Nani até fez de Ronaldo mas continua a faltar meio-campo
A seleção de Portugal está em vias de sair do Mundial de futebol depois do empate com os EUA (2-2), mostrando muitas fragilidades. Neste jogo, começou a ganhar com alguma sorte, num golo "oferecido" pela defesa norte-americana, e no entanto nunca conseguiu ter o controlo das operações. É certo que poderia ter aumentado a vantagem que tinha antes do intervalo, quando Nani disparou ao poste, mas antes e depois foi a maior disciplina tática da equipa de Klinsmann que mais tempo mandou em campo.
Na equipa portuguesa voltou a triunfar o voluntarismo. O meio--campo não tem estrutura nem peso para assumir a gestão do jogo, e isso é fatal a este nível, sobretudo quando Cristiano Ronaldo é um homem como os outros. Não fora as excelentes exibições do guarda-redes Beto, dos centrais Ricardo Costa e Bruno Alves e de Nani, muito bem quer a atacar quer a defender, e tudo poderia ter sido pior.
O apuramento passou a ser uma ténue possibilidade, nesta equipa que continua a ser vergastada por lesões musculares (e vão dez!, contando agora também Postiga e André Almeida). Será preciso ganhar ao Gana e que a Alemanha vença os EUA. Isso até é teoricamente muito possível, mas o problema será recuperar a diferença de golos que vem da goleada sofrida na primeira jornada. É preciso haver muitos golos nessas vitórias que nos são imprescindíveis - e, por isso, com realismo, deve admitir-se que o provável é a seleção nacional ficar pelo caminho.
Portugal até fez uma boa entrada em jogo, com vontade. O golo de Nani, logo aos cinco minutos, resultou de um falhanço da defesa dos EUA, após um cruzamento que parecia inofensivo de Miguel Veloso. Só que esse lance, paradoxalmente, mudou o jogo.
A equipa de Klinsmann aproveitara a lesão de Altidore para entrar com um avançado a menos. Trocara o 4x4x2 habitual por um maior povoamento do meio-campo (4x5x1). A perder, imediatamente Bradley passou a jogar mais perto de Dempsey, o avançado - e a equipa de Portugal passou a ser facilmente permeável. Esse foi um período em que Beto mostrou segurança e tranquilidade na baliza e Paulo Bento se viu obrigado a fazer uma substituição: saiu Hélder Postiga, que nem tempo teve para se mostrar, e entrou Éder.
O resto da primeira parte foi de predomínio quase total dos EUA, excetuando os dois minutos finais.
Como habitualmente, Portugal tem tendência a desunir-se muito cedo e a não "fechar" bem os caminhos a meio-campo quando perde a bola. Cristiano Ronaldo parece, de facto, fisicamente melhor, mas, quando a equipa perde a bola, fica na frente, pouco móvel, ao lado do ponta-de-lança. Dessa forma, a compensação sobra totalmente para Nani, que neste período fez a diferença. Além do golo, marcado com muita calma, Nani ainda conseguiu duas oportunidades, numa das quais rematou ao poste (44), com violência, de fora da área, tendo faltado depois convicção a Éder na recarga, que saiu fraca e permitiu mais uma boa defesa ao guarda-redes Howard.
Ao intervalo, André Almeida, em dificuldades físicas evidentes desde os 15 minutos, saiu mesmo. Aguentou até ao limite, talvez para a equipa não "queimar" a segunda substituição cedo demais, e a reconstrução fez-se com a esperada entrada de William Carvalho, o que levou Miguel Veloso a voltar a um lugar (defesa-esquerdo) de que não gosta. Mas teve de ser. Com ironia, os acontecimentos obrigaram Paulo Bento a dirigir a equipa que não quis apresentar desde o início... E a verdade é que essa equipa também não foi melhor do que a inicial, dando alguma razão ao treinador. Sobretudo Éder esteve muito apagado, e lento.
A seleção nacional voltou a ter sorte ao minuto 54, quando Ricardo Costa retirou em cima da linha de golo a bola rematada por Dempsey. Mas o empate, que esteve muitas vezes nas entrelinhas do jogo, aconteceu num esplêndido remate de Jones (64), sem hipótese para Beto. E esse lance trouxe, de facto, justiça ao marcador pelo que se passara até então.
Só então Portugal voltou a despertar. Logo no minuto seguinte, Raul Meireles esteve perto do golo. E Paulo Bento também não demorou a fazer a sua obrigação, lançando Varela. Alargou-se a frente de ataque e Ronaldo passou a jogar mesmo ao lado de Éder. A equipa melhorou mesmo e pressionou ao máximo a defesa norte-americana. Podia ter marcado. Teve possibilidades para isso. Mas infelizmente não chegou. Ao contrário, sofreu um golo marcado com a barriga, e se não fosse o providencial Varela, esta aventura no Brasil estaria já terminada.