Na minha cama com ela

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Desde que o PS começou a dormir com a esquerda, que não se augura nada de bom para o país.

António Costa, no seu habitual modo cachaceiro-bruto, disse há uns tempos que "no dia em que a sua subsistência depender do PSD, este governo acabou". Desde então, o PS e António Costa têm-se desdobrado numa série de galanteios e encantamentos à esquerda radical para que esta viabilize os sucessivos orçamentos e patrocine a manutenção de António Costa no poder. Mas a que custo? O que representa, verdadeiramente, ver o PS ceder, ano após ano, às exigências da esquerda para garantir a sua própria sobrevivência? Que custo é que isto tem para o país e para o Estado de direito democrático que construímos ao longo das últimas décadas? Vale tudo para evitar uma crise política? O Presidente da República continuará a assistir a isto impávido?

Não deixa de ser curioso que António Costa tenha sacado da cartola, à última hora, uma enxurrada de putativos sucessores para evitar ver, no futuro, Pedro Nuno Santos ao comando do Partido Socialista, mas esteja disposto a ceder às cada vez mais exigentes demandas do Partido Comunista para subsistir.

No passado domingo, ouvia com atenção o discurso de encerramento do Congresso do PS. Durante 45 minutos não ouvi uma palavra de incentivo à iniciativa privada. Não consegui descortinar qual é, afinal, o modelo de crescimento económico que António Costa pretende prosseguir para o futuro. Perante todo aquele
espetáculo de propaganda, só consegui antever um país cada vez mais assistencialista, cujas estruturas económicas e sociais dependerão cada vez mais da máquina do Estado.

Recentemente, fomos presenteados com algumas notícias que, apesar de positivas, escondem outras realidades verdadeiramente preocupantes e que são o reflexo da política de dependência do Estado que o PS tem levado a cabo, mas que a longo prazo, não trazem nada de positivo para o país.

A título de exemplo cita-se a descida da taxa de desemprego e o aumento de 4,9% do PIB no segundo trimestre deste ano. Dir-me-á: "são excelentes notícias".

E se em relação ao emprego, uma parte substancial da criação de emprego estiver acoplada ao Estado e tiver sido conduzida pelo próprio governo? Segundo dados publicados por este mesmo jornal, o emprego total tinha colapsado, não fosse a subida recorde de funcionários públicos em Portugal. Mais, a taxa de desemprego dos jovens entre os 16 e os 24 anos está em 23,5%, mais 4,8 pontos percentuais do que o valor pré-crise. Dados do INE indicam que o número de jovens empregados é hoje inferior ao número pré-crise em 23 mil. Um outro grupo profundamente afetado pela crise, e que não aparece quando olhamos para os números agregados, é o dos trabalhadores sem qualificações. Dados do Inquérito Trimestral ao Emprego referem que o número de empregos sem qualificações caiu em 103 mil.

A propósito da notícia acerca do crescimento do PIB, é importante sublinhar que a economia sofreu a maior queda do PIB no primeiro trimestre deste ano. Com os sucessivos desconfinamentos do segundo trimestre, que contrastam com o primeiro semestre de absoluto caos pandémico, não é difícil crescer. Os dados dizem-nos ainda que para o atual aumento do PIB contribuiu, em larga medida, a procura interna, mas a procura externa líquida permanece, ainda assim, negativa. Apesar dos dados animadores, estamos demasiado dependentes do consumo privado e público.

Ainda a propósito do Congresso do PS, e do "pisca-pisca" à esquerda, o desespero para agradar ao Partido Comunista é tanto que António Costa defendeu a criação de um contrato permanente entre empresas e serviços de trabalho temporário, ou entre estas e os respetivos trabalhadores. Um verdadeiro disparate que até o BE veio a público ridicularizar.

Ouvimos ainda falar de uma nova geração de políticas de habitação, mas nem uma palavra de incentivo aos investidores privados, cujo papel é fundamental no aumento da disponibilidade e conservação do parque habitacional. Aliás, a única notícia que este governo tem para os proprietários é que a tributação sobre as rendas manter-se-á no absurdo valor de 28% (que em 2011 era de 21,5%) e que, com muita probabilidade, manterá congelada a atualização das rendas relativas a contratos anteriores a 1990, compelindo os proprietários a substituírem-se ao Estado e às suas obrigações sociais e pervertendo toda a lógica do mercado imobiliário. Mais uma vez, a solução agora passará por despejar uns brutos milhões do Estado na habitação e por correr atrás do prejuízo.

Esperemos que estes dates com a esquerda não terminem em casamento.

Deputada do PSD

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