Na ponte somos todos campeões

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Hoje, a partir das 10.30, comemora o 15.º aniversário com a presença dos campeão olímpico, o italiano Stefano Baldini, o recordista do mundo, o queniano Paul Tergat, e um pelotão da elite mundial, à frente de 35 000 atletas amadores onde constam o Presidente da República e o recém-empossado primeiro-ministro.

Uma corrida preparada a pensar em recordes do mundo, mas também nos atletas anónimos de pelotão, num dos poucos eventos desportivos que colocam no mesmo patamar o cidadão anónimo e o atleta de elite.

Portugal, com menos de 10% de pessoas a praticar desporto, está muito longe da média europeia, que se encontra a cima dos 20%. A Meia-Maratona de Lisboa tem procurado contrariar esses números, capaz de provar que os portugueses gostam de praticar desporto.

Na primeira edição, em 1991, participaram "apenas" 3000 atletas. Depois, ano após ano, os recordes de participantes não pararam de ser batidos 10 000, 15 000, 20 000, 25 000, 30 000 e 35 000. Marca igual à participação das maratonas de Londres e Nova Iorque, para além da qual a organização não pretende ir, sob pena de perder qualidade. Se nas primeiras edições a preocupação era aumentar o número de participantes, agora é manter a qualidade organizativa.

história. A ideia de organizar uma grande corrida internacional em Lisboa surgiu na mente de Carlos Móia, nos finais dos anos 80, quando, para perder peso, este empresário de restauração decidiu começar a fazer umas corridas de manutenção com o seu amigo Lucas Pires. Rapidamente, apaixonou-se pela corrida que o levou a correr em 12 maratonas internacionais.

O fundador do Maratona Clube de Portugal lançou o repto aos seus mais próximos colegas de equipa e amigos de corrida, onde constava o antigo internacional do Sporting, Rafael Marques, e Reinaldo Gomes, um atleta amador "Porque não organizar uma meia-maratona em Lisboa com passagem pela ponte 25 de Abril?"

A ideia não era nova. Já tinha sido tentada por outros, mas com pouco sucesso. O Ginásio Clube Português organizou uma prova na ponte 25 de Abril denominada Ponte a Pé, que foi abandonada logo à segunda edição. Portugal, país de fundistas, esbarrava com todo o tipo de dificuldades. Desde questões de segurança na ponte, até falta de patrocínios para organizar um evento verdadeiramente internacional. É nesta fase de arranque que a determinação de Carlos Móia superou a inércia nacional. "Pedi audiências a Mário Soares, Presidente da República. Procurei sensibilizar o primeiro- ministro Cavaco Silva, antigo praticante de atletismo. Pedi apoios a Jorge Sampaio, na altura presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Todos adoraram a ideia, mas as dificuldades surgiram de onde menos se esperava. Ninguém queria assumir os riscos de colocar duas, três mil pessoas a passar a ponte. Foi preciso a empresa americana, construtora da ponte, garantir que não havia problemas para a estrutura".

Nessa altura é que Carlos Móia sentiu a "alhada" em que se tinha metido. "Rapidamente formei uma equipa e convidei para a direcção técnica da prova Mário Machado, o homem com mais experiência de organização de corridas em Portugal". Realizou um périplo nacional para angariar patrocinadores. "Estava tudo por fazer. Mas nada poderia falhar. Depois de tanto bater a portas era uma vergonha. A prova foi um sucesso". A campeoníssima Rosa Mota venceu a corrida feminina e o britânico Paul Evans venceu em masculinos... mas sem africanos.

Para se chegar à qualidade organizativa que lhe deu o título de "melhor meia-maratona do mundo", para além da presença dos melhores fundistas mundiais, é necessário realizar um trabalhar que começa muitos meses antes do tiro de partida. "Tudo tem que arrancar muitos meses antes. Quando acaba de terminar um edição, começamos logo a preparar a do ano seguinte. Há um trabalho de bastidores, invisível, que só perceptível pelos números que envolvem uma prova com 35 000 participantes", conclui Carlos Móia.

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