento autobiográfico"
No filme Minha Mãe, junta dois aspetos fundamentais da sua filmografia - a intimidade e a política. A exposição da intimidade nos seus filmes funciona como uma catarse?
Este filme tem as suas raízes nas vicissitudes de um acontecimento pessoal. Quando estava a trabalhar no Habemus Papam (2011), a minha mãe ficou doente e depois morreu. Se me pergunta se fazer este filme me ajudou fazer o luto, a resposta é não. O cinema, para o realizador, não funciona como autoterapia, pelo menos no meu caso. A parte íntima, como lhe chamou, tem certamente uma função muito importante neste filme. É um filme que não se centra numa exibição da força de realização, num exibicionismo de realizador. Centra-se nas pessoas, na sua humanidade, nas suas emoções.
Em todos os seus filmes, as pessoas e as emoções são centrais. Como parte para um projeto, para uma nova história?
Há sempre no ponto de partida um sentimento autobiográfico, no meu confronto comigo mesmo, nos meus confrontos com os outros, com a sociedade. Ou então na origem estão as minhas manias, os meus tiques, as minhas neuroses. Mas quando estou a escrever o argumento as personagens assumem uma personalidade própria, em que eu já não caibo. Neste filme, o núcleo inicial tinha uma realizadora que está a fazer o seu filme e ao mesmo tempo quer acudir à sua mãe que está doente.
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Há uma indicação que a realizadora dá aos atores que é: um ator deve estar dentro e ao mesmo tempo à parte da sua personagem. O que é que isto quer dizer?
Não é que eu diga isso aos meus atores...
Não?
Não. Mas penso-o muitas vezes. Não me entusiasmam aqueles atores que mergulham a tal ponto no seu papel que desaparecem como pessoas. Como espectador, gosto de ver a interpretação do ator, mas também gosto de ver a pessoa que está a interpretar.